Não tá fácil, amigos… Domingo passado, coluna sobre morte trágica. Hoje, de novo.

Dessa vez mais próxima e que chocou não só a mim como todo mundo do samba. Não era amigo de Marcos Falcon, apesar de ele me tratar bem em todas as vezes que nos vimos e até ter seu WhatsApp, mas a figura de Falcon transcendia relações pessoais. Era como uma figura onipresente, de estar em todos os lugares e assim ter algum tipo de história com todos.

Pensando friamente, não é uma morte inesperada. Falcon era uma figura controversa, sem papas na língua ou polidez nas ações, e de muitos inimigos. Recebeu diversas ameaças de morte (ouvi a leitura de uma em plenária do “Samba é Nosso”), já sofrera atentados, enfim, era uma vida em risco. Mas mesmo não sendo inesperada, não esperávamos, por mais incoerente que seja essa frase. A morte sempre mexe conosco mesmo sendo a única coisa certa na vida. De alguém em seu auge mais ainda.

Falcon tinha 52 anos, ficara conhecido ao fincar a bandeira do Brasil na ocupação do Alemão pela polícia, foi preso acusado de ser miliciano, solto e inocentado, supervisor de carnaval da Portela, mas foi nos últimos três anos que como um cometa fez história.

paulobarrosportelaVice-presidente da chapa “Portela Verdade” foi eleito e se tornou o grande líder da agremiação em sua retomada. O grupo, no qual o dono do blog faz parte, encontrou uma Portela ridicularizada, apequenada, assustada, endividada e fez a gigante voltar. Readquiriu a confiança, a auto-estima, voltou a ser temida pelos adversários, fez três grandes carnavais, ações sociais, gerou mídia, marketing, grandes contratações e só não venceu o carnaval ainda, mas isso parece cada vez mais próximo.

Falcon não fez apenas isso. Fez um belo trabalho com as escolas menores, da Intendente Magalhães. Deu abrigo a elas em um terreno seu, para que pudessem fazer seus carnavais com dignidade e ano passado criou o “Samba É Nosso”, entidade que organiza os desfiles dos grupos C, D e E. Uma entidade até que se prove o contrário honesta, limpa e que teve muito cuidado ao fazer seu carnaval. Um carnaval transparente e sem contestações.

Minha história recente no carnaval está ligada diretamente ao Falcon, já que fui um dos que acreditou no “Samba É Nosso” fundando uma escola de samba, a Nação Insulana, e a agremiação é uma das primeiras campeãs da entidade.

Mas a relação começou antes. Por intermédio do Cadu, fui levado a ele na época que criei o “Reage Boi” e pegamos o comando da escola. Falcon me tratou muito bem e abriu o barracão para que pegássemos material para o Boi da Ilha.

No ano seguinte, na confusão da eleição no Boi, nos deu toda assistência e aconselhou a criação de uma nova escola. Quando surgiu a Nação, nos protegeu, acarinhou garantindo que a agremiação participaria do desfile mesmo com pressões contrárias. Comprou briga acolhendo a Nação, mas Falcon nunca fugiu de brigas.portela2016a

Fui para a Portela quando seu grupo assumiu a escola e foi a última escola na qual assinei samba no Especial. Minha relação com ele continuou quando fui para o SRZD. Numa festa do site distribuiu chapéus da Portela e pulou minha vez zoando. Falcon também tinha esse lado gozador. Numa reunião do “Samba é Nosso” em sua sala durante uma feijoada da Portela, ao mesmo tempo que falava horrores de inimigos era capaz de tiradas engraçadíssimas.

Eu me sentia bem com ele, acho que o sambista em geral também. Fará muita falta.

Não o conhecia bem e sei do papo de vários rolos que poderia ter se metido, fora que nenhum candidato a Nobel da Paz morre como ele morreu, mas isso não está em questão. Ninguém é capaz de julgar ninguém, ninguém é santo e nesse momento consigo apenas ver seus atos. Era possível amar o Falcon, odiar o Falcon, jamais ignorar.

marcosfalcon2016Foram três anos com a cara de frente no carnaval, fora os anos de bastidores, e fez história. Sem dúvidas o maior líder portelense desde Natal, o maior líder do carnaval desde o surgimento dos bicheiros. Isso tudo em três anos apenas. Foi um meteoro, um cometa que passou e mudou tudo a sua volta nessa passagem. Deixa todo um cenário diferente depois da sua passagem.

A Portela não voltará a ser aquela tristeza que era até 2013. Não tem como, o que o grupo comandado por Falcon começou não tem volta e essa escola virá com sangue nos olhos para a avenida, com toda organização e profissionalismo já conquistados somados à raça, garra, vontade de quem quer dar um título a seu líder tombado antes do sonho se realizar. Tenho certeza de que a águia virá com uma força descomunal para o desfile. Pode ter certeza que lá vem trovoada.

Falcon se junta a Natal, Paulo da Portela, Clara Nunes e tantos outros para abençoar a Portela, conduzir de onde estiverem a agremiação para o vigésimo segundo campeonato. Pensei que ocorreria em 2016, talvez os Deuses estejam certos, em 2017 será muito mais emocionante.

Obrigado por tudo que fez ao Boi, a Nação, pelas escolas pequenas, Portela e carnaval no todo, Falcon. Fico imaginando o que você poderia ter feito se ficasse mais tempo aqui. Mas sua figura é tão grande que talvez faça mesmo não estando fisicamente.

Sucesso, meu amigo Luis Carlos Magalhães, que dois dias antes da tragédia me prestigiou e comprou meu livro. Força, Fabio Pavão, Paulo Renato, Pedro Migão, Rogério Rodrigues, para todos, avante portelense para a vitória, avante que seu passado é cheio de glórias e o futuro também será.

Madureira chorou.

Mas vai voltar a sorrir.

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