Samba de terça, atrasado, em ritmo de viagem a trabalho. Uma semana em terras paranaenses, as quais não conheço, me aguarda a partir da próxima sexta.
Para marcar a data vamos falar de um dos sambas-enredo dedicados ao estado do Paraná, “Iara, Ouro e Pinhão na Terra da Gralha Azul”, Império da Tijuca 1982.
O título já faz referência à ave-símbolo do estado, a Gralha Azul, bem como à lenda de Iara e ao pinhão, semente característica.
A escola vinha de um segundo lugar no Grupo 1B em 1981 (atual Acesso A, a chamada “Segunda Divisão” do samba), com outro enredo que evocava o Paraná: as Cataratas do Iguaçú.
Para o desfile de 1982 a escola optou por se manter em terras sulistas. A proposta era contar a lenda de Iara, através do qual o Paraná teve origem., sua relação com a gralha azul e a colonização bandeirante no Estado.
O samba era um dos que se destacavam na excelente safra de 1982, que trazia clássicos como “É Hoje”, “Bum bum paticumbum prugurundum”, “Onde Canta o Sabiá”, “Lima Barreto, Mulato Pobre, mas Livre”, “O Velho Chico” e “Meu Brasil Brasileiro” – este último já tema desta série.
No site “Sambario” temos uma análise do samba tijucano, que reproduzo abaixo:
“IMPÉRIO DA TIJUCA – O refrão principal lembra muito a canção que embala as rodas de capoeira (a do Paranauê, Paranauê Paraná). É um dos melhores sambas de 1982 e um dos melhores da história da Império da Tijuca e sua bela safra musical. Sua melodia é sensacional, de refrões envolventes e incrementada com a bela voz grave de Almir Saint-Clair. Um primor realmente. (Mestre Maciel)

Excelente samba! O início da faixa é um dos melhores momentos de todo o disco, com o coral cantando o refrão “Paraná ê, ê Paraná/É o Império da Tijuca/Na avenida a lhe exaltar” só com o surdo e depois com o surdo e os tamborins. Letra e melodia fazem o samba da Imperinho de 1982 um dos melhores da sua história. A interpretação de Almir Saint-Clair também é muito forte! O trecho de cabeça do samba “No sol bonito da manhã/Na imensidão da terra dos Tupis/Iara adorava o Deus Tupã/Pedindo a paz com os Guaranis” é muito inspirado. (Fred Sabino)

Particularmente não sou fã desse competente samba da agremiação imperitijucana. “PÔ?!?! O CARA NÃO É FÃ DO SAMBA MAS ACHA COMPETENTE???” Calma rapaziada!!! Deixa eu fazer uma explicação, um comparativo futebolístico!!! Nunca gostei do Rivaldo – pentacampeão pela Seleção em 2002. Mas ele sempre que jogou com a camisa Canarinho fazia a diferença ao contrário do Ronaldinho Gaúcho. É mais ou menos por aí!!! Voltando a falar do samba, possui letra bem elaborada e descritiva e uma boa melodia. Destaco o pegajoso refrão principal “Paranauê  / e Paraná…”. É inegável afirmar que esse samba, mesmo não sendo fã dele, é um dos melhores da história da agremiação do Morro da Formiga. (Luiz Carlos Rosa)”

O samba possui uma característica rara hoje em dia, o de ter um único autor, Jorge Melodia. O refrão faz alusão a uma antiga cantiga de capoeira, a “paranauê…”
Mesmo vindo do segundo grupo, o Império da Tijuca foi a décima primeira escola a desfilar no domingo de carnaval, 21 de fevereiro. Na verdade segunda feira, pois a escola desfilou debaixo de um sol de rachar às onze horas da manhã.
Como não havia ocorrido rebaixamento no ano anterior e com doze escolas em uma única noite de desfiles decidiu-se que as escolas que não haviam sido rebaixadas e as que vinham do segundo grupo – o caso da agremiação do morro da Formiga – abririam e fechariam o desfile.
Para o leitor ter uma idéia, hoje em dia, em um Sambódromo com muito mais estrutura – em 1982 ainda eram as arquibancadas tubulares, desmontáveis – são as mesmas doze escolas em dois dias de desfile.
A escola fez um desfile simples, advindo da falta de recursos e de estrutura que não se comparavam às grandes agremiações do carnaval carioca. Apesar do belo samba e do desifle valente, a escola acabou rebaixada com o décimo primeiro lugar, obtendo 155 pontos na apuração – um tanto quanto tumultuada devido aos pontos descontados de escolas como Imperatriz Leopoldinense e Beija Flor pela utilização de pessoas vivas sobre alegorias – o regulamento daquele ano proibia tal prática.
Vamos ao belo samba, que pode ser ouvido no trecho do desfile que abre este post. Notem a solução de dois refrões sequenciais, sem refrão intermediário.
Paraná ê, ê Paraná
É o Império da Tijuca
Na avenida a lhe exaltar

No sol bonito da manhã
Na imensidão da terra dos Tupis
Iara adorava o Deus Tupã
Pedindo a paz com os Guaranis
Quando uma linda arara
Em puro Tupi lhe falou
Que a ervateria lendária
Salvaria seu povo da dor… mas Gupi
Gupi o Guarani guerreiro
Como o amigo Caraí, quase morreu
Foram salvos pelo chá milagreiro
E uma nova nação nasceu
Da estrela brilhou
A luz do amor, ô
E Iara com Gupi se casou
Na era do ouro
O bandeirante ali chegou
Dos arraiais e dos seus tesouros
Foi que o Paraná começou
Hoje a ave sagrada
Que semeou o pinhão
Em prosa e versos cantada
No povo mora no coração

É lenda é tradição
No rico solo do Sul
Iara, ouro e pinhão
Na terra da gralha azul

P.S. – O post com a promoção está abaixo.

One Reply to “Samba de Terça – "Iara, Ouro e Pinhão na Terra da Gralha Azul"”

Comments are closed.