No início do século XX, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil. Assim como as cidades da grande maioria dos países em desenvolvimento, cresceu desordenadamente, sem planejamento, com a invasão de favelas e cortiços. A falta de saneamento fez com que a cidade fosse assolada por uma série de doenças, como a febre amarela.

Nomeado chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública, Oswaldo Cruz recebeu a missão de ‘’reforma sanitária’’ do Rio de Janeiro, que, digamos, não aconteceu da melhor forma, com a demolição de favelas, etc. Mas a situação piorou com a obrigatoriedade da vacina. Naquele tempo, era incabível uma mulher ter o braço descoberto por um homem que não fosse seu marido.

Muito mais do que o espanto, a obrigatoriedade da vacina gerou medo, pois as pessoas tinham diversas reações e diziam que, ao invés de ficarem bem, iriam morrer. Essa série de situações culminou com o movimento que conhecemos como ‘’A revolta da vacina’’.

Toda essa contextualização histórica não foi à toa; foi para mostrar que hoje, graças a um conhecimento mais amplo a respeito do sistema imune, uma das coisas que mais a sociedade cobra do meio científico é a produção de vacinas, seja para qual doença for e mesmo que seja biologicamente muito difícil de produzi-la.

upload_2015041619562205_dengue___claudio_fachel_palacio_piratiniQuando um agente estranho invade seu corpo, o sistema imune age como um batalhão para tentar contê-lo. Posso citar aqui várias células importantes que têm esse papel, como os linfócitos T4, os macrófagos, entre outras. Mas o fato é que nem sempre nosso sistema imune dá conta de tudo, então precisamos receber uma ajudinha.

Na vacina, pequenas doses de vírus são introduzidas em nosso corpo, as quais não nos prejudicarão, mas farão com que nosso organismo produza células de defesa (anticorpos) específicas para aquele vírus. E assim, quando formos atacados, estaremos bem imunizados. Esse é o mecanismo básico de funcionamento de uma vacina.

Recentemente, a Anvisa liberou uma vacina contra a dengue. Antes de fazer algumas considerações, acho muito importante esclarecer que todas as vacinas têm que passar por testes pré-clínicos. Estes testes, resumidamente, testam a vacina em modelos in vitro, como células, e in vivo, nos modelos animais. Isto serve para avaliar a eficácia da vacina, incluindo sua estabilidade. Dito isto, também cabe falar que é uma vacina produzida por um laboratório francês, o Sanofi Pasteur.

Aqui no Brasil, o Instituto Butantã está em fase final de estudos para produzir uma vacina também. Agora vamos aos pontos importantes: é uma vacina tetravalente, ou seja, protege contra os quatro sorotipos. É uma vacina recomendada para a faixa etária de 9 a 45 anos, mas não indicada a gestantes. No entanto, sua eficácia não é tão alta, pois protege cerca de 60%. Outro ponto importante é que a vacina pode ser distribuída pelo SUS.

Vale a pena tomar? Honestamente, mesmo com a proteção relativamente baixa, vale sim. Porque a vacina pode proteger de casos mais graves da doença, principalmente quem já teve dengue. Mais o ponto chave é que a vacina NÃO protege contra Zika e Chicungunya. Além disso, há fortes indícios da transmissão de Zika através de relações sexuais. Por isso, é como dizem, prevenção ainda é o melhor remédio.

Mesmo que a vacina seja bem sucedida, o combate ao Aedes aegypti ainda é a melhor forma de luta contra essas três doenças que têm nos dado muita dor de cabeça. Literalmente.