O  Dr. Sigmund Freud – que eu, quando moleque, achava que se chamava Sujismundo Freud – ficaria impressionadíssimo com o sonho que tive na noite passada. Antes de relatar o troço, uma pequena explicação.
Trabalhei essa semana, com as minhas turmas do ensino médio, a Revolução Russa. É impactante constatar como os bolcheviques estão, para a garotada que nasceu após o desmanche da União Soviética, mais fora de moda que sapato cavalo de aço, Hepatovis B 12, cabelo Príncipe Valente, atari, perucas Lady e óculos Emerson Fittipaldi.
Imaginem o que é ouvir, como este escriba ouviu diante de quarenta testemunhas, que os líderes da revolução foram Lennon e Stalin [escutei isso e imediatamente matutei sobre a  tremenda dupla de ataque que formariam Lenin e McCartney].
Gosto da aula sobre o tema: explico a formação dos soviets, esculhambo os mencheviques, descasco o Zé Stalin, racho a cuca do Trotsky e descrevo com requintes de crueldade o fuzilamento dos Romanov e as artimanhas de Rasputin. As meninas, especialmente, ficam chocadas ao saber que a princesinha Anastacia, que virou personagem de desenho animado fofo, tomou bala dos revolucionários e foi comer o capim pela raiz com a família inteira. 
É nesse contexto que entra, quero crer, o meu sonho. Descrevo abaixo, passo por passo, o absurdo onírico:
INÍCIO – Estou no meio da floresta amazônica, no bumbódromo de Parintins, para assistir a disputa entre os bois Garantido e Caprichoso. Seguro uma bandeira vermelha – cor do Garantido – e ao meu lado, de cocar e o escambau, está um índio com a cara da estátua do Arariboia; aquela que fica na frente da estação das barcas de Niterói. 
SEGUNDO ATO – Revelo que dou aulas em um colégio em Niterói e pergunto a Arariboia se ele é torcedor do Boi Garantido. O índio me olha com cara de puto dentro da tanga e diz que não vai responder porque estátua não fala.
TERCEIRO ATO: Começa a festa. Entra o Boi Garantido e o bumbódromo explode. Caciques, pajés, curumins e  cunhatãs desfilam entre carros gigantes com serpentes aladas, curupiras e botos. Fafá de Belém invade a arena, com os peitos de fora, e começa a cantar o hino do Garantido:
A cor do meu batuque

Tem o toque e tem
O som da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão
O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha cor
“Vermelho”
Meu coração é vermelho
Hei! Hei!
De vermelho vive o coração
Ê, ô, ê, ô…

FINAL: Na hora em que Fafá canta o verso O velho comunista se aliançou entra no bumbódromo, de terno, gravata, cocar de caboclo de umbanda, guias no pescoço e fumando charuto,  Karl Marx. O público delira. Marx comanda a coreografia da platéia, balança as mãos no trecho Meu coração é vermelho e pula na hora do Hei! Hei!  Até a estátua do Arariboia embarca na onda vermelha, remexe os quadris e rebola com as mãozinhas para a frente. Eu acordo exatamente no momento do pulo do barbudo.

Depois dessa só espero que Morfeu me conceda, na próxima semana, o benefício de não me lembrar dos sonhos. É que o tema das aulas será o Salazarismo. Já imaginaram o risco que é sonhar com o Dr. Salazar dançando o vira, com direito a saltinhos,  ao lado de Nossa Senhora de Fátima e do Cristiano Ronaldo…

Fiquem abaixo com a nova versão da Internacional Comunista:

Abraços

4 Replies to “GARANTIDO, O BOI COMUNISTA”

  1. Hahaha, acho que vira enrendo… rs

    Marx no garantido ia ser foda, vira mexe Freud aparece nas músicas… Sou dão de paritins, particulamente do garantido…

    Já estou com meu cd 2010 na voz de Robson Junior mais do que gasto aqui em pleno RJ. E mestre simas, garanto… Há mais belas toadas (não no cd 2010, mas tem umas boas até no nivel) que essa imortalizada pela Fafá de Belém.

    E Contrário que vá pra Cacuia

  2. Primeiro você veio com aquela explicação sobre o cara que via a namorada e a mãe se beijando e depois dava um beijo num mendigo. Agora você me vem com esse sonho de Marx como animador de torcida – usando cocar de caboclo de umbanda – enquanto você conversa com uma estátua.
    Luiz Antonio, você tem sérios problemas.

    Beijo!

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