É de conhecimento público que o Manoelzinho Motta era dotado de impressionante mediunidade. Para relembrar a primeira grande manifestação da espiritualidade do cachaça, basta clicar aqui .

Naquela ocasião Manoelzinho recebeu o espírito de um profeta de pedra sabão do Aleijadinho – Jeremias – após ser flagrado por sua senhora, Dona Alcione, em trajes sumários no lupanar de Consuelo “La Índia” Paraguaia, a famosa Casa dos Amores Urgentes.

Acontece que a mediunidade do cabra, depois da primeira manifestação, não parou mais. Há relatos de que Manoelzinho virou cavalo de mais de cinquenta entidades, de todos os tipos e linhas. O que mais impressiona, do ponto de vista estritamente espiritual, é entender como as entidades chegavam no Motta em momentos decisivos.

Houve, por exemplo, uma ocasião em que Dona Alcione convenceu o Manoelzinho a passar o carnaval fora do Rio de Janeiro. O destino traçado era Araruama, na modesta casinha de praia alugada pela temporada por Dona Saquarema Marta, que gentilmente convidou as amigas do Lins de Vasconcelos e adjacências para curtir um solzinho, tomar umas cervejinhas e fazer um torneio de buraco durante o tríduo momesco.

Há que se ressaltar, em nome da veracidade do relato, que a casa de praia de Dona Saquarema não era exatamente próxima à orla de Araruama. Ficava num loteamento um pouco distante – coisa de uns vinte minutos caminhando sem pressa. Um dos argumentos que Dona Alcione usou para convencer o Manoelzinho foi esse – eles poderiam passear na beira da lagoa, dar um bom mergulho numa praia mansa e levar um isopor com uns comes e bebes para economizar.

O Manoelzinho, que nunca discordava da Dona Alcione, aceitou o convite e se mostrou o mais entusiasmado com a programação. Não aguento mais essa confusão do carnaval, argumentou com a profundidade de chefe de família exemplar.

Meu avô não entendeu picas. O Manoelzinho era folião lendário, sócio remido do Bola Preta, filho de um ex-presidente dos Tenetes do Diabo, compadre do Tião Maria Carpinteiro -o fundador do Bafo da Onça- , ativo participante do Berro da Paulistinha e organizador, ao lado do zagueiro Moisés Xerife, do bloco das piranhas de Madureira. Como se não bastasse, fechava a quarta-feira de cinzas brigando com a polícia durante o desfile do Chave de Ouro.

O casamento, porém, exigia alguns sacrifícios, disse o Motta. Uma emocionada Dona Alcione ouviu o marido argumentar a favor da ideia de que numa relação de companheirismo era necessário abrir mão de algumas coisas em nome de outras mais importantes [frase que ele tinha lido na coluna de conselhos do correio sentimental da revista Sétimo Céu]. Em tom de discurso parlamentar, Manoelzinho encerrou o assunto em grande estilo e levou a mulher às lagrimas:

– Alcione significa mais para mim do que qualquer carnaval. É a minha quinta mulher, mas meu primeiro amor. Parto feliz para aquele que será o melhor carnaval da minha vida!

Acontece que é difícil controlar algumas espiritualidades mais fortes. Na hora da partida, com as malas devidamente preparadas, o Caladril, o Vic Vaporubi , a Minâncora, O sal de frutas Eno e o Colobiasol formando a linha de frente da sacolinha de remédios, o Manoelzinho deu três murros fortes no peito, um brado de levantar defunto e caiu de joelhos na clássica posição de um índio preparado para flechar alguém.

O Nilton, que era uma espécie de cambono pra toda obra do Manoelzinho e também estava na trupe da folia em Araruama, imediatamente gritou ao ver a cena:

– Okê, caboclo!

[aguardem a continuação da mediunidade carnavalesca do Manoelzinho]

5 Replies to “UM MÉDIUM NO CARNAVAL – PARTE 1”

  1. Simas,
    Este não é o primeiro comentário, antes de mim está o do JEREMIAS, (o de pedra sabão). Só que ele não fala nem escreve, mas está aí.
    Lí de uma tacada e dei boas gargalha. E por falar em carnaval: o cordão dos puxa….
    Abraços
    Jairo Costa

  2. SIMAS, BOTAFOGUENSE E IMPERIANO!

    POUCO IMPORTA! MUITO IMPORTA!

    VOCÊ E A CÂNDIDA TÊM A ENERGIA DA NOSSA VILA ISABEL!

    MUITO OBRIGADO PELA SUA COMPANHIA

    E PERDÕE-ME: TINHA QUE ACORDAR ÀS 5 HORAS.

    BEIJOS!

  3. Caro Simas, tô de olho neste Manoelzinho, apesar das 5 mulheres em seu currículo. Ler correio sentimental de Sétimo Céu levanta altas suspeitas sobre sua conduta. Vou esperar o final da história para emitir minha opinião.

  4. Simas, quando será o próximo capítulo desta novela momesca? Estou curiosa, até me confundi ligando o rádio para ver se dava algum indício das próximas cenas, mas, aí me toquei que nem o bbb (bicho-besta-belzebu) me adiantaria um pedacinho que fosse. Te aguardo! Bjs!

  5. THOMAZ, meu caro, o correio sentimental da Sétimo Céu era perfeito para se conhecer as expectativas e desejos das moças. No meu antigo blog tem uma história sobre um grande amor que o Manoelzinho encontrou por causa da revista. Vou ver se acho o link e te passo.

Comments are closed.