Fechamos os quesitos “de pista” com aquele que todo ano é o recordista de notas 10: bateria. Esse ano não foi diferente, com bateria liderando com folga a quantidade notas 10. Oito das treze baterias receberam 30 no quesito, porém houve um relato de um problema grave esse ano.

Módulo 1

Julgador: Cláudio Luiz Matheus

  • Estácio de Sá – 10
  • Viradouro – 10
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 9,9
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 9,9
  • Portela – 10
  • São Clemente – 9,8
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Mocidade – 9,9
  • Beija-Flor  – 9,9

Quando se trata de Claudio Luiz Matheus, a reclamação é a mesma todo o ano: as justificativas são muito curtas e não explicam exatamente o que ocorreu. Isso quando ele simplesmente não tasca o ultra genérico “faltou criatividade” sem qualquer referencial para dizer porque as outras cumpriram o sarrafo.

Aliás o grande problema desse ano foi exatamente o último. Das cinco escolas punidas, em três; Tuiuti, Ilha e Mocidade; ele simplesmente tascou o “faltou criatividade/ousadia” e lá se foi um décimo a menos. Para a Mocidade ele ainda explicou que a bateria não fez nenhuma bossa em frente ao módulo. Para as outras, nem isso ele se dignou a explicar.

Mesmo para as outras duas escolas penalizadas, também ficou faltando justificativa. Para a Beija-Flor ele disse que no trecho “nilopolitano em romaria” há dois desenhos executados por naipes diferentes causando sensação de desencontro. Momento “ctrl+c ctrl+v” de 2019 “De que naipes? Na “cozinha” (surdos e caixas)? Ou foi na frente da bateria? Todo ano é o mesmo comentário… “

A mesma coisa na São Clemente quando ele justifica que em “lá vem São Clemente / sem medo de acreditar” frases de batidas rápidas geraram imprecisão. Onde na bateria?

Pelo menos, acho que é o primeiro ano nesses muitos que Matheus já foi julgador que ele não descontou ninguém por “flam”.

Outro ano se passou e os mesmos problemas continuam no caderno dele…

Por fim, ele fez uma observação final grave e por isso merece ser reproduzida na íntegra:

“Estácio de Sá, Viradouro e Grande Rio não puderam ser devidamente avaliadas por problema no sistema de som da avenida: as caixas em frente ao módulo permaneceram excessivamente altas impedindo a audição da bateria. Pela apresentação da Grande Rio, o problema se tornou ainda maior, pois nem a bateria foi desligada do sistema. Apesar de reiterados pedidos, só pode ser normalizado no segundo dia de desfile”.

Ou seja, estamos falando de um problema gravíssimo de som que dificultou bastante a avaliação pelo julgador. Isso poderia até ser motivo para a desconsideração do julgamento nos dois primeiros módulos, pois não foi possível haver julgamento imparcial de todas as escolas por falha da organização da LIESA. Por sorte, graças à enorme quantidade de notas 10 do quesito, a diferença na classificação seria apenas uma troca entre Grande Rio e Mocidade.

Módulo 2

Julgador: Leandro Oliveira

  • Estácio de Sá – 9,9
  • Viradouro – 10
  • Mangueira – 9,9
  • Tuiuti – 9,9
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 10
  • Portela – 10
  • São Clemente – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Mocidade – 9,9
  • Beija-Flor  – 10

Apenas 4 décimos descontados por este novo julgador, dois deles por “falta de criatividade e ousadia” para Mangueira e Tuiuti. Aqui vale a mesma crítica do julgador acima: não é apresentado qualquer referencial para dizer porque as outras cumpriram o sarrafo em criatividade.

Já as justificativas de Estácio foi indefinição e imprecisão nas peças agudas e médio agudas (culpa do andamento acelerado?) enquanto a da Mocidade foi paradinha mal encaixada na divisão do canto na saída do refrão do meio. Ambas estão bem claras.

Nas observações gerais ele fez a mesmíssima reclamação do Claudio Luiz Matheus, o que reforça a sensação de falta de condições iguais para todas as escolas, ao menos no primeiro módulo duplo.

Módulo 3

Julgador: Rafael Barros Castro

  • Estácio de Sá – 9,8
  • Viradouro – 10
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 9,9
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 9,9
  • Portela – 10
  • São Clemente – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 9,9
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Mocidade – 9,9
  • Beija-Flor  – 10

Também foi o 1º ano do julgador e foi apresentado um bom caderno. Com suas 5 escolas penalizadas e 6 décimos retirados, ele foi junto com Claudio Luiz Matheus o julgador mais rigoroso do ano no quesito. Porém, diferente do anterior, cada um dos seis décimos está devidamente justificado, com a identificação do naipe problemático e o momento do samba.

Por exemplo: na Mocidade ele explicou que tirou ponto pelo já famoso e polêmico “flam”. Mas ele apontou o problema detalhadamente, no naipe de tamborins na 2ª parte do samba e no verso “se a vida é uma aquarela” da 1ª parte.

Ele também atribuiu ao andamento acelerado de Tuiuti e Salgueiro os problemas apontados para a retirada de décimo, a falta de coesão na segunda parte do samba na primeira e a falta de acentuação rítmica das caixas na segunda.

Ao fim ele escreveu uma longa observação geral da qual destaco dois pontos.  O primeiro é: “A tradição está presente nos toques e marcações características de cada agremiação e esse DNA, como marca genuína, é referência e símbolo de muita pesquisa, invenção e reinvenção”. Sempre é bom ver um julgador atento às características históricas de cada bateria, inclusive ele realçou a quebra dessa característica na justificativa da Estácio.

Já o segundo é uma sugestão de novas evoluções para as baterias: “Há muito o que ser feito: quem sabe explorar graduações de dinâmica? (aí vem um desenho de gradação dinâmica explicativo no caderno) ou utilizar baquetas diferentes das usuais e com isso buscar novos timbres?”

Módulo 4

Julgador: Ary Jayme Cohen

  • Estácio de Sá – 9,9
  • Viradouro – 10
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 10
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 9,9
  • Portela – 10
  • São Clemente – 9,9
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Mocidade – 10
  • Beija-Flor  – 10

Apenas três décimos descontados, não há muita base para avaliar o caderno. Em um deles o problema é descrito com relativo detalhe: na São Clemente algumas caixas soaram sem unidade rítmica sonora precisa.

Porém os outros dois, apesar de identificar por alto o problema, faltou algum detalhamento. Na Estácio: “na retomada do samba após os atabaques a bateria volta sem clareza na conjunção de alguns naipes soando um pouco ‘embolada'”. Quais naipes embolaram? Se ele percebeu uma embolada, é porque ele percebeu ao menos em que tipo de instrumento ocorreu a embolação. Foi na parte aguda da bateria (chocalhos, agogôs, tamborins e afins)? Ou foi na “cozinha” (surdos e caixas)? Ou foi na junção de ambas? Enfim, faltou justificativa.

Na Ilha houve “uma evolução dos componentes um pouco desordenada causou um desencontro musical na conjunção dos naipes.”. Aqui o problema até foi identificado, mas foram todos os naipes ou só alguns? Foi um efeito sanfona? E se foi, foi geral, de cabo a rabo na bateria? Também faltou uma ou duas linhas a mais.

Módulo 5

Julgador: Philipe Galdino

  • Estácio de Sá – 9,9
  • Viradouro – 10
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 9,9
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 9,9
  • Portela – 10
  • São Clemente – 9,9
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Mocidade – 10
  • Beija-Flor  – 10

Como é característica do julgador, justificativas rápidas e diretas, porém bem claras em um bom caderno. Faltou pegada nas caixas da Estácio, acentuação na levada das caixas da São Clemente e ligeira defasagem rítmica nos naipes agudos na Ilha (e aqui pode estar a resposta das perguntas feitas ao julgador anterior, já que estamos em um módulo duplo). Já em relação ao Tuiuti, ele descontou pois a divisão rítmica da bateria choca com a divisão do samba, gerando um resultado “anti-musical”.

Nas observações finais, ele deu um “puxão de orelha” no mestre do Tuiuti (demitido após o desfile) pois a alta complexidade das bossas se encaixariam melhor com uma bateria mais cadenciada, mesmo que ele tenha ressaltado que não penalizou o andamento acelerado, mas o problema de divisão rítmica. Também elogiou os mestres de Vila Isabel, Salgueiro e Mocidade por solucionarem bem os problemas apontados por ele no ano anterior.

Normalmente eu terminaria esta coluna sobre bateria lembrando a frase do Carlos Alberto de que ainda chegará o dia que todas as baterias ganharão nota máxima, já que tivemos poucos descontos e, novamente, apenas duas notas 9,8.

Porém esse ano é perfeitamente possível relevar isso, especialmente considerando as graves observações feitas pelos julgadores no primeiro módulo duplo. Lembrando que a julgadora de harmonia do módulo 3 fez a mesma reclamação. É muito importante que a LIESA estude bastante o que ocorreu e solucione a contento no próximo ano, pois é uma receita de confusão em um futuro próximo caso isso se repita.

Já em 2020, por muito pouco (um mero desempate em Mestre Sala e Porta Bandeira para ser mais exato), a Mocidade não pode reclamar de um “título roubado” em um problema no sistema de som.

Imagem/Vídeos: Ouro de Tolo