Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, o nosso d. Pedro I, foi um grande fanfarrão das efemérides da pátria. Foi também, é justo que se diga, um espada de primeiríssima categoria, honra e glória da estirpe dos varões assinalados.
Até as pantufas do museu imperial de Petrópolis sabem dos sete anos em que nosso imperador frequentou a alcova de Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos.
O Demonão, apelido que o portuga usava nas cartas de amor que trocava com a amante ( dentro dos envelopes D. Pedro gostava de mandar alguns pentelhos, como prova de seus sentimentos), era um despudorado. A Imperatriz Leopoldina foi a traída mais explícita da história do Brasil, uma espécie de padroeira da cornitude nacional.
O que poucos sabem é que D. Pedro foi também insaciável amante de Maria Benedita de Canto e Melo. Quem era essa? A irmã mais velha de Domitila, com fama de senhora distinta, casada com um certo Boaventura Delfim Pereira. Com a irmã da marquesa, o imperador teve, pelo menos, um filho bastardo.
Nessa sacanagem toda , me comove o apreço que o imperador demonstrou ter pela família das irmãs Canto e Melo. Mostrou-se um homem digno e ciente de suas responsabilidades, saiu distribuindo títulos de nobreza e empregou todo mundo.
O corno Boaventura, por exemplo, foi nomeado superintendente da Fazenda de Santa Cruz, tornando-se amigo íntimo de d. Pedro. Foi alocado depois na superintendência das quintas e fazendas imperiais, quando recebeu o título de barão de Sorocaba.
Os pais da marquesa de Santos viraram viscondes de Castro. Além deles, uns quarenta irmãos, cunhados, sobrinhos e amigos da amante do imperador receberam títulos de barões, viscondes, guarda-roupas, gentis-homens e moços da câmara imperial, todos devidamente contemplados com generosos vencimentos pagos pelo erário público do Império.
(Permitam-me uma pausa. O que seriam os “moços da câmara imperial” ? Eu, pelo menos, imagino uns camaradas vestidos com todas as pompas, preparados para dar e receber os benefícios daqueles senadores e ministros balofos do Império. Uma espécie de guarda-suiça da boiolice nacional.)
Um caso famoso foi o do jovem Alaor Moreno Canto e Melo, sobrinho da marquesa, que aos sete meses de idade foi elevado ao posto de gentil-homem do Império e nomeado administrador de erário da Quinta da Boa-Vista. O cargo, de grande responsabilidade, certamente foi honrado pelo desempenho reto e audacioso do mais novo funcionário público do reino, ainda em fraldas. O salário do pequenino administrador era uma fábula.
É, queridos, D. Pedro I fez escola por essas bandas. Com muito mais estilo, é verdade. E o que deve ter de marquesa de Santos e moços da câmara imperial deitando e rolando hoje nas esferas do poder… Deixa quieto.

Para fechar essas mal traçadas e provar que tudo aqui acaba em samba, em 1964 a Imperatriz Leopoldinense desfilou com o samba [do grande Bidi] A Favorita do Imperador – uma homenagem a Marquesa de Santos. É mole? A esposa oficial – Leopoldina – canta as glórias da amante de d. Pedro. Sambaço-aço-aço, na voz portentosa de Richxxaaasss:

Abraços

3 Replies to “O REI, A MULHER E A AMANTE – DEU SAMBA”

  1. Mais um texto fabuloso, Professor.

    Essa herança da administração pública lusitana é realmente espetacular.

    E da Marquesa dos Santos eu só tenho boas lembranças.

    Além de ser uma das ruas mais tradicionais aqui de Laranjeiras, berço dos melhores boleiros da Zona Sul (é batata! Nessa rua só nasce craque)!, a Marquesa foi representada em mini folhetim global pela musa Luana Piovani, que engrandeceu a história da nobre Domitila.

    Parabéns mais uma vez.

    Att,

    R.Pian

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