Uma mudança no regulamento para 2009 prometia ajudar as escolas. O tempo máximo para desfile passaria a ser de 82 e não mais de 80 minutos, para que as agremiações não tivessem tantas dificuldades para completar as apresentações. A punição para cada minuto excedido seria de apenas 0,1.

Mas a crise econômica mundial no fim de 2008 atingiu em cheio as escolas na preparação dos desfiles para 2009. Quem ainda aguardava boa parte das verbas para a compra dos materiais acabou se dando mal. Em três casos, os problemas foram mais sérios: Estação Primeira de Mangueira, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel.

O caso da Verde e Rosa foi o mais dramático, devido às dívidas que a escola já tinha. O desfile que falaria sobre a formação do povo brasileiro, concebido pelo carnavalesco Roberto Szaniecki, foi para a avenida sabe-se lá Deus como. O atraso no barracão era tão grande, que torcedores da escola combinaram pelas redes sociais um mutirão para que a escola terminasse alegorias e fantasias.

A Imperatriz, que celebraria seu cinquentenário no enredo, não estava tão atrasada como a Mangueira, mas mesmo assim também teve sérios problemas na reta final de preparação. Por fim, a Mocidade, que homenagearia os escritores Guimarães Rosa e Machado de Assis, já vinha sofrendo em seu barracão, e a situação só piorou nas semanas que antecederam o desfile.

Com menos problemas, a bicampeã Beija-Flor escolheu como enredo a história do banho, desde as civilizações mais antigas, e o diretor de Carnaval Laíla previu nos jornais mais “um banho” da escola na passarela. Restava saber apenas se o grande Neguinho da Beija-Flor, que estava em tratamento de um câncer, teria condições de cantar na avenida ou até mesmo conseguiria se recuperar.

Vice-campeão de 2008, o Salgueiro teria seu enredo partindo de um dos instrumentos musicais mais conhecidos: o tambor. Já a Acadêmicos do Grande Rio celebraria o ano da França no Brasil. A Portela teria como tema o amor, enquanto a Unidos da Tijuca falaria sobre a influência do céu no dia a dia das pessoas.

O enredo da Unidos do Viradouro pareceu confuso quando anunciado, pela mistura entre a influência africana na Bahia e o uso de energias renováveis… Reforçada pelo carnavalesco Paulo Barros, que se juntaria a Alex de Souza, a Vila Isabel comemoraria o centenário do Theatro Municipal do Rio.

Completavam o Grupo Especial de 2009 a Unidos do Porto da Pedra, com enredo sobre as curiosidades que renderam à humanidade grandes novidades no dia a dia, e o Império Serrano, de volta à elite com o enredo “A lenda das Sereias e os mistérios do mar”, uma reedição do famoso samba-enredo de 1976.

OS DESFILES

Foi uma apresentação agradável a do Império Serrano. A carnavalesca Márcia Lage, desta vez em voo solo e não com o marido Renato Lage, optou por valorizar o acabamento e bom gosto das alegorias em vez de conceber elementos gigantescos e obteve um resultado muito satisfatório, até porque os diversos tripés tiveram ótimo efeito.

O desfile começou com uma bonita comissão de frente, com uma sereia cercada por cavalos marinhos que deslizavam na pista sobre patinetes motorizados. Agradou a cabeça da escola, com o abre-alas predominantemente branco e imensos cavalos brancos à frente de uma grande escultura de Netuno.

Os demais elementos mostraram os animais marinhos e sereias, como na bela alegoria “Mar de Caiala”, com um enorme castelo de areia. Mesmo mais leves em vez de excessivamente luxuosos, os figurinos passaram com correção a proposta do enredo.

O samba-enredo, embora puxado num tom acima em relação à versão original de 1976, foi bem cantado pelos componentes. A bateria de Mestre Átila mais uma vez brilhou e era praticamente uma certeza de várias notas 10. Foi um desfile com boas chances de manter o Império no Grupo Especial, levando-se em conta o que se viu na pista.

granderio2009bSegunda escola a desfilar, a Acadêmicos do Grande Rio mostrou os laços de união entre Brasil e França com o enredo “Voilá, Caxias! Para sempre liberté, egalité, fraternité. Merci beaucoup, Brésil! Não tem de quê!”. Foi uma apresentação bonita, mas irregular.

A comissão de frente representou o Rei Luís XIV, conhecido o rei sol, e as fantasias estavam belíssimas, em dourado. Já nos quesitos plásticos, foi perceptível a preocupação do carnavalesco Cahê Rodrigues em conceber alegorias grandiosas e coloridas, mas que alternaram bons e razoáveis momentos.

Um exemplo foi o ótimo abre-alas, que era acoplado e tinha 50 metros de comprimento, além de contar com muitos espelhos e acabamento impecável para retratar o Palácio de Versailles. Outra alegoria que agradou muito foi a que retratava o Moulin Rouge, com muitas luzes, luxo e bailarinas que misturavam Can Can e samba (foto).

Já a alegoria sobre a Revolução Francesa, embora de boa idealização, tinha problemas de acabamento. O vazado elemento chamado “A Visão da Nova França” mostrava a Torre Eiffel e a tecnologia francesa, como a que permitiu avanços na medicina e a implantação do trem-bala, mas não era tão feliz. O último e muito bem realizado elemento, além de conduzir a velha guarda, promoveu a mistura de personagens do carnaval carioca com os do carnaval de Nice.

O samba-enredo não era dos mais brilhantes, mas foi bem cantado pelo estreante Wantuir, e a bateria de Mestre Odilon mostrou a cadência e precisão de costume. Desta vez a escola não teve tantos problemas em evolução. Foi um desfile frio, mas que poderia levar a escola de volta ao sábado.

vilaisabel2009bPor outro lado, a Unidos de Vila Isabel se recuperou do irregular desfile de 2008 e mostrou um grande Carnaval para se colocar entre as melhores escolas do ano. A união entre os carnavalescos Alex de Souza e Paulo Barros deu muito certo na concepção do enredo “Neste palco da folia, é minha Vila que anuncia: Theatro Municipal – A centenária Maravilha”.

O espetáculo começou já na comissão de frente chamada “Palco dos Sonhos”, na qual os  componentes formavam um palco por intermédio de camas que primeiramente eram levadas em separado e depois, juntadas. A comissão representava uma atração em que “dorminhocos” se levantavam e viravam atores da comédia dell’arte. Muito criativo! O gênio Martinho da Vila vinha apresentando a escola e estava representando João do Rio.

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O desfile todo foi brilhante, mas o abre-alas foi sem dúvida o destaque da Vila, pois a característica mais marcante de Paulo Barros (a de usar destaques como partes fundamentais na concepção das alegorias) foi muito pertinente. O elemento acoplado representava um prédio antigo de dois andares e as paredes eram abertas e fechadas, com trabalhadores em ação como no famoso “bota abaixo” de Pereira Passos no começo do século XX (foto).

Outro interessante elemento mostrava a encenação da ópera Aída na inauguração do local, e os componentes subiam e desciam da alegoria (por uma escadaria como a do Theatro) para apresentar o espetáculo (foto ao lado). Outra peça mostrada na avenida foi a do balé “O Lago dos Cisnes”, com uma enorme escultura de um cisne repleto de plumas e com ótimos movimentos (além de destaques formando o corpo do cisne com placas) e bailarinas vestidas de azul que mostravam o movimento da água. A destaque principal era a bailarina Ana Botafogo.

vilaisabel2009dAgradou também o carro “A Construção de um Sonho: Theatro Municipal do Rio de Janeiro”, no qual os destaques impecavelmente trajados andavam pelo elemento e o erguimento do local era encenado. As fantasias também eram super-adequadas ao enredo e os carnavalescos lançaram mão de adereços que simbolizavam aspectos de decoração do Theatro como lustres e materiais como mármore e bronze (foto).

O samba-enredo era dos mais agradáveis do ano e tinha melodia dolente, além de contar bem o enredo. Só pareceu acelerada demais a bateria, mas, apesar disso, a Vila esteve bem nos quesitos Harmonia e Evolução. Diante disso, a escola do bairro de Noel deixou a Sapucaí certa de disputar as primeiras colocações e, dependendo dos demais desfiles, até o título era uma possibilidade.

Depois da ótima exibição da Vila Isabel, infelizmente a Mocidade Independente de Padre Miguel mais uma vez desapontou sua torcida e críticos com um desfile que a fez correr risco de rebaixamento.

Além de o enredo “Mocidade apresenta: Clube literário Machado de Assis e Guimarães Rosa, estrelas em poesia” ter sido apresentado de forma confusa e sem impacto, visualmente a escola esteve mal, com uma divisão cromática infeliz e alegorias num nível inferior ao das demais escolas – o abre-alas teve princípio de incêndio mas o fogo foi controlado e não prejudicou o elemento.

Para piorar, o samba-enredo novamente conduzido por Wander Pires não conseguia nem ser poético nem mesmo empolgante, e se arrastou na avenida, o que impactou no quesito Harmonia. Salvou-se apenas a bateria de Mestre Jonas, com andamento impecável e boas convenções. Muito pouco para uma agremiação laureada como a Mocidade.

beijaflor2009bAntes de a Beija-Flor de Nilópolis entrar na avenida, um momento de grande emoção. Depois de descobrir um câncer no intestino e se tratar durante toda a fase pré-carnavalesca, o grande intérprete Neguinho da Beija-Flor coroou o sucesso do tratamento até aquele momento com um novo casamento na própria Sapucaí! Careca por causa da quimioterapia mas com o marcante sorriso aberto, Neguinho se uniu a Elaine Reis e teve como “convidado” ilustre na cerimônia o Rei Roberto Carlos.

Passado o momento, Neguinho se juntou aos demais cantores e levou com a competência de sempre o samba para o enredo “No chuveiro da alegria, quem banha o corpo lava a alma na folia”. Foi mais uma bela apresentação da Beija-Flor, que buscou mesclar irreverência e didatismo ao contar a história do banho.

A comissão de frente representou o deus crocodilo, que representava o Rio Nilo, no Egito, e os componentes estavam fantasiados de dourado com um tripé simbolizando uma pirâmide que se abria e formava uma praia. Em seguida, os componentes trocavam de roupa e viravam banhistas comuns. Já o abre-alas, de extremo luxo e bom gosto, tinha 51 metros de comprimento, 5 mil litros d’água e uma escultura dourada de Cleópatra tomando banho (foto).

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O segundo elemento mostrava o prazer de se banhar e a luxúria, com o requinte de 10 mil pedras azuis e 10 mil uvas  no elemento, além de 300 quilos de sisal nas barbas das esculturas. Como dizia o samba, o “banho foi excomungado” e isso foi representado no sombrio terceiro carro alegórico, que era todo em roxo e preto, com uma grande escultura representando uma peste com cara de rato e muitos braços (foto abaixo).

Em seguida, o desfile voltou a ficar com tons claros e a alegoria “Escola de Sagres e o Banho de Civilização” simbolizou e volta do banho à Europa. Já o lindíssimo elemento “Versalhes – o transpirar da suja Europa” tinha esculturas de cavalos e tons de rosa e dourado, representando a viagem dos portugueses à França, onde descobriram o hábito de se perfumar.

beijaflor2009cPor sua vez, o carro “Microorganismos, corpo limpo, corpo são” era multicolorido e com representações de vermes, bactérias e ácaros, além de uma enorme aranha verde com tentáculos em movimento para mostrar as pesquisas de Pasteur, que defendia o banho. No fim, depois de alas que mostravam os diferentes tipos de banho, a alegoria colorida e espelhada “Banhos Alternativos” mostrava o banho de gato, o banho de loja e o banho de fé. Havia um grande gato e esculturas de mulheres que compravam roupas e bijuterias – mesmo bem feito e acabado, achei que esse carro deu uma “viajada” em relação ao restante do enredo.

Encerrando o desfile, o belo carro que levava a velha guarda chamava-se “Aos Orixás, a nossa fé, quem banha o corpo lava a alma” e deixava clara a mensagem do enredo com uma grande escultura de uma negra com uma pomba da paz nas mãos em movimentos articulados.

Em relação aos demais quesitos, o samba era longo e menos inspirado do que os dos anos anteriores, mas contava bem o enredo. Confesso que, se em 2007 e 2008, a Beija-Flor foi claramente superior a outras escolas nos quesitos, em 2009 achei uma apresentação bem mais divertida mesmo sem ser tão perfeita em Harmonia e Evolução. Restava ver se outras escolas seriam capazes de bater a Beija-Flor, que rivalizou com a Vila como melhor escola do domingo.

Com boas expectativas, a Unidos da Tijuca entrou na avenida disposta a manter-se entre as primeiras colocadas com o enredo “Tijuca 2009: Uma odisseia sobre o espaço”, mas não obteve sucesso. O enredo sobre o céu acabou se mostrando um tanto confuso pela forma como foi desenvolvido, pois misturou mitologia grega, Egito antigo, navegações e personagens de cinema. Apesar de inegáveis momentos de criatividade e beleza, a apresentação não teve o mesmo impacto do que em desfiles anteriores da escola.

Para piorar, o carro “Zeus e Pégaso” enfrentou sérios problemas para entrar na avenida e isso comprometeu uma evolução já confusa pela dificuldade de os componentes passarem pela pista devido à enorme quantidade de água jogada pelos carros da Beija-Flor – parecia que havia chovido bastante. Por outro lado, os componentes desfilaram com muita garra embalados pelo estreante Bruno Ribas na condução do samba.

Por falar nisso, o samba-enredo era considerado bom e mesclava animação com trechos mais poéticos, como no belo verso “O meu Borel visto de cima é mais bonito”. No geral foi uma bonita, mas irregular apresentação.

A Unidos da Porto da Pedra abriu a segunda noite de desfiles, mas não fez uma boa exibição com o enredo “Não me proíbam criar. Pois preciso curiar! Sou o país do futuro e tenho muito a inventar”. Até que a comissão de frente agradou, com uma coreografia simbolizando uma rede de neurônios que viravam um cérebro num tripé para mostrar a origem da curiosidade. Em seguida, um bonito pede-passagem apresentou a escola.

Mas no geral, o enredo desenvolvido pelo competente carnavalesco Max Lopes não empolgou, e a falta de recursos ficou patente. Para piorar, houve problemas com o abre-alas chamado “Expulsão do Paraíso”: o elemento era acoplado em diversas partes e tripés, mas houve desacoplamento, o que acarretaria em punição na apuração. Os demais elementos misturavam lendas, mitos e filosofia com as invenções do homem mas não tinham aquele impacto.

O samba-enredo também não era dos melhores – como muitos daquele Carnaval, aliás – e não contagiou nem público nem componentes. Além disso, a escola não esteve bem nos quesitos Evolução e Harmonia, o que deixava a Vermelho e Branco com riscos de rebaixamento, no que prometia ser uma briga indigesta com a Mocidade Independente de Padre Miguel.

salgueiro2009dJá o Salgueiro fez uma apresentação absolutamente arrebatadora e inspirada. O enredo “Tambor” foi um dos mais brilhantes da vitoriosa trajetória do grande carnavalesco Renato Lage. Todas as alegorias e fantasias apresentaram excelente concepção e realização, com acabamento impecável e uma divisão cromática forte, mas sem ser pesada.

salgueiro2009eO extraordinário abre-alas, segundo se disse à época, custou R$ 400 mil e tinha acrobatas da Intrépida Trupe fazendo acrobacias numa cama elástica, a exemplo do que acontecera numa alegoria em 2008. O elemento tinha dezenas de enormes tambores que eram tocados durante o desfile e muito néon vermelho. O segundo elemento, chamado “Essência Rural”, teve problemas para entrar na pista, mas não atrapalhou a evolução da escola, e ainda apresentou as origens dos batuques nas tribos pré-históricas, com animais em movimentos articulados e muita luz em marrom.

O carro “Raízes Místicas do Tambor” também sofreu para entrar na Sapucaí e teve pequenos danos no topo devido a um choque com um sinal de trânsito. Houve buracos na evolução, mas nada desastroso. Em seguida, o desfile mostrou a batucada e seu aspecto religioso, no elemento “Sagração aos Deuses”, todo em branco e com figuras de baianas (foto maior acima). Este carro teve um desacoplamento na entrada da avenida, que, por sorte, foi antes do primeiro módulo de julgamento, e mais à frente bateu com força na pista, o que causou alguns danos.

salgueiro2009bDepois, o desfile “chegou” ao Brasil, com uma homenagem ao boi-bumbá no carro “Na Cadência dos Bumbás”, com um grande boi branco em cima de um enorme bumbo adornado por um também gigantesco cocar de índio. Na sequência, os ritmos brasileiros como maracatu, forró e xaxado foram lembrados numa belíssima e bem acabada alegoria, com muito dourado e branco (foto). Já os ritmos modernos foram representados no carro “Eletrizante Batuque das Ruas” mostrava o Olodum e tinha Carlinhos Brown como destaque e muito preteado e neon. O último carro alegórico homenageava os mestres de bateria das escolas de samba e ainda prestava um tributo ao saudoso Mestre Louro, morto em 2008 (foto abaixo).

E se o enredo era sobre batucada, os tambores salgueirenses rufaram de forma furiosa como diz o apelido da bateria de Mestre Marcão, com um contagiante ritmo, além de ótimas bossas e paradinhas e, claro, com a presença da exuberante rainha de bateria Viviane Araújo tocando tamborim. Os componentes se mostraram empolgados do começo ao fim, cantando com força o samba-enredo.

salgueiro2009cAliás, segundo os críticos da época, talvez o único grande senão do Salgueiro tenha sido em samba-enredo. Isso porque o poético e dolente samba de Edgar Filho, Luiz Antonio Simas, Beto Mussa, Gari Sorriso e Bené do Salgueiro foi preterido nas eliminatórias pela, digamos, mais funcional obra de Moisés Santiago, Paulo Shell, Leandro Costa e Tatiana Leite. No entanto, inegavelmente o refrão principal “Vem no tambor da Academia / Que a Furiosa Bateria vai te arrepiar / Repique e tamborim, surdo, caixa e pandeiro / Salve o Mestre do Salgueiro” era contagiante, além de prestar uma homenagem a Mestre Louro.

Fato é que o desfile foi quente o tempo todo, e o Salgueiro, sem correria entre os componentes, deixou a Praça da Apoteose com uma boa dose de favoritismo ao título, pois conseguiu uma ótima apresentação nos quesitos plásticos, nos quesitos de pista, e o público assistiu à passagem da agremiação com entusiasmo.

imperatriz2009Já a Imperatriz Leopoldinense fez uma auto-homenagem com uma apresentação irregular. Embora apresentado com uma boa divisão por Rosa Magalhães, o enredo “Imperatriz… só quer mostrar que faz samba também” teve problemas estéticos graves, o que, pela conhecida capacidade da carnavalesca, sem dúvida ocorreu devido à falta de recursos e materiais pela crise econômica mencionada no começo do texto.

A comissão de frente representou a estação de Ramos com um tripé mostrando um trem que levava prosperidade ao bairro da escola, enquanto o abre-alas e os primeiros carros simbolizaram a musicalidade da região, com muito verde e branco. Depois, a Imperatriz relembrou seus desfiles campeões como na alegoria sobre o título de 1980 (“O quê que a Bahia tem”, na foto) e num tripé que mostrava o título de 1989 mas infelizmente estava em um padrão de Grupo de Acesso – veja no Cantinho.

O samba-enredo tinha bons momentos mas o intérprete Paulinho Mocidade, de volta à escola depois de sete anos, estava rouco e não conseguia cantar as notas mais altas. Por outro lado, a bateria esteve impecável, e Mestre Marcone se consolidava como um dos melhores diretores de bateria do Rio de Janeiro. Foi um desfile simpático, mas com problemas, e o Gresil provavelmente ficaria do meio para trás na tabela.

portela2009aA Portela entrou na avenida com garra e também se credenciou à briga pelas primeiras colocações com uma corretíssima apresentação falando sobre as formas de amor, no enredo “E por falar em amor, onde anda você?”, dos carnavalescos Lane Santana e Jorge Caribé – o Migão já escreveu sobre esse desfile aqui no Ouro de Tolo.

A comissão de frente simbolizou a coragem e lealdade dos cavaleiros da Távola Redonda e o Rei Arthur, com vários tripés representando cavalos. A lindíssima águia desta vez estava toda dourada e a alegoria acoplada remetia ao filme “O Feitiço de Áquila”, no qual um casal de amantes recebe um feitiço para se separar – o elemento teve a queda de uma das torres do castelo caiu na pista e ainda um princípio de incêndio na dispersão. Em seguida, o segundo carro tinha uma bela reprodução do Taj Mahal com iluminação azul e lilás para simbolizar o amor entre o príncipe Shah Jahan e sua esposa preferida Mumtaz Mahal.

portela2009cUm outro elemento imponente e bem executado foi o que representou a vinda dos escravos para o Brasil e o amor pela terra natal (foto). Já a alegoria “Vozes do Brasil” simbolizou os cantores que cantavam o amor e tinha a dupla Zezé di Camargo & Luciano como destaque, além de ser um carro no melhor estilo Paulo Barros, com os integrantes vestidos com as cores do Brasil e posicionados de maneira a formar a bandeira, com coreografias.

O amor virtual foi lembrado em diversas alas criativas vestidas como se fossem telefones e pelo carro “A Grande Família”, no qual teclas de computador se abriam para a saída de destaques e esculturas de homens e mulheres de costas um para o outro com laptops e celulares nas mãos. Uma crítica ao modo, digamos, tecnológico pelo qual casais vinham se conhecendo.

portela2009bA Portela prosseguiu seu desfile com o elemento “Antigos Carnavais”, com pierrôs e colombinas, e a luxuosa alegoria com a sempre emocionante participação da velha guarda portelense, ricamente vestida. Em termos de fantasias, aliás, os carnavalescos souberam mesclar luxo nos setores mais clássicos e criatividade nos figurinos que eram mais voltados à modernidade.

O samba-enredo muito bem cantado por Gilsinho era correto – veja mais sobre a disputa portelense no Cantinho do Editor – e a Portela voltou a mostrar competência num quesito em que historicamente sempre foi forte: Harmonia. Por outro lado, em Evolução a escola teve de apertar o passo no fim e fechou o desfile a um minuto dos 82 regulamentares. Já a Tabajara do Samba, comandada pelo Mestre Nilo Sérgio, esteve em grande noite e sustentou o samba com a firmeza de sempre.

Mesmo com a correria no fim, a Portela terminou seu melhor desfile em anos com plenas possibilidades de voltar pelo segundo ano consecutivo ao sábado das campeãs, mas parecia não ameaçar o favoritismo do Salgueiro. Mas foi uma apresentação elogiável.

mangueira2009Cercada de dificuldades na fase pré-carnavalesca, a Estação Primeira de Mangueira de fato chegou à Sapucaí com problemas sérios de acabamento e finalização das alegorias para o enredo “A Mangueira traz os Brasis do Brasil mostrando a formação do povo brasileiro”, do carnavalesco Roberto Szaniecki. O tema foi baseado no livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro, e mostrou a miscigenação do povo brasileiro.

A ideia foi passada com coerência na divisão das alas e alegorias, mostrando portugueses, índios e negros, além da divisão pelas regiões do país e a união das raças no Carnaval. Mas os carros, embora grandes, realmente estavam inacabados, e a escola fatalmente perderia pontos, assim como nas fantasias, embora nos figurinos os problemas fossem menos flagrantes, e a divisão cromática tenha sido adequada, algo sempre difícil com o verde e o rosa.

Mas os componentes levantaram a escola, com muito canto e samba no pé, graças ao belo samba-enredo da superparceria formada por Gusttavo Clarão (que deu um tempo da Viradouro depois da eliminação precoce de seu lindo samba para 2008), Lequinho, Júnior Fionda e Gilson Bernini. A bateria de Mestre Taranta, que comandou os ritmistas numa cadeira de rodas devido à amputação dos dedos do pé direito por causa do diabetes, esteve impecável em andamento e fez até paradinhas, algo incomum na Mangueira até então.

Sem problemas de evolução, a Verde e Rosa terminou seu desfile aliviada, já que a apresentação, em que pese a série de dificuldades da fase pré-carnavalesca, não teve grandes problemas, e a escola não corria risco de rebaixamento. Uma vaga no Desfile das Campeãs era bem mais complicada, apesar de outras escolas como Imperatriz, Unidos da Tijuca e Porto da Pedra terem tido problemas.

Falando em apresentação irregular, a Unidos do Viradouro não teve o que comemorar no último desfile de 2009. O carnavalesco Milton Cunha desenvolveu o enredo “Vira Bahia, pura energia!” e precisou se desdobrar para tentar mostrar (e carnavalizar) o universo dos biocombustíveis – veja mais nas Curiosidades. Não teve um grande êxito dada a dificuldade do tema, que acabou misturando orixás, a Usina de Candeias, reciclagem e até Protocolo de Kyoto!

Assim como no caso da Mangueira, o conjunto visual não foi dos mais impactantes, com as fantasias superiores às alegorias, mas o vermelho e branco da escola foram respeitados, e as falhas de acabamento não foram flagrantes. De qualquer forma, ficou tudo muito confuso devido à equivocada escolha do enredo.

Por incrível que pareça, o samba-enredo dos veteranos Heraldo Faria e Flavinho Machado era muito agradável em melodia e contava da melhor forma possível o que o enredo queria passar. E na sua despedida na escola, Mestre Ciça voltou a apresentar seu vasto repertório de convenções ousadas e paradinhas. Com o dia amanhecendo, a Viradouro fez um típico desfile da zona da marola.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Depois de mais uma maratona de desfiles, o Salgueiro conquistou dois dos mais importantes prêmios do Estandarte de Ouro, o de melhor escola e melhor enredo, e era considerado favorito ao campeonato. Mas a Vila Isabel, com sua excelente apresentação, e a Beija-Flor, com sua força habitual nos quesitos, também tinham chances, enquanto a Portela corria por fora.

A apuração começou já com uma surpresa no segundo quesito: o marcheado e criticado samba-enredo do Salgueiro ganhou quatro notas dez. Mas a escola, apesar de ter liderado na maior parte do tempo com justiça, só deslanchou na apuração ao obter notas máximas em Alegorias e Adereços, Fantasias e Comissão de Frente, quesitos nos quais a escola da Tijuca realmente foi superior.

Numa apuração até monótona, o Salgueiro quebrou com tranquilidade um jejum de títulos que vinha desde 1993 e terminou com 399 pontos, um a mais do que a vice-campeã Beija-Flor, que ficou apenas 0,1 ponto à frente da terceira colocada Portela. Com notas baixas em Bateria e Samba-Enredo, a Vila Isabel terminou em quarto, seguida por mais duas surpresas, a Grande Rio (cujo o criticado samba-enredo levou três notas dez) e a Mangueira (que foi menos despontuada do que deveria nos quesitos plásticos, nos quais teve visíveis problemas).

De forma considerada absurda, o Império Serrano foi rebaixado na última colocação, mesmo tendo feito um desfile para permanecer com tranquilidade no Grupo Especial, enquanto a Porto da Pedra, apesar dos inúmeros problemas, e a Mocidade, que teve uma apresentação abaixo da crítica, ficaram em 10º e 11º lugares, respectivamente.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Acadêmicos do Salgueiro 399
Beija-Flor de Nilópolis 398
Portela 397,9
Unidos de Vila Isabel 397,6
Acadêmicos do Grande Rio 396,9
Estação Primeira de Mangueira 396,8
Imperatriz Leopoldinense 396,4
Unidos do Viradouro 395,1
Unidos da Tijuca 393,1
10º Unidos do Porto da Pedra 392,4
11º Mocidade Independente de Padre Miguel 391,5
12º Império Serrano 390,7

No Grupo de Acesso A, a União da Ilha obteve uma controvertida vitória depois de ter feito uma alegre – mas irregular – apresentação com o enredo “Viajar é Preciso – Viagens extraordinárias através de Mundos conhecidos e desconhecidos”. Mesmo com problemas, a Tricolor levou notas dez de ponta a ponta, exceto em Conjunto Harmônico e Alegorias e Adereços.

Renascer de Jacarepaguá (principalmente) e Acadêmicos da Rocinha, que fizeram apresentações superiores, terminaram em segundo e terceiro, enquanto a Estácio de Sá ficou numa incompreensível quinta posição, atrás da São Clemente.

Na verdade, a apuração foi confusa do começo ao fim, com troca na ordem de leitura de quesitos e a inesperada (ou não, dependendo do ponto de vista…) decisão pelo não rebaixamento de escolas – com isso, salvaram-se Caprichosos e Inocentes de Belford Roxo, escola do presidente da Lesga, Reginaldo Gomes.

No Acesso B, as injustiçadas de 2008 acabaram dando a volta por cima: o título ficou com a Acadêmicos do Cubango (com a reedição do clássico samba-enredo “Afoxé”, de 1979) e a Unidos de Padre Miguel, em um empate no mínimo estranho – mais detalhes no Cantinho. Ambas as escolas subiram para o Acesso A de 2010, após uma grande polêmica pré carnavalesca com a Lesga.

CURIOSIDADES

– Glenda Kozlowski substituiu a jornalista Maria Beltrão e se juntou a Cleber Machado na narração dos desfiles pela TV Globo. No primeiro ano, ela atuou de forma mais contida e formal, mas nos anos seguintes (ela ficou até o Carnaval de 2013) adotaria um estilo muito mais alegre e despojado.

– Seis pessoas que assistiam ao desfile da Mangueira nas frisas próximas ao setor 9 ficaram feridas quando uma câmera panorâmica da TV Globo caiu após o rompimento de cabos. Ninguém foi acertado pela câmera, mas pedaços dos cabos que se romperam atingiram os espectadores, que sofreram apenas escoriações. Ainda durante a passagem da Mangueira, o narrador Cleber Machado informou o ocorrido e a emissora se desculpou em nota no Jornal Hoje.

– A Lesga assumiu a transmissão do desfile do Grupo de Acesso e contratou o grande Paulo Stein para comandar a transmissão, alugando o espaço na CNT. O Carnaval do Povão ainda teve a exibição de todos os esquentas das escolas sem cortes. Mas o retorno do experiente narrador acabou sendo curto, já que foi a última vez em que a emissora transmitiu os desfiles do Acesso. Outra curiosidade é que a equipe foi colocada em um caminhão atrás do hoje Setor 10, ou seja, o desfile foi transmitido em uma espécie de “off tube”. Em entrevista ao Ouro de Tolo em 2014, o narrador, hoje no SporTV, comentou a aventura dessa transmissão.

– Foi o último carnaval de Rosa Magalhães como carnavalesca da Imperatriz Leopoldinense. De 1992 a 2009, a agremiação ganhou cinco campeonatos (1994, 1995, 1999, 2000 e 2001), obteve dois vices (1993 e 1996) e só não participou do Desfile das Campeãs em quatro oportunidades (1997, 2006, 2007 e 2009). Nos anos seguintes, Rosa assinaria carnavais na União da Ilha (2010), Vila Isabel (2011, 2012 e 2013), Mangueira (2014), São Clemente (2015, 2016 e 2017), Portela (2018 e 2019) e Estácio de Sá (2020).

– Embora ainda casada com Renato Lage, Márcia Lage alçou voo solo nos carnavais de 2009 e 2010. No primeiro ano, como já escrito no texto, ela assinou o Carnaval do Império Serrano e, apesar dos elogios, a escola foi injustamente rebaixada. Em seguida, Márcia fechou com a Mangueira para assinar o desfile de 2010, mas foi dispensada pelo presidente Ivo Meirelles ainda em setembro, depois de entregar os desenhos: “Já estava com os desenhos prontos, até que passou a não ser mais aquilo que o presidente queria. Não estava agradando, é brincadeira. A impressão que eu tenho é que meu trabalho é muito ruim. Estou há seis meses me dedicando à Mangueira e apenas agora começou a não ser aquilo que queriam. Os novos carnavalescos estão à altura que a escola merece”. Em 2011, Márcia retomou a parceria com o marido no Salgueiro e os dois continuam juntos até hoje.

– Mesmo sem saber se cantaria na avenida, Neguinho da Beija-Flor gravou o samba-enredo da Beija-Flor no CD e agradeceu aos fãs no começo da faixa: “Agradeço a Deus e a todos que rezaram e continuam orando pela minha recuperação”. Na Sapucaí, Neguinho voltou a dizer a frase antes de cantar no desfile.

– Depois do casamento e do esforço para cantar na avenida, Neguinho da Beija-Flor foi proibido pelos médicos de participar do Desfile das Campeãs. O grande cantor estava com a imunidade baixa e faria uma nova sessão de quimioterapia na segunda-feira seguinte. Para a alegria de todos, Neguinho ficou curado e continuou defendendo a agremiação nilopolitana nos anos posteriores.

– A divulgação do enredo da Viradouro demorou muito. Houve especulações de que a escola reeditaria o enredo “Bahia, de todos os Deuses” (Salgueiro-1969), mas quando, enfim, o tema foi anunciado, foi essa salada já descrita.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

portela722009 marca a minha volta ao Grupo Especial na Sapucaí e especialmente a desfilar na Portela – logo com a melhor classificação desde 1995. Desfilei em ala comercial, com fantasia representando o “amor virtual” (ao lado).

Apesar de o enredo ter sido novamente definido de forma tardia, desta vez foi possível haver uma excelente safra de composições. Não é exagero dizer que os cinco sambas finalistas mais dois que caíram antes (das parcerias de Juan Espanhol e Caixa D´Água) tinham total condição de ir para avenida. A meu juízo, o melhor samba era o da parceria do futuro presidente Serginho Procópio, mas o vencedor deveria ter sido a parceria comandada por Eliane Faria, filha de Paulinho da Viola.

Um desfile sem dúvida alguma delicioso e que possibilitou minha estreia no sábado das campeãs. Escrevi sobre ele na série “Samba de Terça”.

Em termos de resultados, foi meu melhor carnaval, porque também desfilei na campeã do Acesso União da Ilha do Governador – em um resultado a meu ver imerecido: eu mesmo saí do desfile e retornei para as frisas bastante chateado. A escola teve eleições para a presidência no pré-Carnaval, com Ney Filardi derrotando Leila Gazelle em um pleito bastante disputado.

Imagem311Também desfilei na União de Jacarepaguá (Harmonia) e no Boi da Ilha do Governador, no qual estava como diretor aquele ano. Assisti aos dois grupos de Acesso nas frisas do Setor 3 e, de volta ao Especial, estava nas arquibancadas do Setor 11 no domingo. Segunda-feira apenas desfilei.

Aliás, o resultado do Acesso B daquele ano foi bastante polêmico. Nas palavras que escrevi quando do artigo sobre “Afoxé”:

“O Grupo de Acesso B chegou para seu desfile na noite da “Terça feira Gorda”, 24 de fevereiro, sem uma definição precisa sobre quantas escolas seriam promovidas. A Aescrj dizendo que iriam duas; a Lesga, uma, e a Riotur sem conseguir se impor como entidade reguladora, em última instância, do carnaval. (..) 

(…) O julgamento daquele grupo privilegiava os quesitos plásticos ao juntar em um único quesito Harmonia, Evolução e Conjunto. Por isso, como disse à época em listas de discussão, em que pese a Cubango ter sido a escola que mais havia me agradado, me parecia que Padre Miguel estaria em vantagem no resultado final: apesar do horroroso – e bota horroroso nisso – samba, a escola estava muito bonita plasticamente.

O leitor quer saber mesmo como foi a apuração? Foi esquisito. Muito esquisito.

Em 2009 o regulamento previa que cada quesito teria cinco notas, de cinco jurados, das quais a menor e maior nota seriam descartadas para cada ítem julgado. As regras também previam que só poderia haver empate na primeira colocação, e se as duas escolas obtivessem notas válidas máximas em todos os quesitos – alcançando o total de pontos máximo possível, 240.

Adivinha o que aconteceu? Acadêmicos do Cubango e Unidos de Padre Miguel “empataram” em primeiro lugar, com… 240 pontos! Com isso as duas conquistaram o título e criaram um fato “consumado” para a Lesga: como não havia desempate, as duas teriam de subir – como efetivamente aconteceu.

Incrível, não? Que coincidência…

Mas ainda tem mais: Boi da Ilha e Alegria da Zona Sul, que seriam as ameaças às duas escolas, foram jogadas lá para baixo – a escola insulana em um incompreensível oitavo lugar, e a agremiação de Copacabana em décimo primeiro, a uma posição do que seria um inacreditável rebaixamento.

Aliás, uma curiosidade desta apuração: se todas as notas fossem válidas a Cubango ficaria apenas na terceira colocação, atrás da já citada Padre Miguel e da União do Parque Curicica.

Sendo bem sincero: parece muito difícil de acreditar que este “empate” veio naturalmente das notas dos jurados, embora não se tenha provas materiais de que houve algum tipo de ajuste no resultado. Ainda mais se tendo o histórico dos anos anteriores, com alguns resultados bastante estranhos – para se dizer o menos.

No final das contas as duas agremiações ascenderam ao Acesso A para 2010, conforme era o objetivo inicial.

Contudo, a Lesga se “vingaria”: as duas tiveram de dividir o valor da subvenção que seria destinada a uma escola (o que não foi grande problema para as agremiações, ambas com patronos endinheirados); e no resultado de 2010 a Padre Miguel foi mandada de volta para o Acesso B e a Cubango só não tomou o mesmo caminho porque a Paraíso do Tuiuti fez um desfile desastroso.”

Imagem 242A Mangueira sofreu bastante, uma vez mais, com a influência dos “donos do morro” na preparação de seu desfile – além da crônica incapacidade de seu carnavalesco Roberto Szaniecki de terminar os carnavais que desenvolve. Por outro lado, a Imperatriz foi bastante infeliz no tripé que homenageava o título de 1989 (foto).

O Salgueiro foi campeão com inteira justiça, mas seu samba, a meu juízo, é um dos piores campeões da história. Incrivelmente, levou quatro notas 10. Aliás, entre as cinco primeiras colocadas foi o resultado mais justo dos últimos anos: o Salgueiro acima, Beija Flor, Portela e Vila se equivalendo em virtudes e defeitos e Grande Rio um pouco abaixo.

O desfile do Grupo de Acesso A se iniciou com mais de uma hora de atraso porque esqueceram de fechar as ruas em torno das áreas de armação e concentração. A ponto de ter mendigo dormindo sobre um dos carros da São Clemente, escola que abria a noite daquele sábado de desfiles.

A Viradouro trouxe talvez um dos enredos mais “viajantes” da história: os orixás saíam da Bahia e encontravam deuses japoneses em Kyoto para apresentar o biocombustível e atender ao protocolo sobre clima assinado na cidade nipônica. É, em carnaval pode tudo…

Uns dez dias antes do desfile estive na Cidade do Samba e as cores das alegorias da Mocidade estavam tão fortes que chegavam a doer a vista. O não rebaixamento foi absurdo.

O não rebaixamento no Acesso A foi decidido antes do desfile, em visita aos barracões. Percebeu-se que as escolas do presidente e do vice da Lesga estavam bem para trás em relação às outras e decidiu-se por tal medida. As duas foram as duas últimas colocadas, com a Caprichosos ficando em último devido à não observância de obrigatoriedades da Inocentes ter ficado sem punição.

Com o cantor Dominguinhos do Estácio, a Inocentes de Belford Roxo, aliás, trouxe uma justa homenagem a Leonel Brizola, mas a escultura que representava o político e estadista tremia tanto que parecia estar com Mal de Parkinson… A escola deveria ter sido punida em Obrigatoriedades e não o foi.

O Boi da Ilha, que tal qual a Vila Isabel homenageava o centenário do Theatro Municipal, teve notas melhores em samba-enredo. Para orgulho do colunista Aloisio Villar, um dos autores.

Links

Relembre o desfile campeão do Salgueiro em 2009

A apresentação que deu o vice à Beija-Flor

A bonita exibição da Portela

O desfile da Vila Isabel sobre o Municipal

Fotos: Liesa e Arquivo Pessoal Pedro Migão e Fabrício Gomes

14 Replies to “2009: Tambor do Salgueiro ecoa, e Furiosa Bateria arrepia rumo ao título”

  1. Na apuração, o Haroldo Costa dizia que “O Tambor bateu forte” e foi o que aconteceu! Acho que foi um dos melhores desfiles do Sal nos últimos 10 anos. Engraçado demais o Quinho fazendo o “ê ê ô” durante o refrão principal.

    Eu achava o samba da Grande Rio a oitava maravilha do mundo, muito por na época começar a ser fã da Paolla Oliveira – à época, rainha da bateria.

    No Acesso, o Ivo Meirelles produziu um bom CD para o Grupo, pena que ele não conseguiu repetir a façanha sete anos depois…

    Ainda no A, Reginaldo Gomes fez uma deflagrada marmelada no resultado ao não rebaixar a sua querida escola, o que deixaria claro que a LESGA seria uma tragédia anunciada.

    A apuração do B foi uma bagunça e tanto… Aliás, acerto da Cubango em reeditar o melhor samba da sua história, ainda que no ano original ela desfilava em Niterói, a bola fora foi dispensar o Tiãozinho. Aliás, Afoxé foi o último título cubanguense em terras de Araribóia.

    Se não me falha a memória, o Bom Dia Brasil fez uma série mostrando como funciona uma disputa de samba-enredo, tendo o Salgueiro como cenário.

    Voltando ao Grupo A, como se esquecer de Pedro Migão, confessando anos depois no Bar Apoteose, que dormiu de roncar durante o desfile da Santa Cruz…

    Apesar do samba da Caprichosos ser ruim, foi a primeira vez que ouvi a voz do Zé Paulo, e gostei de cara! Cheguei a dizer que “daqui a pouco ele estará numa escola grande” dito e feito, no ano seguinte já estava na Mangueira. Hoje, para minha sorte, defende a Viradouro.

    Meu amigo Rodrigo Vilela (que vai aparecer nos comentários daqui a pouco) quase infartou ao ver sua Mocidade quase caindo para o Acesso…

    Falando um português bem claro, Glenda era uma merda como apresentadora de desfiles. Ela é o terror da produção, segundo consta.

    Luizito ganhou no grito da produção do CD pois queria incluir o caco “cada lágrima” na virada para a segunda parte a qualquer custo.

    Falando nisso, graças ao bom Deus foi o último disco produzido em estúdio! No ano seguinte passou a ser na Cidade do Samba – apesar de em 2010 terem errado e feio a mão no andamento dos sambas.

    Que venha 2010, um ano trágico pra mim!

    1. Boa tarde!

      Prezado Carlos Alberto:

      Não me lembro desta reportagem do “Bom dia Brasil” sobre disputas, mas o “Fantástico” fez uma interessante matéria sobre disputa de samba na Portela para o carnaval de 2014, revelando os altos custos para se chegar a uma final.
      Segue o link: https://www.youtube.com/watch?v=zssuYwfhjzU

      Atenciosamente
      Fellipe Barroso

  2. Boa noite!

    Prezado Fred Sabino:

    Vão chegando os carnavais mais recentes, e a memória vai ficando melhor. Este está cheio de curiosidades (Deixarei as opiniões de lado aqui)!

    GRUPO ESPECIAL

    – O nome do “brinquedinho” da Comissão de Frente do Império Serrano é “Segway”, invenção de 2001 ainda pouco usada.

    – Um dos integrantes da comissão de Frente da Grande Rio, que representava o “Rei Sol”, despencou do elemento cenográfico em pleno desfile. Eles fizeram um guarda-corpo para o desfile das campeãs.

    – Cebola, carnavalesco da Mocidade, tentou realizar um ajuste de última hora em frente ao setor 1 (Onde eu estava) numa parte do carro abre-alas, caiu, e quase foi atropelado pela composição.

    – Todos os carros do Salgueiro tiveram problemas de entrada. Nada foi no ritmo que deveria ser. Felizmente na maioria dos casos não comprometeu a Escola, já que os buracos se formavam até pouco depois da linha de início (Antes do primeiro módulo).

    – Ainda sobre o Salgueiro, a Escola distribuiu gratuitamente para o público uma pequena revista contendo os desenhos de todas as alas, fantasias, elementos cenográficos e suas respectivas explicações. Deu tão certo, que ajudou a tirar da gaveta o projeto “Roteiro dos desfiles”, planejado alguns anos antes, mas sem apoio para publicação.

    – O elemento cenográfico da Imperatriz em homenagem ao título de 1989 era uma empilhadeira recoberta de pano. Uma nojeira a qual tive o “privilégio” (?) de ver ainda na Cidade do Samba.

    ACESSO A

    – Torci pela Estácio do momento em que seu visual despontou na Marquês de Sapucaí até o fim de seu desfile. Tinha muito estaciano chorando ao término da apresentação, merecedora do prêmio Samba-Net de melhor escola! O enredo “Que chita bacana!” foi baseado num livro homônimo, publicado em 2005, e esgotado (Não o encontro nem no “Estante Virtual”…) Segue o link da obra: http://www.acasa.org.br/evento.php?id=53

    – Zé Paulo Sierra adaptou seu grito de guerra! Devido ao atraso homérico, a Caprichosos entrou com sol forte. Em vez de gritar “Prepare o seu coração!”, ele gritou “Prepare o protetor solar!”. Hilário!

    – Aliás, falando em Caprichosos, ela começava a mostrar as desgraças de ter como Presidente o “Midas invertido” (Tudo o que toca vira bosta!) Paulo de Almeida…

    ACESSO B

    – Um privilégio poder ver “Afoxé” na Avenida. Valeu a reedição! O samba quando é bom funciona em qualquer tempo, e esse aí não foi diferente, convidando todo mundo para uma sambada de boas!

    Que venha 2010, e um pequeno acidente que tive no sambódromo…

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

  3. O ano que marca o rebaixamento garantido de quem vem do Acesso nessa fase de sobe um, desce um. Somente fatores externos mudaram essa história de lá para cá. A Viradouri cair em desgraça e o incêndio na Cidade do Samba. Lesgas e Lierjs com resultados contestados ajudam a sedimentar essa relação.

  4. Salve, Carlos. Cheguei!!

    O que dizer de 2009? O pior ano do Carnaval no Sambódromo!! Pego as palavras do Marco Maciel, do Sambario:

    “Não se chegou a um real consenso sobre o melhor samba, tanto que o da Mangueira, uma obra apenas comum e correta, levou o Estandarte. A verde-e-rosa apresentou sambas bem melhores nos dois anos seguintes. Foi um ano de escolhas desastrosas. A Beija com um samba que considero “tosco” e que preteriu a bela obra do Cláudio Russo. A Mocidade que colocou um samba sem sal na Sapucaí (o literato iluminado que antes era “literário iluminado”), em detrimento ao lindo hino do Diego Nicolau. A Imperatriz tinha pelo menos dois sambas melhores que o vencedor (muito melhor na voz do Andanças que do Paulinho): o do Guga e do Inácio Rios. O do Salgueiro nem se fala. Dizem que a presença da parceria do Simas na final foi por pura e exclusiva pressão dos internautas, tanto que na final não teve nenhum voto dos segmentos”.

    A safra foi terrível. Como disse o João Marcos, no Sambario, “a faixa do Império Serrano foi o único incentivo para comprar o CD”. Nenhum dos onze sambas inéditos se salvou. NENHUM!!

    O que mais dói é que minha irmã escuta a porcaria do “vem no tambor…” toda vez que a gente faz aquele faxinão em casa. Depois eu purifico meus ouvidos com “menina quem foi teu mestre”. O que se tornou o Salgueiro em questão de samba, hein? Maldito Ita!

    O samba da Vila Isabel juntou tudo de errado que se pode ter num samba. E, apesar de ter gostado demais da regravação do Império Serrano, ainda prefiro a versão de 1976. Aliás, muitos culpam o Paulinho Mocidade pelo fraco rendimento do samba da Imperatriz. Exclua-se a rouquidão (essa sim, inaceitável), então deduz-se que nem Jamelão salvaria aquele samba fraquinho – que cairia muito melhor na voz do Preto Joia.

    O que eu mais gostei foi o da Grande Rio e, em seguida, o da Portela. Mas não é aqueeeeeeeela paixão toda!!

    Fora isso, a desculpa esfarrapada da Beija-Flor com a água (muitos dizem que ela derramou sabão, e não avisou a Unidos da Tijuca de propósito), a apresentação divinal do Salgueiro (apesar do terrível samba) e… bem, como torcedor da Mocidade, é triste ter que admitir que ela deveria ser a rebaixada, com sobras.

    Assisti o desfile inteiro chorando, tamanha a droga que via na avenida. O Chico Spinosa foi claro, na análise sobre o desfile (ele estava na Globo, comentando): “eu só desejo boa sorte à Mocidade”. Tivemos o desfile cortado pra mostrar o casamento do Neguinho da Beija-Flor!!!

    E admito a cara de pau; enquanto minha irmã, Beija-Flor de coração, estava emburrada com o vice-campeonato, eu vibrava com as notas de bateria e comissão de frente que salvaram a Mocidade por 0,8 pontos!! Eram lágrimas de alívio misturadas com gritos de “Deus existe” e a sensação de que, se não caímos em 2009 (e em 2013 também), só um desastre nos tiraria do Especial.

    Sensação nada boa, diga-se de passagem. E mesmo não querendo mais o Wander Pires na escola, eu digo: obrigado por ter salvado a gente!!!

    No mais, o título da União da Ilha na segundona não foi como deveria ser, mas já era merecido há muito tempo!!

  5. Mesmo achando que a Vila Isabel tinha feito um desfile digno de campeã, quando o Salgueiro iniciou seu desfile, tudo mudou, a Academia do Samba pisou forte na avenida e conquistou um título justíssimo, num excelente trabalho do Renato Lage. A Vila seria minha vice-campeã, seguida de Portela, Beija, Grande Rio e Imperatriz.

    A Mangueira realmente não merecia voltar entre as seis pelo péssimo visual, mas as notas nos outros quesitos foram merecidas, os componentes felizmente notaram que seriam essas notas que salvariam a verde e rosa de um rebaixamento, e foi que aconteceu, felizmente.. Achei o desempenho do Luizito extraordinário, o melhor de sua carreira!

    Mocidade muito mal, seu rebaixamento não seria injusto, porém achei que o Império vacilou ao vir com alegorias tão fracas e também deu muito azar de não poder contar com seu primeiro Mestre-Sala, que se não me engano tinha sido baleado.

    Não considero o título da Ilha tão injusto assim. Achei a Estácio melhor, mas como limaram a escola igual fizeram com a Vila, considero que Ilha e Renascer fizeram os melhores desfiles logo abaixo, portanto, não vejo muitos problemas com esse título, só a chuva de notas dez para a escola. Mas já estava na hora da Ilha voltar! Espero que aconteça o mesmo com o Império Serrano…

  6. Novamente cito minha mãe, desta vez sobre a Mangueira: “Mangueira tá horrorosa demais, olha aquela alegoria!!! Dá pra ver que tá faltando parte, tá faltando cor.” Szaniecki deve ser muito mito ou ter um mecenas muito endinheirado. Não tem lógica.

    2009 é o ano que perdi qualquer simpatia pela Mocidade. Torci pelo rebaixamento, pois seria justo. Assim como achei injusto a forma como garfaram o Império.

    Viradouro indo ladeira abaixo. Mal sabiam que a coisa ia piorar muito.

    Dizem que Márcia Lage tem um gênio terrível e que o pessoal imperiano não sente nenhuma saudade dela. Sobre a relação dela com a Mangueira, tenho para mim que alguma encrenca ela arrumou lá dentro. Sinceramente, creio que ela tenha seu valor, mas que não consegue andar sem seu marido ao lado.

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