Ontem, dando aquela folheada rápida no jornal que faço toda manhã – sou assinante do Lance – vejo que a reforma do Maracanã a se iniciar proximamente custará a bagatela de R$ 705 milhões, fora os já costumeiros “estouros” de orçamento. Será a terceira grande reforma nos últimos dez anos, gerando um gasto de quase R$ 2 bilhões em reformas.

Há alguns anos atrás o ex-Presidente da CBF (antigamente, CBD, Confederação Brasileira de Desportos) e da FIFA João Havelange deu uma entrevista defendendo a implosão e posterior reconstrução do estádio, em moldes modernos. Exatamente como foi feito com o mítico estádio de Wembley, do qual só sobraram as torres da entrada. Á época o veteraníssimo dirigente foi muito criticado por esta idéia, inclusive por mim. Mas…

Já contei aqui a visita que fiz à Arena da Baixada quando estive no Paraná a trabalho. Hoje o que há de mais moderno em estádios é o conceito de arena, onde além da partida em si há toda uma gama de produtos e serviços disponíveis. Você pode jantar no estádio, fazer compras e até se exercitar em uma academia, por exemplo. O estádio paranaense possui todas estas opções, além de todos os seus lugares oferecerem visão perfeita do campo.

O Maracanã não tem nada disso. Seus bares são em formato “barriga no balcão”, não há a opção de se fazer uma refeição mais substancial – aliás, fora amendoins e batatas fritas industrializadas, pouco há o que se comer – e não há uma única loja comercial. Se o espectador quiser comprar uma camisa do Flamengo, por exemplo, não pode, porque não tem onde comprar. Até a Vila Capanema, que é um estádio pequenininho e de concepção antiga tem uma lojinha de produtos oficiais do Paraná Clube.

Outro problema do estádio é a visão do campo. Experimente assistir a um jogo do último degrau das arquibancadas ou dos improvisados camarotes, e o leitor entenderá o que estou falando. Somente com binóculo. Após a última reforma as cadeiras possuem uma boa visão do campo, mas em outros setores do estádio pode-se ter problemas.

Aí eu faço a pergunta ao leitor: não sairia pelo mesmo valor desta próxima reforma derrubar o estádio e reconstruí-lo, mantendo-se a fachada externa ? Ainda se corrigiriam os problemas de posicionamento dos lugares e adaptaria-se a estrutura aos requisitos de uma arena moderna, com restaurantes, “mini-shopping” e um edifício garagem – corrigindo outro problema crônico do estádio. Abaixo, em montagem do Globoesporte.com., pode-se ver como ficará o Maracanã após mais uma reforma.

Os mais puristas poderiam alegar que “o estádio e sua história precisam ser preservados”. Informo que nesta próxima reforma a separação entre as antigas arquibancadas e as cadeiras deixará de existir, tornando-se uma coisa só. Na prática, teremos um novo estádio por dentro, mas mantendo-se os problemas do antigo.

A um custo exorbitante e que talvez demande mais uma reforma para os Jogos Olímpicos de 2016, embora a Suderj alegue que as exigências da Fifa sejam superiores às do COI.

Outra estrutura de entretenimento que precisa ser repensada é o Sambódromo.

Projetado por Oscar Niemeyer, basta uma olhada na sua formatação para se perceber que o genial arquiteto jamais havia assistido a um desfile de escolas de samba na vida. As arquibancadas são pequenas, não permitem que o folião sambe nelas; e ao mesmo tempo são muito distantes do desfilante, tirando esta interação entre o público e o componente que é importantíssima para a festa. As frisas, próximas, são formadas por um público normalmente alienígena à festa – lembrando que originalmente aquele espaço era destinado a uma imensa “geral” para se assistir em pé ao desfile. O desfile ficou frio.

Paralelamente ele foi construído a “toque de caixa” e sem a necessária reflexão sobre o uso do espaço. Sabe-se que ele foi projetado, em especial a Praça da Apoteose, para ser um espaço de reunião política naqueles tempos pré-redemocratização. Entretanto, hoje os tempos são outros e se faz necessária a adaptação para ele ser o que realmente é: uma avenida de desfiles. Outra questão é que a capacidade dele, hoje, é ridícula e em muito superada pela demanda anual de lugares.

O Sambódromo possui outros problemas. Os banheiros são acanhadíssimos, também não há restaurantes – é o mesmo formato de bares descrito acima – e os quiosques são claramente improvisados, não funcionando fora dos dias de carnaval. O escoamento da água da chuva das arquibancadas é em frente aos bares, em área de passagem.

Na verdade, a estrutura como um todo é inexistente. O Sambódromo deve ser o único espaço de entretenimento do mundo que não possui uma única vaga de estacionamento. O entorno é formado por ruas estreitas e que possuem problemas de segurança. Aqueles que vão assistir aos desfiles e concomitantemente desfilar não tem lugar para trocar de roupa, tendo de fazer em qualquer lugar, à vista de todos.

Os carros alegóricos são obrigados a fazer uma curva de 90º para adentrarem o Setor 1 e as escolas que fazem a sua concentração do lado do edifício “Balança mas Não Cai” ainda tem um viaduto no meio do caminho, ou seja, a montagem final das alegorias obrigatoriamente é feita praticamente na entrada da Passarela.

Em minha opinião a intervenção no Sambódromo precisa ser radical, envolvendo não somente a passarela em si quanto o entorno. Fazer uma nova obra, criando uma estrutura para os desfiles dentro e fora da passarela. Jogar abaixo as arquibancadas e camarotes e reconstruí-las de maneira a atender ao seu propósito, algo que não existe hoje. Aproximar o público do desfilante e aumentar a capacidade de público. Criar estruturas de guarda de fantasias, troca de roupas, restaurantes e lojas que funcionem o ano inteiro. Estabelecer no entorno um edifício garagem de forma a permitir o uso do carro, como em qualquer espaço de entretenimento mundial.

A reforma prevista para os Jogos Olímpicos prevê apenas a derrubada do Setor 2 de camarotes e a construção de novas arquibancadas. Mas isto é muito pouco para adequar o Sambódromo às necessidades requeridas para sua utilização plena. A única solução é demolir e recomeçar do zero. Sei que a Passarela de Desfiles é tombada mas este é o único caminho que vislumbro.

Pelos motivos expostos acima que sou a favor da demolição e posterior reconstrução tanto do Maracanã quanto do Sambódromo. E espero com este post estimular o debate sobre o tema.

6 Replies to “A demolição do Maracanã e do Sambódromo”

  1. Migão, concordo inteiramente com você no que diz respeito às duas demolições. Também já fui “romântico” quanto ao Maracanã, mas, depois de conhecer alguns estádios e arenas pelo mundo, mudei radicalmente de opinião.
    Quanto à Sapucaí, tudo aquilo é uma grande piada de mal gosto. Não conheço outro lugar no planeta em que se pague um valor de US$ 100 para se passar perrengue e desconforto por uma noite inteira. Definitivamente, somos sádicos demais em insistir nisso tudo.

  2. Até porque, Carlos, por dentro o Maraca vai ficar completamente diferente do que nos acostumamos.

    algo que não escrevi no texto é que o Sambódromo poderia ter algum tipo de cobertura retrátil para as arquibancadas. Pagar o que se paga pra tomar chuva é dose.

  3. Sempre defendi a idéia de que o Sambódromo tem que ser implodido e ser reconstruído para que vire realmente um palco do samba. Pelo preço que se paga não tem o menor conforto, além de não ser próprio para a manifestação popular da dança do samba e nem para a interação entre o público e o desfilante.

    Já o Maracanã, já fui contra a sua demolição na época em que foi proposto, mas hoje defendo também a sua implosão e a reconstrução como um estádio de maior capacidade (algo entre 120 mil e 135 mil pessoas confortavelmente instaladas), mas reconstruindo a parte externa como era para manter o estilo construído em 1950.

    Também seriam necessárias obras no entorno dos dois palcos: do samba e do futebol. E maior integração com os transportes da cidade, metrô e trem.

  4. Amigo, perfeito o seu comentário a respeito do Maracanã.
    Fala-se muito da história, mas temos o exemplo de Wembley. Os ingleses são mais aficcionados por futebol que nós, e mesmo assim decidiram implodir seu grande templo para construir um outro muito mais moderno. Claro que não vamos exigir a construção aqui nos valores de um Wembley, mas com esses 700 milhões + estouro do orçamento com certeza teríamos um estádio para 80-90 mil pessoas bastante moderno.

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