Mais uma quarta feira e mais uma coluna sobre ciência e tecnologia, assinada pelo Professor Marcelo Einicker. A coluna de hoje é sobre a relação entre o homem e a natureza.

“Caros amigos,

Esta semana vamos abordar um tema bastante atual, mas que ainda leva a interpretações errôneas e também tem servido de “bengala” para pouca ou nenhuma política pública realizada em nossas cidades. Falaremos das catástrofes naturais.

Era o final dos anos 90, e muita gente mundo afora tinha plena convicção de que o Mundo…o Planeta Terra…ia se acabar. Previsões apocalípticas, interpretações da Bíblia, de textos antigos, previsões de Nostradamus…tudo apontava para o fim do mundo em 2000. Virada do ano de 99 para 2000 e o que aconteceu?? Nada! Nem o alardeado bug do milênio! Frustração de muitos…desespero de outros…infortúnio de alguns menos coerentes que se suicidaram antes do final do mundo…o fato é que seguiu a vida na Terra.

Um Planeta de fases

Nossa amada Terra é o terceiro planeta do Sistema Solar. Para muitos, o único microponto do Cosmos onde existe vida, seja de qual forma ela possa ser. Muito pouco provável que isso seja verdade. Mas voltemos para algo que parece cair no esquecimento das pessoas. A Terra já foi um planeta totalmente inviável no que diz respeito à capacidade de abrigar qualquer forma conhecida de vida. Era quente demais, assolada por ventos muito mais fortes que os piores furacões de hoje em dia; bombardeada por fortes descargas elétricas, radiação ultravioleta, raios-X e outros tipos de radiações vindas do espaço, enfim…um cenário estéril. Estas condições adversas foram determinantes para que o Planeta Terra sofresse uma drástica transformação que levou bilhões de anos para ser percebida. 
Erupções vulcânicas de proporções gigantescas por todo planeta, emissão de gases e nuvens de poeira que cobriram boa parte da Terra por anos… o aparecimento e acúmulo do vapor d´água, que deu origem às primeiras chuvas…que encheram depressões no terreno primitivo, formaram grandes reservatórios…oceanos e ajudaram a resfriar o planeta. Aí nestes oceanos primitivos há cerca de 4,5 bilhões de anos, teria surgido a primeira estrutura orgânica, pedra fundamental do estabelecimento da vida na Terra (maiores detalhes em http://www.portalbrasil.net/educacao_seresvivos_origem.htm , e a partir daí a especialização, a evolução e a seleção natural, promoveram a conquista dos ambientes aquático e terrestre, numa explosão de diferentes formas de vida.

Mas por que lembrar disso tudo? Pelo simples fato de não esquecermos que o Planeta passou e passará por fases muito claramente distintas. Como dito acima, nosso Planeta já foi inóspito por ser quente demais, mas também já foi inóspito por ser frio demais, o que teria inclusive levado a extinção dos Dinosauros. As chamadas Eras Glaciais apresentam-se como ciclos na história geológica da Terra…e ao que se sabe, estamos num momento geológico entre a última Era Glacial e uma nova glaciação…começando mais um ciclo, mais uma fase de nosso Planeta. Assim podemos dizer que a Terra está em constante transformação. É aí que entra a parte que não estava prevista pela Mãe Natureza ou por algum ser supremo responsável por toda criação: a ação do Homem!

Somos seres evoluídos?

A resposta desta pergunta é SIM, somos seres evoluídos. Mais evoluídos bioquimicamente e intelectualmente que tantas outras formas de vida que já surgiram ou ainda existem no Planeta. No entanto, algo que nos atribui a qualidade de “seres evoluídos” é também algo que vai contra o Planeta e contra nós mesmos. O Homem, ser evoluído, empreende uma corrida tecnológica e industrial que demanda recursos naturais, extrativismo, agressões ao meio ambiente que aceleram em muito ou mesmo criam novos fatores que contribuem para mudanças perigosas nos destinos do Planeta. O badalado termo “Aquecimento Global” é assunto nas pesquisas de nossas crianças no ensino fundamental. O Efeito Estufa reaparece nos noticiários associado à poluição em grandes cidades como São Paulo. Desmatamento das florestas, desertificação, morte de rios e nascentes…DEGRADAÇÃO.
Esta palavra dura reflete a aceleração de transformações malignas que nosso Planeta vem sofrendo, muito em função do progresso trazido pelo ser mais evoluído: o Homem. Mas seria possível não termos todo o progresso em nossas Cidades, ou termos tudo que temos hoje sem agredir o Meio Ambiente? De novo a resposta é SIM. E aí é que vem o “resgate” do ser evoluído (o Homem), pois é ele que já está discutindo e desenvolvendo novas tecnologias, dominando as Ciências para cessar ou diminuir as agressões que foram sendo feitas ao longo dos anos, principalmente desde a Revolução Industrial. Para ilustrar isso, temos a exploração de fontes alternativas de energia, a preocupação com a degradação do meio ambiente e a noção de desenvolvimento sustentável, que já mudam práticas que levaram a degradação de diferentes áreas em todo mundo.

Devemos colocar todos os problemas causados após grandes catástrofes na conta da Natureza?

Tsunamis, terremotos, furacões, vulcões, grandes tempestades. Cataclismas que em tempos modernos, de cidades superpovoadas ocasionam grande número de danos materiais e vidas perdidas. Toda tecnologia disponível permite com alguma antecedência prever alguns destes desastres naturais, mas ainda não todos e nem a sua real intensidade.

Recentemente nosso Planeta tem sofrido com grandes catástrofes naturais, muitas destas associadas em uma produção cinematográfica recente (o filme 2012) baseada em escritos dos Maias, que prevê o ano de 2012 como provável fim dos tempos devido a explosões solares que aumentariam a temperatura no centro da Terra fazendo com que os continentes sofressem intensos terremotos e que fossem observadas colossais erupções vulcânicas. Coincidência ou não, o Planeta vem registrando grandes catástrofes naturais já há algum tempo.
Tivemos um terremoto muito forte (9,0 pontos na Escala Richter) em 2004 no Oceano Índico, que fez surgir uma onda gigante devastadora (Tsunami) que destruiu cidades e matou milhares de pessoas na costa asiática. Em 2008 um forte terremoto trouxe destruição e morte a uma província da China. Já neste ano de 2010, os terremotos no Haiti, Chile e de novo na China marcam 2010 como o ano com maior número de mortes provocadas por terremoto. O planeta também tem sido assolado por furacões, como o Katrina que devastou a cidade de Nova Orleans nos Estados Unidos e por tempestades. No Brasil, as chuvas destruíram cidades em Santa Catarina, Bahia, Sergipe e Rio de Janeiro. As chuvas em Angra dos Reis no início de 2010 e agora no mês de março na Cidade do Rio de Janeiro, Niterói e Região Serrana trouxeram desabamentos e perda de centenas de vidas como no lamentável caso do Morro do Bumba.
Por fim, na semana passada a Europa entrou em colapso com a erupção do vulcão Eyjafjallajokull, que ao entrar em atividade lançou lava e uma densa fumaça negra rica em partículas de silício que cobriu parte da Europa levando ao fechamento do espaço aéreo de diversos países.

Mas todas estas tragédias, todas as mortes assinaladas, foram culpa da Natureza?

Os terremotos não têm qualquer relação a agressões do Homem ao meio ambiente. São resultado de movimentos das placas tectônicas onde repousam os diferentes continentes e mesmo a superfície do fundo dos mares e oceanos. Este movimento de placas tectônicas levou a distribuição dos continentes como conhecemos hoje, tendo sido todos eles originados a partir de um mesmo bloco continental ancestral chamado de Pangea.


No caso dos grandes furacões e das grandes tempestades, sim, até podemos atribuir correlações com diferentes fatores que refletem a degradação do ambiente pelo Homem. O aquecimento global pode causar alterações climáticas que culminam em grandes temporais como os observados no Estado do Rio de Janeiro. Mas estes temporais também podem ser resultado de fenômenos como “El Niño” e “La Niña”, que são alterações na temperatura da água e nas correntes marinhas dos oceanos que pode ser resultado de alterações climáticas naturais do ciclo geológico normal do Planeta, como podem também ser resultado das alterações ambientais provocadas pelo homem, de forma que neste caso – dos temporais e furacões – fica difícil estabelecer o que aconteceu porque teria de acontecer e o que aconteceu por agressões ao ambiente ao longo dos anos.

O problema maior que vemos é que o poder público em muitos casos se omite de culpa em casos de mortes nestas tragédias climáticas. É fácil entender isso no caso de um terremoto ou de um vulcão. No entanto, apenas como exemplo, saber que muitas vidas foram perdidas após um forte temporal porque um bairro ou uma favela se ergueu sobre uma encosta onde funcionava um “lixão”, ou saber que centenas de famílias perderam suas casas e seus bens em alagamentos provocados pela falta de investimentos em obras de drenagem, dragagem de rios ou canalização eficiente de águas pluviais, nos deixa a certeza de que a omissão das autoridades, em alguns casos, aumenta significativamente os danos da catástrofe, principalmente no que diz respeito ao número de mortes.

Desta forma, as catástrofes naturais estão presentes no dia a dia do nosso Planeta bem antes da chegada do Homem a face da Terra. Devemos preservar nosso Planeta para não alterar sua harmonia e provocar episódios mais drásticos, além de termos de estar atentos a estes episódios para que não se coloque toda culpa apenas na Mãe Natureza.

Até a próxima!”