Neste início de semana temos mais uma coluna “Bissexta”, do advogado e colunista Walter Monteiro. Hoje, como ele mesmo diz, está entrando em uma seara que já abordei diversas vezes aqui, a questão dos juros e do câmbio.
Escrevi diversas vezes sobre este assunto, que será alvo de post ainda esta semana – a surpreendente redução da taxa Selic na semana passada permite uma série de leituras teóricas bastante interessantes. O último texto que escrevi foi em 26 de julho passado, que pode ser lido aqui. É um contraponto bastante interessante com a coluna de hoje.
Sobre o câmbio, também recomendo o leitor a olhar este post, de abril: “A inflação aleija, mas o câmbio mata”.
Como percebem, discordo das teses do artigo. Mas leia, caro amigo. O contraditório é necessário para formarmos uma opinião independente.
Ressalto também que a cidadã chamada Míriam Leitão presta um tremendo desserviço não somente ao jornalismo como à Economia. É típica representante do pensamento “neocon”, que parte de conclusões pré estabelecidas para torcer hipóteses e fatos. Suas opiniões são mais ideologias que jornalismo ou economia.
Feitas as ressalvas, vamos ao texto.
Pitacos Irresponsáveis Sobre Economia
Economista, aqui, é o Editor-Chefe. Volta e meia ele nos brinda com textos animados sobre o tema.

Eu entendo tanto de economia quanto a Miriam Leitão, ou seja, quase nada. Mas ela ainda tem a vantagem de, sendo jornalista, passar o dia colhendo opiniões de especialistas de verdade, para fazer um resumo delas e assim escrever sua coluna ou seus comentários na TV.

Aliás, outro dia eu a vi falando no telejornal matutino que uma das “desvantagens” do plano Brasil Maior, lançado semanas atrás pela Presidenta Dilma para desonerar a indústria, era justamente a renúncia à cobrança de impostos, porque isso implicava indiretamente em “aumento de gastos” ao“diminuir” a arrecadação. Era de manhã cedo, eu estava acordando, deve ter sido um sonho….afinal, a Miriam Leitão não iria ser contra a redução de impostos.Ou será que para falar mal da Dilma vale até dizer agora o oposto do que disse antes?

Bom, se a Miriam Leitão pode dizer qualquer bobagem e fica tudo por isso mesmo, eu também tenho direito. E vou me aventurar a falar de um dos temas prediletos dos economistas de botequim, a política de juros e câmbio.

Há duas certezas irrefutáveis no Brasil e ai de quem se opuser a elas: 

a) o Wellinton é o pior zagueiro que já vestiu o Manto Sagrado; 
b) nossa taxa de juros é escandalosa, a maior do mundo, uma benesse concedida pelo Banco Central ao mercado financeiro, aos especuladores de sempre, aos milionários de toda sorte, em desfavor do pobre cidadão brasileiro.

Do Wellinton não falo, não é o tema deste artigo, não tô nem aí para o que acham dele. Mas na taxa de juros, data maxima venia, como gostam de dizer os causídicos, vou meter o bedelho.

A taxa de juros brasileira equivale à taxa Selic, que hoje é de 12%. E até outro dia ainda era um tantinho maior, essa pequena queda ocorreu por conta de uma suposta ingerência da equipe econômica no Banco Central. 

Aliás, essa gente mal humorada precisa definir o que pensa da vida. Porque não adianta bradar aos quatro ventos que a taxa é alta e ao mesmo tempo se encher de pudores quando alguém lhes dá ouvido e faz uma pressãozinha nos sábios do Copom, o comitê de política monetária que tem o poder de fixar a taxa Selic. [N.do.E.: quem criticou a decisão do Copom foi a turma que advoga juros altos como panacéia para espinhela caída, dor de cabeça, manchas nas panelas ou dificuldades de ereção. Voltarei ao assunto]

Mas essa quedinha de meio ponto percentual não altera muito o tom das críticas: segue todo mundo repetindo o mantra de que essa taxa é altíssima. Memória curta é uma característica marcante do senso comum, mas o Google está aí para não deixar a gente se esquecer que no último mês do governo FHC ela era de 23,25%. Aliás, nos tempos de Armínio Fraga, hoje banqueiro de investimentos, a taxa chegou a ser de 45% (não escrevi errado, quarenta e cinco por cento), contra uma inflação de cerca de 6%.

Foi bom tocar nesse nome maldito. Falo da inflação, bem entendido.

A inflação medida pelo IPCA, que é o índice que baliza a meta perseguida pelo governo, está rondando a casa dos 7%. Esse, portanto, é o piso da taxa de juros. 

Não sei se todos compreendem bem a noção, mas existe uma diferença entre “correção monetária” e “juros”. A correção monetária é a mera reposição da perda do poder de compra corroído pela inflação. Logo, se a taxa de juros for de 12% e a inflação de 6% a taxa de juros “real” será de 6%, porque é preciso descontar a correção monetária embutida.

Assim, no Brasil atual a taxa de juros efetiva é de menos de 6% ao ano, menos de 0,5% ao mês, Isso, claro, a taxa básica, não aquela que a gente pega emprestado no banco, item que daria assunto para umas 3 colunas exclusivas. Dadas as condições estruturais do país, não é nenhum escândalo. 

Afinal, em termos econômicos, nós somos como um ex-obeso que passou por uma cirurgia de redução de estômago e agora está pesando 80 kg. Ok, 80 kg ainda pode não ser o peso dos sonhos, mas é nada quando comparado ao que sujeito pesava antes.

O pior é que eu ouço gente – inteligente, quero fazer essa ressalva – que acha que o governo age assim apenas para enriquecer quem investe em títulos da dívida pública e que o melhor seria dar uma banana para essa gente malvada, o chamado “mercado financeiro”. Só que no mundo real quem investe nesses títulos somos eu, você, seus vizinhos e todo mundo que consegue uma sobra de dinheiro no fim do mês e o deixa “rendendo” no banco. Logo, não dá para mandar todo mundo pastar.

Outro aspecto de inquietude tem a ver com a política cambial. Já tem muito tempo que o Brasil adota uma política de câmbio “flutuante”, o que quer dizer o seguinte: não é o governo quem diz quanto vale a nossa moeda, mas sim as transações diárias. Se tem muita gente trocando dólar por real, o câmbio desce; no sentido contrário, se tem muita gente comprando dólar, a moeda norte-americana sobe.

Essa história de câmbio é um jogo interessante, porque um dólar baixo interessa a vários setores da economia e um dólar alto interessa a outros. Por exemplo, com o câmbio assim baixinho tem um monte de brasileiro viajando para o exterior e fazendo a festa de quem vende pacotes turísticos, mas por outro lado essa situação tira o sono de quem precisa exportar seus produtos, que acabam chegando lá fora bem caros.

Mas, afinal, porque o dólar está tão baixo? Bom, há várias razões, mas uma delas se sobressai às demais: porque o Brasil não para de atrair investimentos estrangeiros. Muitos deles, é verdade, daquilo que se chama“capital especulativo”, ou seja, investidores que não têm raízes com o país e só estão aqui de passagem aproveitando os ganhos imediatos que o país proporciona (aliás, a tal taxa de juros da Selic tem a ver com isso).

Fazer o quê? Meter um ferrolho na economia, controlar a saída de capitais, conter o fluxo de entrada de dinheiro estrangeiro, enfim, expulsar esse povo e proibi-los de investir no país?

Ou, quem sabe, voltar aos tempos antigos, quando a taxa de câmbio era definida por decreto governamental, sujeita a toda sorte de pressões e lobbies, confessáveis e inconfessáveis?

Não existe decisão fácil em economia. Mas eu continuo acreditando que é melhor administrar os dramas da prosperidade do que gerenciar as agruras da escassez. Vamos de juros altos, câmbio baixo e Wellinton na zaga, que é o que temos por enquanto. Dias melhores hão de vir.

2 Replies to “Bissexta – "Pitacos Irresponsáveis Sobre Economia"”

  1. 301 Moved Permanently I was recommended this blog by my cousin. I’m not sure whether this post is written by him as nobody else know such detailed about my difficulty. You are wonderful! Thanks! your article about 301 Moved Permanently Best Regards Cindy Andy

Comments are closed.