Mais um domingo e mais uma coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro. O tema de hoje é o “endeusamento” feito pelos clubes brasileiros e sul-americanos do Mundial de Clubes, onde o Internacional de Porto Alegre foi eliminado de forma surpreendente pelos congoleses do Mazembe (foto acima).
Aproveito para afirmar que não concordo com a forma que a CBF está utilizando para validar os títulos brasileiros anteriores a 1971. Melhor seria equiparar a Taça Brasil à Copa do Brasil, e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa ao Campeonato Brasileiro. Do jeito que estão fazendo, ficou uma salada.
Assim é, se lhe parece

A CBF surpreendeu a todos ao validar títulos de campeonatos brasileiros do tempo em que nem ela própria existia. Torneios disputados com diferentes regras, participantes e repercussão passaram a valer, todos, a mesma coisa. Já que a CBF pode, eu também posso. Eu tenho uma ideia genial para o campeonato brasileiro daqui para a frente.

A coisa vai funcionar assim: cada uma das regiões brasileiras indica o melhor time de seus campeonatos regionais. O campeão do Norte enfrenta o campeão do Centro-Oeste. O vencedor desta partida enfrenta o campeão do Nordeste. O vencedor desse segundo jogo enfrenta o campeão do Sul. E o vencedor desse terceiro jogo enfrenta o campeão do Sudeste, que por ter times mais qualificados fica esperando os times das outras regiões se resolverem. Diz a lógica que os times do Sul normalmente vencerão o terceiro jogo e farão a partida final contra o campeão do Sudeste. O vencedor desta partida será proclamado campeão brasileiro.

O torneio vai ser disputado na Costa do Sauípe, para incrementar o turismo local. No intervalo das partidas, outros eventos entreterão os torcedores que forem para lá pagando o pacote de viagens a peso de ouro. Em uma semana, a gente fica sabendo quem é o campeão brasileiro e podemos tratar de coisas mais importantes. E esse título será, dentre todos, o mais valioso da história do clube, do qual seus torcedores irão se orgulhar por muitos e muitos anos.

O leitor concorda? Pois saiba que esse modelo de campeonato é o que dá direito a um time a se intitular “Campeão do Mundo”, por conta de um torneio igualzinho a esse onde o Inter acaba de fracassar. O Fluminense lutou o ano inteiro, enfrentou 38 partidas em mais de oito meses, com times do mesmo nível que ele, para somente então poder soltar o grito de campeão. Mas se o Inter tivesse vencido os divertidos africanos e depois conquistado o torneiozinho das arábias, era ele, e não o Fluminense, o grande vencedor do ano no imaginário do torcedor brasileiro.

Eu fico me perguntando em que momento a gente perdeu a capacidade de atribuir às coisas o seu devido valor ou se deixou contaminar pelo blábláblá da imprensa festiva. Até hoje ainda tem flamenguista que se incomoda porque a CBF não reconhece o título da Copa União como “legítimo”. Quer dizer que o Flamengo vence um campeonato duríssimo, contra os grandes rivais de sempre e tem torcedor que acha que a conquista só vale se a CBF abençoar?

O caso dos tais “mundiais” e mesmo da Libertadores me parece ainda mais grave. Tem um monte de time nesse torneio sul-americano que não jogaria a Série C do Brasileirão, mas ainda assim parece ser mais valorizado ganhar dessas babas do que derrotar o São Paulo ou o Corinthians. Mas pelo menos na Libertadores há uns dez times com alguma classe, embora seja um campeonato bem mais fácil do que o Brasileiro. Aliás, vamos ser sinceros, é mais difícil ser campeão paulista ou campeão carioca do que campeão da Libertadores, por conta do número de partidas disputadas e da quantidade de reais candidatos ao título.

Agora, no chamado “Mundial”, façam-me o favor! Os times europeus chegam lá na mesma condição que o hipotético campeão do Sudeste chegaria na Costa do Sauípe – como só tem vaga para um, muitos timaços ficam de fora e eles estão cansados de saber que os rivais que enfrentarão são claramente inferiores, por isso nem dão muita bola.

Portanto, de duas, uma: ou reduzimos o campeonato brasileiro a uma semaninha na Costa do Sauípe e aí ficamos quites, ou vamos parar com essa bobagem de endeusar o enganoso Mundial de Clubes. Será que nunca vamos nos livrar do complexo de vira-latas?”

One Reply to “Bissexta – "Assim é, se lhe parece"”

  1. Fala Walter.

    Cara, mais ou menos, né? Uma coisa é essa palhaçada da CBF em colocar no mesmo nível alhos a bugalhos. Isso nem merece comentário esportivo, porque sabemos que foge à esfera esportiva. É político.

    Outra coisa é desqualificar um torneio, que para chegar lá requer uma longa caminhada. Sabemos que ganhar uma Libertadores não é garantia de ser o melhor time sul-americano, porque é um torneio eliminatório, portanto, nem sempre os melhores chegam lá. Mas com certeza para chegar lá, não pode ser um time qualquer. Do lado europeu,disputa outro torneio duríssimo. Não vou nem comentar sobre os outros, porque a disputa estará sempre entre o sul-americano e o europeu. Acrdito que a disputa já tenha evoluído quando tínhamos apenas uma partida. Agora ainda entram mais 2 times. É um grande torneio sim, inclusive sendo bem mais valorizado pelos times europeus.

    Para ser campeão do mundo por uma seleção, disputa-se apenas 7 jogos, e é um título lembrado eternamente.

    Atravessar o oceano para disputar um título mundial de clubes, é para poucos. Parabéns ao Inter, São Paulo, Flamengo, Cruzeiro e outros que já fizeram isso. E parabéns aos que voltaram com a Taça no avião…

    Abraços,
    Gustavo M. Gois

Comments are closed.