Podia ser minha filha. Sua avó mora em comunidade e ela todos os fins de semana está em sua casa.

Podia ser sua filha, neta, sobrinha ou parente sua, podia ser qualquer pessoa que a resposta é a mesma.

Não, não poderia ser, não pode ser.

É inadimissível vivermos em um estado onde morrem tantos inocentes, é inadimissível vivermos em no estado onde mais morrem crianças vítimas de violência.

É inadimissível vivermos em um estado onde morrem tantos policiais, é inadimíssivel vivermos no estado onde mais morrem policiais no país.

Se morrem tantos inocentes, se morrem tantos policiais não é um claro sinal que a política de segurança desse estado ruiu?

Para qualquer pessoa com um pouco de neurônios sim. Há décadas temos uma política de guerra. Sim, já falei inúmeras vezes que não se deve passar pano para bandidos. Traficante, bendido em geral tem que ser preso , tem que ser punido. Mas no Dendê mesmo mataram os dois comandantes do tráfico e duas semanas depois uma churrascada de quarenta e oito horas anunciava a posse dos novos líderes. Mataram à toa.

Mataram à toa porque existe uma linha sucessória. Matam um e outro assume porque desde cedo o moleque de favela vê aquele traficante como herói, ídolo. O cara cheio de dinheiro, que pega geral e usa roupas de marca junto com um fuzil no ombro.

O moleque de favela que quando acaba a adolescência assume o tráfico de sua comunidade e vira a nova referência da mesma. O alvo número 1 de um estado tão assustado, tão desesperado que não consegue raciocinar e perceber que um moleque desses de dezoito anos, bermuda caindo mostrando a cueca, sem estudo e com limite intelectual não pode ser o grande baraão do tráfico de drogas de uma cidade que não produz armas, nem drogas, que evidente que esse moleque é abastecido por alguém maior, com mais dinheiro, mais poder, mas é mais midiático um ataque na favela que uma varredura em condomínio de luxo ou fazer um forte patrulhamento em fronteiras e divisas.

É mais midiático e simplório botar a culpa nas drogas, no maconheiro esquecendo que o maior poder criminal do Rio de Janeiro hoje é da milícia e ela não precisou de drogas para montar seu império. Querer culpar o maconheiro é o mesmo que culpar o morador que é obrigado a usar gatonet, transporte alternativo e comprar gás da milícia. Eles são efeito, não causa. Não tem que culpar o usuário, não tem que liberar as drogas. Liberando as drogas o traficante vai agir igual ao miliciano. A droga não é o motivo que faz alguém virar bandido, é apenas uma das alternativas financeiras do bandido.

Mas é mais simplório resumir tudo a uma briga polícia x ladrão, isso dá voto. Dá voto a uma pessoa desconhecida que ameaçou seu opositor de prisão se fosse atacado em um debate. Ali o governador desse pobre estado mostrou quem era. Um machinho metido a Chuck Norris que usa o poder da caneta e do colete à prova de balas sobrevoando comunidades em helicóptero da polícia para mostrar força. Um ser ridículo e nojento que sem a caneta e a escolta com certeza seria mais um rato covarde a se esconder como na música “Bicho feroz” do Bezerra da Silva.

E o caminho para isso tudo ser mudado?

Foi nos ensinado a quase quarenta anos atrás e nós ridicularizamos. Chamávamos as escolas de “Brizolões”, falávamos que o responsável gostava de bandidos, protegia bandidos ao não deixar polícia subir atirando em favela. Achincalhamos e acabamos com sua carreira política fazendo passar a humilhação de perder eleição para o Enéas pOrque ele elegeu como caMinho a educação, não a violência. Menosprezamos o fato dele achar que devia ser levada cidadania para as favelas, educação, esporte, cultura, saneamento básico, emprego, habitação, o mínimo de dignidade para o pobre para que não vissem o bandido como herói e vissem que podiam sim ter um futuro melhor.

Enterramos esse político nas areias da praia de um arrastão armado e hoje quem se enterra a cada dia somos nós. Enterrados na lama de um estado que acabou.

Desculpe Ágatha, podíamos ter evitado e falhamos.

Desculpe, Brizola.

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