Eis que após grande pressão do mercado financeiro o Banco Central anunciou o aumento das taxas básicas de juros em 0,75 ponto percentual, passando para 9,5% ao ano. Isto corresponde a uma taxa real – descontada a inflação – de aproximadamente 4,5%, uma das mais altas no mundo.
Minha avaliação é que não haveria ocasião mais inoportuna para tal medida. Mais que diminuir o ritmo dos investimentos, é um sinalizador ao mercado real de que as expectativas dos agentes devem ser trabalhadas para uma diminuição do crescimento econômico.
É o que eu chamaria de “profecia auto-realizável”: estimulados por outros interesses, o Banco Central aumenta os juros e diz que quer controlar “supostas” pressões inflacionárias. Os agentes da economia real tomam como um sinal e desaceleram suas decisões de investimento, o que leva a uma diminuição do crescimento econômico e à transferência de renda do setor produtivo para o setor financeiro da economia.
Lembro a meus 56 leitores que não há chance de descontrole da inflação. Os motivos são simples: não há risco de sobreutilização da capacidade instalada por causa dos novos investimentos na capacidade produtiva da economia, os salários estão aumentando em uma taxa abaixo do crescimento da produtividade da economia – embora acima da inflação – e não há a curto prazo risco de choques cambiais.
A única explicação que eu consigo encontrar para tal elevação da taxa básica é a necessidade de elevar os ganhos das tesourarias dos bancos, locais que normalmente empregam os diretores que passam pelo Banco Central. Apesar de ser o guardião da moeda, a história do Bacen mostra que este esteve sempre muito mais sensível às vozes do mercado financeiro que do restante da economia do país.
E exatamente por não refletir e atender às necessidades da economia como um todo que sou radicalmente contrário a idéia de um “Banco Central independente”, que não precisa prestar contas ao governo ou à sociedade.
Outro ponto que necessitamos alertar é que os bancos continuam ganhando muito dinheiro atualmente, mas exercendo a função para a qual foram originalmente criados: fornecer crédito à economia. Esta é uma diferença fundamental, pois quanto maiores forem os lucros das carteiras de crédito é sinal de que a economia está crescendo em uma proporção semelhante. Excrescência era o que ocorria anteriormente, quando o crédito representava uma fração ínfima de nosso Produto interno Bruto (PIB) e os ganhos dos bancos vinham à custa da carteira de títulos públicos e suas altas taxas de juros.
Na prática, o que ocorria anteriormente era uma brutal transferência de renda do setor produtivo para o financeiro, porque a arrecadação de impostos era em boa parte drenada a fim de rolar as carteiras de títulos. 
Não é exagero dizer que a equipe econômica que esteve ocupando o Ministério da Fazenda e o Banco Central entre 1994 e 2002 estabeleceu políticas que visavam beneficiar aqueles que lá os colocaram, ignorando todas as demais necessidades do país. Bem como impor um ideário econômico totalmente inadequado às especificidades brasileiras.
Concluindo, queria repercutir uma notícia que também saiu esta semana e que não teve o devido destaque, que foi a criação de uma delegacia especial da Receita Federal com a tarefa de fiscalizar as dez mil maiores empresas brasileiras, que concentram 75% da arrecadação de tributos e impostos federais.
Esta delegacia terá auditores especializados em detectar sofisticados procedimentos de sonegação e elisão fiscais por parte destas empresas, bem como lavagem de dinheiro. Sem dúvida alguma é uma notícia que trará desdobramentos posteriores.


(Foto: G1)