Finalmente temos de volta a nossa seção “resenha literária”. E volta em grande estilo, com um tema polêmico em um livro polêmico: censura e colaboracionismo no Regime Militar.

O livro é a adaptação da tese de doutorado da autora e parte de três eixos centrais: a história da censura do Brasil, a legislação que envolve o tema e respaldava a censura prévia e o estudo de caso envolvendo o jornal “Folha da Tarde”, perpassando a “Folha de São Paulo”.

Entre as várias polêmicas do livro, destaco também a auto-censura que parte mais conservadora da sociedade se impunha e solicitava aos órgãos de repressão.

Beatriz Kushner, a autora, entrevista vários censores e escreve sobre o cotidiano do trabalho destes. Entretanto, ressalta que boa parte da denominada “grande imprensa” se impôs um ritual de auto-censura e, muitas vezes, contratavam policiais ou ex-censores para “balizar” o que poderia ou não ser publicado.

Também traz à baila o papel do Grupo Folha, que não somente auxiliou com recursos financeiros e logísticos (carros) a repressão e a tortura como tinha um jornal que, na fase mais terrível da caça aos opositores do regime era uma espécie de “Diário Oficial” dos torturadores e da guerra suja: a ‘Folha da Tarde’.

Sejamos claros: o “Grupo Folha” apoiava a tortura.

Também deixa evidente que, muitas vezes, os grandes órgãos de imprensa “compravam” a versão oficial das mortes de opositores ao regime, encobrindo o óbvio: que haviam perecido sob tortura nas dependências da polícia.

Excelente e esclarecedora leitura. Recomendável, ainda mais em um ambiente como o de hoje, onde os grandes grupos de jornais e televisão estão claramente envolvidos em uma campanha com ares de golpista.

Na Saraiva, o livro está custando R$ 52. E boa leitura.