A moda agora, no mundo dos negócios, é falar em espírito de liderança, perfil empreendedor, capacidade de gestão e outros balacobacos. Sempre julguei não possuir nenhuma dessas qualidades; sou mesmo incapaz de organizar um simples piquenique em Paquetá.

Em 2010, porém, vou vender o meu peixe. Descobri, depois de profunda reflexão no final do ano passado, que tudo é questão de ponto de vista. Ao contrário do que supunha, tenho sim atributos de liderança, empreendimento e gestão. O problema é que manifesto esses talentos apenas em assuntos fúnebres. Sou um craque na gestão de velórios, enterros e quejandos.

Acho que esse pendor empresarial está relacionado ao meu perfil de orgulhoso finadista – nasci em um dia 2 de novembro, protegido por La Catlina [leiam aqui ]. Tenho uma relação com a velha da foice de absoluto respeito, muita zombaria e grande intimidade. Sou do babado.

Quando minha avó foi oló, por exemplo, cuidei da escolha do caixão. O corretor funerário, nome politicamente correto para papa-defunto, apresentou-me algumas opções em um book de fotos [a expressão foi dele] com urnas de todos os jeitos e com nomes incríveis: Copacabana, Leblon, Ipanema, Leme, Guarujá e Fernando de Noronha.

Na hora em que li os nomes, tive breve momento de confusão mental e achei que o sujeito quisesse enterrar minha avó dentro de uma piscina Tone, a alegria da garotada. Desfeito o engano, fui em frente.

Inicialmente me foi oferecida a urna Leblon. O caixão só faltava ter sonoplastia com diálogos das novelas do Manoel Carlos. Custava um tantinho a mais que o meu apartamento – era de fato mais luxuoso – e podia ser pago em vinte prestações.

Diante do risco da minha avó ressuscitar com o único objetivo de me enfiar a porrada se eu comprasse um caixão com aquele preço pornográfico, fui negociando até chegar ao caixão São João do Meriti e liquidar a fatura – era uma urna digna e dentro das possibilidades financeiras da família.

Lembrei disso porque algumas funerárias estão oferecendo agora um tal de modelo Búzios de caixão. A propaganda fala em design arrojado, revestimento em madeiras nobres do Brasil, mármore travertino romano, interior acolchoado, som ambiente e refrigeração interna – detalhes que reputo [o som e o ar condicionado] importantíssimos para o futuro do presunto. É, enfim, um caixão personalizado. Sai pela bagatela de cento e cinco mil reais.

Parêntese. Búzios é um troço sério. Não sei quem é o autor da sentença mais perfeita que li sobre o balneário: Um lugar em que nos anos sessenta o rico ia pra andar descalço e fingir que era pobre e hoje o pobre vai para fingir que é rico.

Impressionado com o caixão Búzios, fiz rápida pesquisa de mercado e descobri que existe na Alemanha um museu de cultura sepulcral que expõe caixões personalizados do mundo inteiro. O visitante pode, inclusive, comprar o seu caixãozinho. Tem em forma de tudo: caçamba de lixo, peixe, girafa, garrafa de coca cola [reparem a foto da postagem], submarino, forte apache, LP dos Beatles, nave espacial e telefone celular.

Não consegui definir o que mais me agrada – a princípio ser enterrado em um forte apache, vestido de índio do velho oeste, me pareceu interessante, mas pouco brasileiro para meu perfil de consumidor. A nave espacial merece exame mais cuidadoso.

Adiarei a decisão para mais tarde, por uns bons cinquenta anos, já que não tenho pressa em relação ao assunto e não pretendo morar em Búzios tão cedo.

Abraços

2 Replies to “MORAR EM BÚZIOS? NEM PENSAR.”

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