O Rio de Janeiro é um bom lugar para se andar nu. Temos, inclusive, uma praia destinada à prática do naturismo. Confesso, porém, que nunca frequentarei o recanto, e justifico a birra com três argumentos.
O segundo argumento me parece poderoso. A praia em questão chama-se Abricó. O nome é terrível. Não se pode andar impunemente com o báculo exposto num lugar com uma denominação dessas. Parece até aquela velha piada do índio Caramuru, da tribo Paraguaçu, que gostava de sururu, morava no Alto Xingu e se chamava Papa-Có. Nem pensar.
O terceiro argumento é definitivo e dispensa comentários: Testemunhas afirmam que tem muito mais homem que mulher naquelas bandas. Canta pra subir.
Quem começou com esse negócio de naturismo no Brasil foi a atriz Dora Vivacqua, mais conhecida como Luz del Fuego, a quem homenageei em outros textos. Luz, dotada de espírito público, fundou, no início dos anos 50, o Partido Naturista Brasileiro – que reputo como a mais séria organização política verde e amarela desde os tempos dos homens pré-históricos da Serra da Capivara.
Luz morava na Ilha do Sol, pertinho de Paquetá, e gostava de andar pelada com uma jibóia de oito metros enrolada no corpo. Em sua propriedade funcionou o primeiro clube de nudismo do país, o que fazia com que afoitos farofeiros de Paquetá – com o argumento familiar de que queriam conhecer a romântica pedra da Moreninha e tinham se perdido nas águas da Guanabara – tentassem chegar nadando à ilha vizinha pra ver as pererecas em flor.
O final de Luz del Fuego foi terrível – morreu assassinada, em 1967, por bandidos que queriam roubar um carregamento de pólvora guardado na ilha. Pouco antes da morte da fundadora, o Partido Naturista, que chegou a ter quase 60 mil filiados, fora proibido pelo regime militar – numa inequívoca demonstração de que fardas e ternos são, em geral, muito mais indecentes que a nudez.
Assisti, moleque, ao filme Luz del Fuego, em que Lucélia Santos – que eu conheci na novela Escrava Isaura, produzindo o milagre de seduzir a dupla de machões (sic) Rubens de Falco e Edwin Luise – representava a pioneira do naturismo tupiniquim. Lucélia estava em forma surpreendente, apesar da atuação dramática superior da escamosa atriz que representava a cobra jibóia, naquela que considero a maior interpretação feminina da história do cinema nacional ao lado da cadela Baleia de Vidas Secas.
Temos outros personagens ilustres que gostavam de tirar as roupas. O antropólogo Darcy Ribeiro e o cineasta Glauber Rocha só conseguiam escrever peladões. D. Pedro I gostava de andar vestido apenas com o bigode pelos salões do Paço Imperial; Villa-Lobos achava que compunha melhor despido. Átila, o huno, que não era brasileiro mas tinha 1.06 de altura, gostava de mostrar o pinto pra humilhar os adversários depois de cruéis batalhas.
Paro por aqui esse desabafo. É hora de buscar o terno que aluguei numa loja de roupas de festas no Largo da Segunda Feira.
Enquanto faço meu vestibular pra frango de padaria, fiquem com o grande Benito de Paula homenageando o poetinha, que adorava andar como veio ao mundo, mandando o terno e a gravata pra Tonga da Mironga do Kabuletê. É a minha vontade:
Sensacional Simão! Nudez, sacanagem e RJ combinam perfeitamente.
Simas, retome a obra literária interrompida!!!
Abs.
Essa me lembrou o samba de 2004 da São Clemente que dizia:
“Todo mundo pelado, beleza pura
Todo mundo pelado, mas que loucura
Ninguém segura a perereca da vizinha
É um barato a buzina do chacrinha…”
Abraços,
“PASTEL DE PÊLO” SIMAS ????!!!!!
Caraca ! Imagina alguém no teu pé de ouvido… – Dá um pedacinho desse pastelzinho cabeludo … Que horror!
Grande Simas, dostei dos argumentos. Parabéns pelo sucesso do blog.
Um abraço