(escrevo esse texto como alguém que viveu o assunto e alguns momentos o relato será pessoal, então, peço desculpas pela narrativa em primeira pessoa em alguns momentos)
A atriz e ex-modelo Betty Lago morreu neste domingo em decorrência de um câncer na vesícula. A luta de Betty foi entre idas e vindas desde 2012. Uma luta desgastante que mexe com a parte física e psicológica porque o câncer usa principalmente do psicológico para derrubar não só aquele que tem o câncer como aqueles que estão ao seu redor.
Li na internet que ela perdeu a batalha contra o câncer porque morreu. O primeiro erro dessa afirmação é que dizer que Betty não lutou. É dizer que uma mulher que carregou por três anos esse tratamento (ela não falava que estava doente, mas sim em tratamento) não foi forte o suficiente para uma quimioterapia que acaba com sua imunidade. Dizer que ela não foi forte e não superou as batalhas semanais de exames. Falar que Betty perdeu a luta é chamá-la de fraca. Eu cito Betty Lago porque é um caso famoso, mas isso se multiplica por milhões de casos pelo mundo. Quem luta tanto tempo contra uma doença não perde a luta. O problema é que a luta é injusta.
A droga contida na quimioterapia pela qual o paciente de câncer passa é desumana. A queda de imunidade, de plaquetas, glóbulos vermelhos, de cabelo, enfim, o paciente fica exposto a uma série de males que podem atacá-lo.
Dizer que Betty Lago perdeu para o câncer é ignorar a luta que ela teve esses três anos. Em uma entrevista no começo deste ano quando o câncer tinha voltado, Betty Lago disse que transformou o que era pesado em algo leve e foi ali a prova que ela venceu o câncer. Aquilo foi uma mostra que a doença teria que ser forte para derrubá-la porque ela teria resistência emocional para superar. Ela ensaiava uma peça, continuava com seu canal no YouTube além de participar de programas no GNT e no Canal Viva.
O mesmo aconteceu com Hebe Camargo, morta em 2012. Hebe trabalhou até duas semanas antes da morte e assinou contrato da sua volta para o SBT. Lutou na frente da TV, apareceu na capa de revista sem cabelos. No Teleton, programa que ela era madrinha, apareceu e deu um show ao lado de Silvio Santos. Um show com direito a cair no chão em pleno tratamento contra o câncer e com mais de 80 anos.
Hebe e Betty lutaram. Venceram o câncer no psicológico. Elas e milhões por todo o planeta que diariamente lutam e vencem essa batalha. A morte é algo que todos passarão. Eu, você, elas. Todos nós vamos morrer e não é porque morreu durante esse tratamento que a pessoa perdeu a guerra.
No mesmo dia da morte de Betty Lago, uma imagem virou notícia na internet. Um garoto em uma maca foi visto assistindo ao jogo do Corinthians. O garoto se chama João Marcos e ele tem esclerose múltipla. Isso é vencer uma doença.
Superar a doença que bate, machuca, joga pra baixo é vencer. A luta, a batalha pode até ter acabado, mas quem disse que deixar esse mundo que vivemos é derrota? Quem disse que a morte é o final?
João já venceu. Betty venceu. Hebe venceu. Eu venci.