Nesta nossa cobertura carnavalesca, temos um texto do amigo Eduardo, mais conhecido como “Dudu Tamborim”, que é amigo de listas de discussão pela internet e que escreveu graciosamente uma espécie de “Guia Básico de Bateria”.

No site de carnaval do iG há um aplicativo onde o leitor pode ver o som de cada instrumento separadamente e em conjunto. Sensacional. Nos vídeos – de autoria de Fabrício Gomes e que são, respectivamente, de União da Ilha, Império da Tijuca e Império Serrano, todos 2010 – o leitor terá uma boa medida do que se explana no texto. Não deixe de assisti-los.

Vamos à nossa aula.
Bateria para Dummies

Oi!

Bom, a pedido do Migão vou tentar explicar bem por alto, para os leigos, o funcionamento de uma bateria. Antes, deixa eu me apresentar: me chamo Eduardo, tenho 27 anos, vascaíno e torcedor da Caprichosos de Pilares, onde desfilo desde 2006. Desfilo também no Salgueiro desde 2009.

Uma bateria é composta, basicamente, pelos seguintes instrumentos: surdos, caixas, repiques, tamborins, chocalhos e cuícas. Alguns outros instrumentos podem aparecer, como, por exemplo, agogôs (Império, Portela, Grande Rio, etc), tantãs (Imperatriz), pandeiros (Caprichosos), raspadeiras (Mocidade) e por aí vai.

Os surdos também são chamados de “marcações”, e, como sugere o nome, marcam os compassos do samba. Tudo (ok, entre aspas, já que o ideal é que a bateria passe certinha) pode embolar, menos as marcações. Porque aí desanda tudo. São elas que dão sustentação tanto pro carro de som como pra toda a Escola cantar.

São divididas ainda em primeira e segunda (que fazem a marcação propriamente dita) e terceira, que faz os cortes e dão balanço à bateria. Uma vez o mestre Paulinho Botelho (ex-Caprichosos e ex-Beija-Flor, atualmente auxiliando mestre Marcão no Salgueiro) brincou dizendo que o surdo de terceira é o fofoqueiro: fica se metendo na conversa entre a primeira e a segunda.

As caixas sustentam o samba e variam de batida de Escola pra Escola. Hoje em dia, infelizmente, as baterias têm perdido essa identificação de batida própria. A maioria das Escolas toca no estilo da Estácio de Sá. Algumas, como Mocidade, Estácio, Salgueiro, Mangueira, Portela e Império ainda procuram preservar esse modo próprio de tocar.

Os repiques têm uma particularidade. Embora uma bateria conte com vários, apenas alguns poucos deles fazem a “subida” da bateria. Os demais passam soltos, brincando dentro da bateria, ou “gargalhando”, como falam alguns.

Os tamborins são responsáveis pelo desenho rítmico da bateria. Cada samba tem um desenho diferente. Foi o instrumento talvez que mais mudou o modo de se tocar com o passar dos tempos. Antes, com a mesma mão que se segura o tamborim, o ritmista usava um dedo pra fazer o contra-tempo. Com o tempo, as baquetas de bambu, que quebravam facilmente, foram substituídas por materiais mais resistentes e o carreteiro foi ficando mais “limpo”; é mais fácil escutar com clareza as batidas dela no tamborim. Porém, não se pode falar que esse modo mais “limpo” seja o correto, já que varia de bateria pra bateria. Cada Escola tem o seu modo tradicional de tocar.

Os chocalhos e as cuícas dão um toque especial às baterias. Os primeiros vêm seguindo uma tendência de serem coreografados.

Uma bateria do Grupo Especial desfila com aproximadamente 36 marcações, 100 caixas, 30 repiques, 36 tamborins, 24 chocalhos e 24 cuícas. No Grupo de Acesso A, o número tende a cair um pouco: 32 marcações, 80 caixas, 28 repiques, 30 tamborins, 20 chocalhos, 12 cuícas. Isso, claro, em valores aproximados.

Independente do grupo, a organização da bateria se divide em duas: peças leves e peças pesadas. As pesadas, que formam a “cozinha” da bateria, são compostas das marcações, das caixas e dos repiques, e ficam misturadas, seguindo um critério que depende do mestre. As leves são compostas pelos tamborins, chocalhos e cuícas, e são dispostas em fileiras.

Embora um desfile de Escola de Samba no Grupo Especial dure 82 minutos, uma bateria toca muito mais que isso. O trajeto começa, muitas vezes, ainda na esquina da Av. Presidente Vargas, onde a bateria se prepara para esquentar em frente ao Setor 1. Embora ali ainda não conte pontos, é considerado por muitos o “termômetro” da Avenida. Ali é que está o povo, já que é uma arquibancada popular. Começar bem ali é fundamental.

Depois, a bateria passa um pouco à frente do primeiro recuo e faz uma pequena apresentação ao Setor 3, e se vira para fazer a manobra pra entrar no Box. Então o intérprete canta um samba de esquenta, a bateria acompanha e só então os 82 minutos de desfile começam a ser contados.

E quando a bateria passa na linha de FIM do desfile, aí sim ela está autorizada a parar; e mesmo assim, alguns mestres ainda fazem uma pequena apresentação para os outros 2 setores populares: o 6 e o 13.

É complicado falar de música apenas com palavras, e não tendo conhecimentos musical teórico, mas espero que tenham gostado.

Um feliz carnaval a todos!”

One Reply to “Bateria para Dummies”

  1. Bom texto.

    Eu ultimamente sou fã da Bateria da Imperatriz. Ótimo swing e cadência.

    Depois dela Mocidade e União da Ilha.

    No acesso Estácio e Império Serrano.

    Ao meu ver as melhores baterias do Rio atualmente.

    E outra, não gosto de bateria que fica fazendo dança, passinho e firulas (ao meu ver) desnecessárias.

    Outras que não irei citar nomes, andam aceleradíssimas, não é a toa que isso anda refletindo nas notas.

    Bateria de escola de samba é uma coisa linda, não existe nada igual no mundo.

    Aquela união de instrumentos produzem algo único.

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