Final de semana cheio, muita correria, mas vamos aos poucos refazendo os assuntos.
Ontem foi o dia de São Cosme e São Damião. Aqui no Rio, há uma tradição bastante antiga, principalmente no subúrbio, de distribuir doces nesta data na rua.
Eu me lembro que quando era garoto esperava ansiosamente por este dia. Até porque não tinha muita grana para comprar doces o restante do ano, era muito de vez em quando que sobravam uns trocados para tal.
Normalmente, quem nos levava para a caça de doces em Cascadura, onde eu morava, era minha avó, a saudosa Dona Germana. Andávamos o dia inteiro atrás das casas que distribuíam doces e, ao final, fazíamos a contabilidade dos saquinhos auferidos. Normalmente, naquela época (década de 80) a média era em torno de trinta a trinta e cinco saquinhos. Era bala para uns vinte, trinta dias de festa.
Haviam também as pessoas que distribuíam cartões para a distribuição do dia 27. Normalmente, estes saquinhos de balas e doces eram os de melhor qualidade.
Porque também tinha isso. Eu costumava apartar quando chegava em casa os saquinhos de doces “bons” e os “mais ou menos”. Quando tinha “Batom” ou pastilha de hortelã da Garoto (aquela embalagem verdinha) era uma festa. Chocolate de boa qualidade então era uma bênção.
Hoje infelizmente esta tradição caiu muito. Acredito que devido a dois fatores: ao crescimento das igrejas pentecostais evangélicas e à crescente sensação de insegurança da cidade.
O segundo fator é auto-explicativo. Sobre o primeiro, vale uma nota.
Àqueles que não conhecem, esta distribuição de doces é feita basicamente por fiéis de duas religiões: a Católica, obviamente – muitos fiéis entregam balas e bombons em pagamento de promessas aos santos – e a umbanda, religião afro-brasileira.
O crescimento das seitas neo-pentecostais, que acreditam que esta distribuição de doces “é coisa do Capeta”, diminuiu tanto o número de pessoas que correm atrás nas ruas quanto o de gente que faz a distribuição.
Uma pena, porque é muito mais uma tradição carioca, em especial do subúrbio, que infelizmente está se perdendo. Acaba caindo no sectarismo religioso e isso não é bom.
Saudades dos meus tempos de criança…

2 Replies to “Cosme e Damião”

  1. Grande Migão, seu POST foi “superoportuno” (junto mesmo), lembro quando aqui cheguei no inicio de 1982, não havia essa tradição de dar doces no dia de São C&D, muitos nunca ouviram falar disso…
    E, como vc mesmo disse, quando era criança/adolescente em Realengo, corria atrás dessas guloseimas (com cartão e sem cartão, lembra???)
    Lembro que tb fizemos valer essa tradição, foi aquela correria no portão, todos querendo um naco de doce…

    Bons tempos aqueles…
    Como dizia o inesquecível Lilico:
    “Tempo bom, lele não volta mais…”

    Abs

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