Tenho um amigo, o Emerson Braz, que é diretor em uma empresa de refrigerantes e água mineral, a Beira Rio.

Já há algum tempo que conversamos sobre os privilégios que as grandes empresas do setor, em especial a Ambev e a Coca Cola, possuem junto às autoridades.

Publico hoje um texto, de autoria do amigo, que desnuda um pouco a realidade deste setor. Revelador.

P, M ou G??

Por Emerson Braz

“Pequeno, médio ou grande? É sobre
um embate que o amigo Migão me convida a dissertar. Nos últimos tempos tenho
enchido a paciência dos meus amigos com inúmeras informações. Ter conhecido um
pouco mais a fundo essa guerra desigual me deixa um pouco mais feliz hoje.
Portanto vamos ao ringue:

Sob o pretexto de emprego e desenvolvimento,
esses conglomerados (cada vez maiores) têm benesses fiscais que deixariam a
população revoltada se a ela fosse dado o direito de saber e escolher.

A quantidade de dinheiro que o
Estado brasileiro tem depositado (sim, depositado) na conta dessa gente é
incrível e numa análise rasa, seria mais do que benvindo para melhorar as
precárias necessidades do nosso povo. Óbvio que ao Estado cabe fomentar a
economia, mas a ele nunca foi dada a função de fazer diferença e muito menos
não estender bondades a uns em detrimento de outros.

Falo especificamente do setor de
bebidas frias, como gostam de propalar os engravatados da Fazenda, o setor que
envolve refrigerantes, águas e cervejas.

Há oito anos Everardo Maciel
concebeu a perfeição tributária. Aquilo que tornaria o Brasil livre dos
sonegadores e bandidos. Sim, assim os pequenos fabricantes são ( ou eram)
tratados pela Receita. Um monstrengo chamado Medidor de Vazão, que custa 100
mil reais por linha de fabricação e foi certificado a três ou quatro
escolhidos. 
As santas aprovaram. Afinal o que não falta a elas são créditos
tributários incríveis. Vendido como a solução, logo os primeiros resultados
tributários são lançados á imprensa. Um recorde de arrecadação (em pleno verão).

Muda o governo e Jorge Rachid
assume e continua a saga.  E o que faria
Everardo nos dias de hoje?? Talvez conselheiro da AmBev fosse uma boa resposta!
Se ele soubesse o que fez com os Pequenos fabricantes de refrigerante. Nos unimos,
peitamos o fisco. Fomos cavando para que a sociedade brasileira soubesse a
verdadeira face do setor.

Em abril de 2007 a Folha de São Paulo
estampa em seu Caderno de Economia que a Zona Franca (sempre ela!!) tem benesses da ordem de 3 bilhões
de reais para a Pepsi e a  Coca Cola, para cerca de 130 empregos. Agora a AmBev, multada
em 300 milhões, tentou acertar a multa por 12!!! Ora , que contribuinte tem essa
regalia? Aliás a leniência da imprensa a essa gente (geralmente grandes
anunciantes) é revoltante.

A Afrebras, associação dos
pequenos fabricantes, analisou balanços de todas as franqueadas Coca-Cola e chegou
à conclusão que jamais pagaram IPI! Quando uma empresa pequena tem que recolher
a cada dez dias. E Por quê??

Porque obviamente o Estado é
simpático a quem contribui com as famigeradas campanhas políticas. Lobista tem
livre acesso ao Palácio e aos maravilhosos congressistas. Ex-ministros são
conselheiros das empresas e tem grande conhecimento.

E o que as pequenas podem fazer. Lutar,
caros… Se organizar. Sindicatos e Associações.. A solução! Com alternância de
poder, porque de feudo basta o nosso querido Senado.

As pequenas empresas deveriam ter
incentivos, juros baixos; uma visão muito além de que desestabilizam o
comércio. Afinal grande parte da mão de obra desse país vem da pequena empresa.
As grandes?? Oras, o mercado é impregnado por elas, se juntam a todo instante.
Essas fusões são vergonhosas. AmBev tem 80 % do mercado de cerveja, a Nestlé
tem 70% do mercado de chocolate e são as primeiras a ir a regiões de fronteira
dos estados para pagar menos ICMS.  O Rio
de Janeiro deu 100 milhões para a fabrica de garrafas da AmBev, pra que??Por
300 empregos??

O Brasil precisa urgente reformar
os tributos desse país. Que recaiam em quem mais lucra e principalmente
naqueles que tem todo o mercado nas mãos.

Se o pequeno quer ser médio e
esse almeja ser grande é parte do jogo. Só não posso aceitar é que o árbitro
combine que o jogo comece 3 a
0 pras Sras. choronas, tendo pênalti a favor e dois expulsos.. Aí fica difícil.

Valeu Migão!”

9 Replies to “P, M ou G ?”

  1. Meu amigo você só não falou de quanto sonegou com suas vendas sem notas fiscais, com viagens com as mesmas notas fiscais e assim por diante.

  2. Realmente impressionante o nosso país. Aqui ter sucesso é sinônimo de não ser ético. Impressiona como os fatos são distorcidos. Faltou dizer que a Ambev é a empresa privada que mais pagou impostos no Brasil em 2008. Foram 3,7 bilhões de dólares, perdendo somente para a Petrobras e para a BR. Obtidos sem a facilidade da sonegação tão comum em algumas empresas que gostam de falar mal do sucesso da Ambev. Parabéns aos malucos da Ambev, que provam todos os dias que nós, brasileiros, também podemos conquistar o mundo.

  3. Bom, como nenhum dos Anônimos se identifica, rssponderei como 1, 2 e 3.

    Anônimo 1, isso que você diz é muito sério. Sabe que caberia um processo, né ?

    Anônimo 3, o fato de a Ambev ser uma grande empresa braileira não significa que só tenha qualidades ou defeitos.

  4. Claro que a Ambev não tem somente qualidades. Nenhuma empresa possui somente qualidades, seja ela pequena ou grande. O que surpreende é a nossa capacidade de “endemonizar” as grandes empresas. Como consumidor, quando vou a um supermercado, tenho o direito de escolha. Niguém me obriga a comprar Skol. Se compro é pq aceito pagar o preço que está sendo pedido. Sempre uma empresa (seja a Ambev ou a Nestle) tentará o obter o preço mais alto peloas seus produtos. Isso é criação de marca, um dos princípios de nossa sociedade capitalista. Pq comprar um Ipod e não comprar um mp3 player qualquer? O que não acho correto é ver uma empresa nacional, formal, reconhecida por ser uma exemplar pagadora de impostos, ser tratada como vilã. Incentivos fiscais existem? Sim, e sou contra eles. Mas o governo os usa para “aquecer” a economia. Vejam o IPI para carros novos. Seria realmente necessário? Acho que não. Mas não podemos dizer que as companias são culpadas. Temos realmente que nos preocupar com concentração de mercado no mercado de chocolates e cervejas? Se não está satisfeito, que compre outra marca. Opções não faltam.

  5. se os imposts fossem usados para aquecer a economia seria legitimo e justo…Basta ler um pouco mais que saberá que muitas vezes a concentração é usada pra pressionar o estado … para modificar regras e etc… e essa conversa nada tem a ver com opção de compra , comércio e etc… aliás que mais se preocupa em não perder clientela é quem tem essa absurda concentração através de um marketing agressivo …
    Também sou pequeno empresário e sei o que o Emerson passa..

    Ambev empresa formal e exemplar pagadora é pra rir uma semana!

  6. ao 1 – eu falo o quanto soneguei se você me disser o quanto você sonega no imposto de renda.. e quanto sua querida ambev faz de opeações interestaduais para bular o fisco

    ao resto… Não sou contra empresa grande … sou contra a proteção ao mercado concentrado .. Ninguém escreveu uma palavra no sentido de comprar ou não comprar.. apenas acho que a população deve saber o quanto isso custa ao país

  7. Duas coisas aí:

    1) A concentração da economia mundial atualmente é fato. Se é bom ou não, aí é outra história.

    2) A redução do IPI foi importante para aquecer a economia. Se procurarem no histórico do blog há um texto sobre o assunto.

  8. Vale a pena ler todo o conteudo no link:

    http://www.abir.org.br/paraimpressao.php3?id_article=2301

    ”O superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), Marcos Mesquita, conta que enquanto o volume de produção do setor cervejeiro cresceu 6,5% em 2005, a arrecadação aumentou 15% – o equivalente a quase R$ 350 milhões. “O resultado foi excelente.
    Não houve mudanças nos impostos do setor em 2005. A única alteração foram os medidores”, conta Mesquita. É por isso, inclusive, que o coordenador-geral de fiscalização da Receita, Marcelo Fisch, credita estes resultados aos sistemas de medição. No setor de cervejas, cerca de 40% da sonegação fiscal estava relacionada à emissão de notas fiscais – não emitidas ou subfaturadas.”

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