Nos últimos dias a grande imprensa noticiou fortemente a alta do preço do álcool nas bombas de combustível por todo o país.
O preço do combustível flutua, grosso modo, devido a dois fatores: à safra/entressafra e ao preço do açúcar no mercado internacional.
O primeiro fator é mais ou menos fácil de se explicar. Na época da safra da cana a quantidade disponível para moagem aumenta e, quanto maior a quantidade, menor o preço – pela Lei de Oferta e Demanda. Na entressafra a quantidade de cana diminui e, evidentemente, o álcool – o preço sobe.
A Petrobras, que poderia ser um agente regulador formando estoques de contingência para estabilização dos preços, vem sendo pressionada a se manter de fora deste mercado. Interesses de agentes que lucram com esta volatilidade contribuem para isso.
Ou seja, hoje não temos nada que possibilite a formação de um estoque durante o período da safra a fim de diminuir a variação sazonal de preços do produto.
Teoricamente, como funciona o álcool até chegar ao tanque do carro ? A usina vende à distribuidora, que repassa aos postos, que vende aos consumidores. Desta forma cumpre-se a lei, garante-se a qualidade do produto e pagam-se os impostos devidos.
Só que muitas vezes ocorre de a usina de álcool vender diretamente ao posto, ao arrepio da lei. Com isso o preço é mais baixo; mas não se pagam impostos e, muitas vezes, é produto adulterado.
A segunda razão para o aumento de preço é o preço internacional do açúcar. O usineiro quando mói a cana tem a opção de transformar em açúcar para venda – notoriamente, exportação – ou em álcool para o mercado interno. Quanto mais alto o preço do açúcar no mercado externo, maior o estímulo a transformar a cana em açúcar e menos em álcool – são o que chamamos em Economia de “substituto perfeito”.
Consequentemente, o preço do álcool sobe a fim de reequilibrar esta equação e tornar novamente atraente a sua produção. Por outro lado, a partir de um certo patamar de preço se torna interessante ao consumidor abastecer seu carro flex com gasolina.
Mais uma vez, a falta de uma entidade reguladora do mercado permite esta especulação e a variação do mix açúcar/álcool. Este é tratado como uma simples ‘comoditie’, dissociado de uma política integrada de energia.
Por estes dois motivos é que o combustível ‘verde’ (deve ser do dólar, mas é assunto para outro post) tem subido tanto de preço nos últimos tempos.
Para terminar, dois adendos:
1) Por gestões da Esso – leia-se Cosan, maior produtora individual do produto e dona desta marca no Brasil – agora nas bombas de abastecimento deve estar escrito “etanol”, por determinação da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Coincidentemente, “etanol” é a marca da campanha publicitária da Esso/Cosan para o álcool.
2) O carro flex, como não é otimizado para nenhum dos combustíveis, anda menos que um carro somente a álcool e gasta mais que um carro a gasolina.
Nos modelos em que há a opção a gasolina, vale a pena calcular se o consumo de combustível menor supera a desvalorização maior na hora de revenda. Além disso é interessante abastecer de vez em quando com gasolina aditivada, por causa da água presente no álcool hidratado.