Sem dúvida alguma, o assunto palpitante da última semana foi a crise na Polícia Civil carioca, com a prisão de delegados da cúpula da instituição e depois a queda de toda esta na chamada “Operação Guilhotina”, da Polícia Federal.
Os mandados de prisão visavam prender policiais envolvidos em crimes como roubo, corrupção e em proteção a traficantes – dos quais Nem, o chefe do tráfico na favela da Rocinha e considerado o principal “dono de morro” em liberdade hoje.
Posteriormente, o ex-chefe de Polícia Civil Alan Turnowski foi exonerado e indiciado por estar envolvido no repasse e vazamento de informações sobre a operação. Seu braço direito, o sub chefe operacional Carlos Oliveira, foi preso acusado de fazer parte de uma quadrilha que desviava armas apreendidas em operações para traficantes e milicianos.
Como consequência desta operação da Polícia Federal, toda a cúpula da Polícia Civil do Rio de Janeiro foi afastada e iniciou-se não somente uma sangrenta luta pelo poder quanto uma série de “denúncias em cascata”, envolvendo a corporação em um mar de lama.
A primeira vítima foi o delegado titular da Draco – Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas – Cláudio Ferraz, que é acusado de ter sido o delator dos colegas à Polícia Federal e que teve a delegacia lacrada por ordem do ex-Chefe.
Se o leitor não está ligando o nome à pessoa, Ferraz é um dos autores de “Elite da Tropa 2”, livro sobre as milícias – e as polícias – e que resenhei aqui. O livro também deu origem ao sucesso “Tropa de Elite 2”, arrasa  quarteirão dos cinemas brasileiros.
Policiais militares que sigo no Twitter afirmaram, de forma pública, que algumas das histórias do livro faziam parte da “Operação Guilhotina” e foram vazadas pelo delegado no livro. Realmente, como comentei na resenha, algumas histórias relatadas são muito próximas de casos famosos – o que leva a crer que foram colocadas ali de propósito.
Um ponto que a operação e seus corolários deixam claro é como o crime está entranhado nos órgãos que deveriam combatê-lo. Nos dias seguintes, diversas denúncias de corrupção e de crimes atribuídos a policiais surgiram na imprensa, entre elas: propina de R$ 100 mil mensais para manter aberto o “Camelódromo” da Rua Uruguaiana, no Centro do Rio, a tentativa de assassinato do contraventor Rogério Andrade (patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel), crimes diversos e a atuação de milícias.
Por outro lado, surgiram diversas denúncias referentes à recente ocupação do Complexo do Alemão, não somente do “butim” encontrado – o local foi apelidado sugestivamente de “Serra Pelada”, em referência ao garimpo – como de ocorrências referente à facilitação da fuga dos principais traficantes do complexo de favelas.
Outra situação preocupante foi a afirmação do delegado Ferraz de que os dados do “Disque Denúncia” não somente não são sigilosos como maus policiais em acesso aos dados dos denunciantes – utilizando-os para intimidar os mesmos.
O Disque Denúncia é um serviço de auxílio às polícias, mantido pela iniciativa privada, que tem como objetivo coletar dados sobre crimes. O sigilo é garantido teoricamente, mas pelo visto é apenas teórico. PMs no twitter afirmaram a mesma coisa, que o sigilo é uma peça de ficção. E isto é altamente problemático.
Parece claro, também, que brevemente haverá operação semelhante na Polícia Militar, que tem muitos de seus membros envolvidos notoriamente em práticas criminosas. Isso era comentado de forma aberta por integrantes da corporação, inclusive com referências jocosas ao número de presos – do tipo “vai precisar da Praça da Apoteose para servir de cadeia” e coisas do tipo.
Também deve-se estranhar a conduta do Secretário de Segurança José Mariano Beltrame, que alegou que não tinha conhecimento de nada mesmo com auxiliares diretos e de confiança envolvidos em crimes. Caso curioso de miopia… 
Um pouco complicada de comprar esta versão, a meu ver. Mas…
Sem dúvida alguma, minha expectativa é de que esta iniciativa da Polícia Federal, além de explicitar a briga pelo poder no comando da Segurança Pública carioca, possa empreender um debate sobre como diminuir a incidência e o envolvimento das forças de segurança com o crime. Também deve-se notar o envolvimento de esferas mais influentes de poder com atividades ilícitas e buscar uma forma de prevenir este fenômeno.
Será o tema de um próximo post.
(Fotos: O Globo)