Após um processo de aproximadamente oito meses, está no ar a pré-venda do livro “Veja Bem” (Selo Carnavalize), onde conto as histórias registradas no canal neste primeiro ano de projeto de memórias – o texto original foi finalizado em novembro do ano passado e sofreu ligeiros acréscimos no processo de edição.

O livro pode ser comprado no link https://carnavalize.lojaintegrada.com.br/pre-venda-veja-bem-historias-e-cronicas-do-carnaval-carioca e nesta pré-venda todos os exemplares serão autografados e irão com frete grátis e marcadores de páginas personalizados com fotos do livro. Os apoiadores do canal via Clube de Membros terão um cupom de desconto. O livro está sendo vendido a R$56,90.

Coloco aqui em primeira mão um dos capítulos do livro, como degustação. Neste conto minhas desventuras de “compositor desconhecido” na Acadêmicos do Dendê, onde venci em cinco oportunidades. Nas semanas pós desfiles colocarei aqui quatro capítulos que acabaram ficando de fora do livro final, sempre às segundas feiras.

Comprem o livro, divulguem em suas redes sociais e depois deixem seu feedback. Vamos ao texto, em sua versão final.

“Compositor Desconhecido

Uma faceta minha que pouca gente conhece é a de compositor. Sim, compositor.

Obviamente, não tenho o menor talento para as artes de letra e melodia. Mal sei rimar “aí” com “Sapucaí” e não sei diferenciar um si bemol de um fá. Contudo, nesse mundo de hoje não precisa ser talentoso para ser compositor, não é mesmo?

Cheguei a disputar na São Clemente e na Vizinha Faladeira (onde fui finalista em 2005, no então Acesso A), mas virei rei, multicampeão mesmo, na Acadêmicos do Dendê. Lá, ganhei cinco sambas: 2007, 2008, 2010, 2012 e 2014. Este último não consta na Wikipédia, mas também estou na parceria. Lá só perdi uma vez: 2011.

Na estrutura atual de sambas de enredo, só a chamada caneta não basta. Precisa o cara da torcida, precisa o da política, o da comunidade e, por fim, o financiador.

Aí que entro.

A Acadêmicos do Dendê, naqueles tempos, oscilava entre o que hoje seria o quarto e o quinto grupos. A estrutura é um pouco diferente da existente hoje, porque, em 2012 para 2013, houve a junção do então segundo grupo com o terceiro. Então o quarto grupo em que a agremiação da Ilha estava, digamos, em 2007 era o correspondente ao terceiro de hoje.

Não era uma disputa cara. Em dinheiro de hoje (corrigido pela inflação), gastava mais ou menos mil reais. Chegava em junho recebia da Socinpro, entidade arrecadadora de direitos autorais, aproximadamente mil e quinhentos. Só no último ano em que recebi (2012), é que os valores baixaram.

Contudo, minha figura era desconhecida na agremiação, pois jamais pisei na quadra para um ensaio. Cheguei a ir lá uma ou duas vezes, mas em outras situações. Ou seja: eu estou no panteão dos maiores vencedores da escola, mas jamais haviam visto a minha cara. Não sabiam se eu era branco, negro, magro, gordo… Nem se eu existia realmente.

Para 2012, eu desfilaria pelo segundo ano seguido na ala de compositores da União da Ilha (algo de que muito me orgulho). Havia parado lá por indicação de amigo, mas a credencial para aceitação era a de compositor campeão da Acadêmicos do Dendê. Como a fantasia era da escola (seria um terno de delegação olímpica, no enredo sobre Londres e os Jogos Olímpicos), fazia-se necessário tirar as medidas da roupa em um dos ateliês responsáveis.

Em um dia de semana, saio do trabalho e me dirijo ao ateliê, já no limite do prazo e, naquele dia, de horário. Era ainda no chamado asfalto, mas em um dos acessos à comunidade. Chego, me identifico, confirmam meu nome no caderno. Assinei o mesmo e me dirijo a uma das costureiras para tirar as medidas da roupa. A senhora pega a ficha, anota meu nome e dispara: “Você é o Pedro Migão?”

Respondo que sim e ela diz que sempre quisera me conhecer. Ouvia falar do meu nome há anos, mas não sabia quem eu era. Infelizmente, não me lembro de seu nome (faz 10 anos, mais ou menos), mas me recordo de quando ela se apresentou, dizendo apenas: “Sou a esposa do presidente da Acadêmicos do Dendê. Que bom finalmente lhe conhecer”.

Ou seja: o compositor desconhecido finalmente se revelava.

Um adendo: mesmo sob medida, a roupa veio errada. O paletó veio em tamanho infantil e a calça parecia daquelas de palhaço, pelo menos três números maior. Mistérios de ateliê.

Ainda tiveram a ideia de colocar a ala de compositores, com um monte de velhinho bom de copo na concentração, desfilando com uma bandeira. Resumo da ópera: nem a metade delas passou no desfile e a escola foi descontada pelos jurados por conta disso.

Como havia conservado a minha, a pedido da harmonia passei o desfile inteiro indo de um lado para o outro a fim de passar na ponta em frente às cabines de jurados e tentar disfarçar a falta generalizada das bandeiras.

Não adiantou muito.”