O leitor já teve a oportunidade de conferir aqui dois capítulos do lançamento editorial mais badalado deste ano: o novo livro da série “Elite da Tropa”, inspiradora dos filmes “Tropa de Elite”.
Mais cedo o leitor viu a resenha do filme. Agora trago a do livro.
Algumas histórias do livro estão presentes no filme, mas são duas obras diferentes, com começos diferentes, histórias diferentes e especialmente finais diferentes. Até porque como escrevi mais cedo o filme se utiliza de trechos do primeiro livro, em especial as tramas palacianas na Secretaria de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro.
De autoria dos mesmos autores da edição anterior, Luiz Eduardo Soares (ex-secretário Nacional de Segurança Pública), André Batista e Rodrigo Pimentel (egressos do Bope), neste segundo exemplar o trio ganha o reforço de Cláudio Ferraz, delegado chefe da DRACO – Delegacia de Repressão ao Crime Organizado.
De acordo com o posfácio do livro, a redação final foi dada por Luiz Eduardo Soares a partir das histórias selecionadas pelos quatro autores. Segundo este as histórias foram fundidas e entrelaçadas, mas a exemplo do filme algumas cenas são facilmente reconhecíveis.
O narrador do livro é um policial civil pertencente à Draco que sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e acaba paraplégico por conta disso. Ele cria um perfil no Twitter e mesclando comentários no microblog e narrações de fatos vai tecendo a trama e entrelaçando os capítulos.
Logo no segundo deles é decifrado o mistério do desaparecimento da engenheira Patrícia Franco, ocorrido na Barra da Tijuca. Em que pesem as alterações cosméticas – no livro é uma arquiteta e tem 30 anos, ao contrário dos 24 com que ela desapareceu na vida real – o trecho da publicação narra com detalhes a sequência dos fatos.
Segundo o relato do livro ela foi morta por engano – ao não parar após solicitação de viatura policial – e seu corpo queimado e enterrado por milicianos. Chega-se a armar uma operação (clandestina) de “desova” do que restou do corpo da moça, mas a operação acaba abortada. Como resultado há o assassissato de um policial na Fonte da Saudade, dias depois – na vida real, foram dois PMs as vítimas da execução.
Entretanto, tal qual o filme o foco do livro é a questão das milícias. Como estas se formaram, como passaram a dominar os espaços urbanos da cidade e a violência com que impuseram seu domínio. O narrador também enumera as dificuldades do combate a estas milícias, por estarem entranhadas nos comandos das Polícias e em esferas acima de poder.
Outro ponto abordado é a dificuldade de colocar milicianos na cadeia. Como se depende demais do depoimento das testemunhas – há fortes críticas ao trabalho da perícia em determinada parte – e estas são muito suscetíveis à pressão dos chefes das milícias, muitas vezes estas retiravam seus depoimentos e deixavam os investigadores de “mãos atadas”, sem poder prosseguir. Ainda se passa de passagem por elementos coniventes, também, no Judiciário.
Também é descrito o caso da tentativa de assassinato de um famoso miliciano em São Pedro da Aldeia, onde no livro morreriam a mulher grávida e o enteado dele. Na vida real apenas ele morreu, pelo menos pelo que pesquisei no Google.
Na segunda metade do livro o eixo se desloca um pouco e se foca em dois personagens: no defensor dos direitos humanos chamado no livro de “Marcelo Freitas”, que depois se torna deputado, e no comandante do Bope Lima Netto. O narrador, aposentado por invalidez, vai trabalhar no gabinete do deputado em questão, que chefia uma CPI sobre as Milícias.
Esta segunda metade se inicia com a rebelião de 11 de setembro de 2002 em Bangu I, onde quatro criminosos foram mortos dentro do presídio pelos líderes do Comando Vermelho. Embora a liderança tenha sido de Fernandinho Beira Mar, no livro paarece um “Russo”, que seria um ex-bandido arrependido e que volta para a cadeia devido a uma extorsão praticada por maus policiais. Este “Russo”, pelas descrições feitas perece ser o hoje falecido José Carlos dos Reis Encina, o “Escadinha”.
A rebelião deixa clara a vacilação da então governadora Benedita da Silva, que recebe ordens de um “figurão” do partido para invadir a cadeia – José Dirceu ? Entretanto, o comandante do Bope à época se nega a cumprir a ordem da governadora, e a negociação acaba terminando razoavelmente a contento.
Os negociadores são os citados “Lima Netto” e “Freitas”. Este último é claramente inspirado no deputado estadual Marcelo Freixo, que entretanto em comentário feito a mim no Twitter  dias atrás negou ter sido o inspirador do personagem. Contudo, fazendo-se nova pesquisa no Google descobre-se que Freixo foi um dos negociadores da rebelião em questão.
O livro mostra a nascente amizade entre Freitas e o policial do Bope, que acaba resultado em uma tentativa de armação contra o então militante de direitos humanos, salvo pela intervenção providencial do coronel. Na parte final contam-se alguns casos do Bope, o coronel cai em desgraça e vai preso e vislumbram-se as tentativas por parte de Freitas de retribuir o favor prestado anteriormente.
Em seu final, que, confesso, achei meio “anti-climático”, fica o gancho para que a série tenha continuidade em um terceiro exemplar. Que seria salutar e, diria eu, necessário.
“Elite da Tropa 2” é fundamental para se entender como funcionam não somente a segurança pública e as polícias como também o jogo político no qual nós cidadãos estamos envolvidos, como marionetes. Também coloca as coisas em seus devidos lugares ao deixar claro que milícia é máfia.
Ou seja, leitura indispensável.

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