Semana passada me foi sugerido simular como seria uma possível seleção olímpica estadunidense de futebol americano já que a semana que passou marcou a abertura da contagem regressiva de um ano para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.  Entretanto, só o trago hoje pois não pude escrever antes.

Começarei explicando os critérios que usarei para cada posição e desde já deixo claro que todas as escolhas deste texto podem e devem ser discutidas e levam em consideração apenas a minha opinião pessoal sobre cada jogador. Ao final de cada seção dedicada a um jogador, mencionarei nomes que poderiam substituí-los sem nenhum problema.

Levarei em consideração o momento da carreira em que o jogador vive e, no caso de um lesionado, a gravidade da lesão e resistência a estas. Por exemplo, não escolherei um jogador de 38 anos que tenta dar sequência a uma carreira que deveria ter acabado há mais de um ano, um “aposentado em atividade” como chamamos, e que tem um grande histórico de cirurgias. Talento será a base para cada escolha. Idade e dominância também serão considerados. Histórico médico servirá como uma espécie de desempate, caso haja dúvida.

Começarei pela posição mais pivotal do futebol americano: o Quarterback. Aqui há uma briga bastante saudável pois pelo menos quatro nomes poderiam comandar a seleção estadunidense. A estrela do Green Bay Packers, Aaron Rogers, pra mim está  meio passo à frente dos outros. Andrew Luck do Indianapolis Colts é um nome que substituiria Rodgers sem uma grande queda de qualidade na posição.

Tom Brady, conhecido por aqui como o “marido de Gisele Bundchen” (ou não, segundo uma revista…), tem algo um algo a mais. Ele sem dúvidas sabe vencer e é um grande líder e apesar de ter acabado de ganhar o Super Bowl, não é mais o quarterback de antigamente. Ainda há o fator de que ele não traz o elemento do jogo corrido para a mesa diferentemente de Luck e Rodgers que são corredores eficientes e inteligentes. Meu quarterback seria Aaron Rodgers. Para o banco, talvez o preferido do Editor Chefe e “Rei do Quarto Quarto”, Eli Manning – ele pode não ser o melhor QB da NFL, mas talvez seja o mais “clutch”, um termo de difícil tradução mas que seria algo como “decisivo”.

O running-back tem parecido uma posição desmerecida nos últimos anos, mas se você tiver uma estrela aqui eu lhe garanto que será uma grande força do seu time. Aqui há também uma boa discussão. Adrian Peterson, do Minnesota Vikings, parece ser o melhor atualmente, mas como deixar de falar de Marshall “Beast Mode” Lynch? Como não preciso levar apenas um destes para um time, eu felizmente levaria ambos.

Nomes que também poderiam ser considerados, mas que para mim estão a uma longa distância atrás dos dois primeiros seriam: Eddie Lacy – cujo acompanhei a carreira desde a faculdade e sempre amei o jeito que ele joga –, Le’Veon Bell e DeMarco Murray. Arian Foster estaria na lista se saudável, mas não consigo lembrar da última temporada que ele fez completa, uma pena pro fã de futebol americano. Mas comporiam bem o banco.

Na posição de Tight-End não há como não escolher Rob Gronkowski. Entendo que Jimmy Graham é um monstro por si só, mas o “Super Gronk” é simplesmente fantástico de assistir. Ele é o melhor bloqueador da linha ofensiva quando uma jogada corrida é chamada, ele é maior e mais forte que qualquer jogador da linha secundária e mais rápido e agil que qualquer Linebacker. Ele é simplesmente imarcável.

Jimmy Grahan não seria uma má opção, mas Gronkowski simplesmente é o melhor TE da liga atualmente e se o ritmo continuar e as lesões não atrapalharem ele será o melhor TE de todos os tempos indubitavelmente.

Chegou a hora de falar um pouco dos wide receivers. Aqui eu poderia escolher dez e ainda haveria dor de cabeça sobre quem deixar de fora. Para complicar mais ainda a minha tarefa, resolvi escolher apenas quatro para me dar diferentes opções de alinhamento ofensivo.

Quero apenas que imaginem o caos que seria se Calvin “Megatron” Johnson estivesse no lado oposto ao de Rob Gronkowski na formação. E se Dez Bryant estivesse numa ponta com Megatron na outra e Super Gronk entre ambos. Seria injusto para qualquer formação defensiva ter que defender ao mesmo tempo os três melhores, maiores e mais ágeis alvos da NFL.

Não tenho como deixar Antonio Brown sem uma vaga cativa nessa seleção. O WR do Pittsburgh Steelers esteve na discussão de melhor jogador da temporada no ano passado e merecidamente. Para completar o grupo de WRs, escolherei Jordy Nelson para o desespero do editor-chefe. Nelson tem tanta química com Rodgers que deixar o melhor recebedor do meu quarterback titular seria injusto. No campo, parece que ambos conversam mentalmente pois um sempre sabe quais as intenções do outro, entende e as antecipa. É lindo vê-los jogar.

Agora explicarei o motivo de ter deixado o queridinho do editor chefe de fora da lista. Odell Beckham Jr. é fantástico, sem dúvidas e simplesmente não há palavras suficientes ou que façam justiça para elogiar aquela recepção com apenas três dedos em um jogo contra o Cowboys da última temporada. Porém, OBJ não me mostrou suficiente para eu considerar que ele deveria fazer parte desta lista e eu acompanhei sua carreira na faculdade. Victor Cruz poderia sim fazer um discurso para pertencer à minha lista, mas OBJ ainda não. Muita ênfase na palavra “ainda” da última frase.

Os jogadores de linha ofensiva eu poderia apenas pedir permissão à Jerry Jones para usar a do Cowboys. Não consigo pensar numa unidade melhor, mais entrosada e vejam que ainda há alguns pontos falhos, mas não dá para citar linha ofensiva melhor que a do time de Dallas. Todos riram quando os Cowboys usaram várias primeiras escolhas de recrutamento em jogadores de linha ofensiva e olhem só quem está rindo agora.

14 September 2014:   Travis Frederick (72)                       of the Dallas Cowboys during the Cowboys 26-10 win over the Tennessee Titans at LP Field in Nashville, Tennessee.   Photo by James D. Smith/Dallas CowboysTravis Frederick é um monstro e já era desde quando jogava na Universidade de Wisconsin, fortemente conhecida pelo excepcional desenvolvimento de jogadores de linha ofensiva e running backs. Tyron Smith possivelmente tem a melhor combinação de habilidades para um jogador de extremidade. O guard Zack Martin deu segurança ao interior da linha e é um caminhão abrindo espaço para os corredores.

Marshall Yanda dos Ravens, Joe Thomas dos Browns e Bryan Stork dos Patriots podem muito bem ser parte da seleção e sem dúvida fariam um grande trabalho seja qual for a posição em que fossem usados.

Agora que já montamos o ataque dos sonhos, partiremos para a defesa. Lembrem-se: “Ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos”.  Para combater o ataque dos sonhos, precisaremos de uma defesa dos deuses e exatamente isso que montaremos.

Há duas combinações de formações defensivas que são as mais frequentes: o sistema com 3 jogadores de linha defesiva e 4 linebackers e o sistema inverso, com 4 jogadores na linha e 3 linebackers. Há também uma formação com 5 jogadores de linha e outra com 5 jogadores na linha secundária e para evitar qualquer problema mencionarei 5 jogadores para cada posição para cobrir todas as possibilidades e fazer rodízio os mantendo descansados o jogo todo.

Começando pela linha defensiva. Aqui nós precisamos de homens do tamanho de armários que possam ser imóveis, mas que também sejam bastante ágeis. Dito isto, Robert Quinn e Chris Long, ambos do St. Louis Rams, têm que estar no rodízio. Ndamukong Suh, recém contratado pelos Dolphins, também não pode ficar de fora. Mario Williams é um caçador-nato de quarterbacks.

jjwattPor último e peça mais importante da defesa que estamos tentando montar: Justin James Watt. Não há como descrever o “MegaWATT”. Watt, para mim e para outros, deveria ter sido eleito o jogador mais valioso da temporada passada. Entretanto, por jogar na defesa e ter inevitavelmente menos impacto que um quarterback no jogo, Watt sozinho fez com que a unidade defensiva dos Texans fosse mediana. Ela seria horrível, sem ele.

De acordo com métricas avançadas cujo as quais eu não mencionarei prinpalmente pelo fato de não ser capaz de entende-las, Watt foi o melhor jogador defensivo da temporada, mas isso não é novidade à ninguém. A novidade é que a defesa dos Texans não teve absolutamente nenhum jogador que esteve sequer na média da liga em qualquer posição defensiva. Watt literamente ganhou alguns jogos com suas jogadas, mas não foi suficiente para levar o time aos playoffs.

Watt não só é o melhor jogador de futebol americano do universo. Ele é o mais carismático, é o que mais entretêm, é o que possui melhor ética de trabalho. A ESPN-mãe possui ou possuiu uma série de documentários chamados “30-for-30” cujo contava a história de jogadores e o de Watt foi um dos que mais me surpreendeu. O jeito como ele se comporta, o que ele significa para Houston e o que ele faz para servir de inspiração me impressionou bastante já que a NFL é basicamente uma liga de egos. Acredito que seja possível encontrar isso no serviço pago da emissora, mas não tenho certeza. Vale a pena dar uma olhada.

Dediquei três paragrafos apenas a Watt, não consigo expressar o quanto ele é importante não só como jogador, mas como pessoa num vestiário ou no campo de jogo.

O corpo de linebackers precisa ser inteligente e intuitivo o suficiente para identificar jogadas de passe, jogadas corridas, jogadas que tentem enganá-los e coisas do tipo. Eles têm que ser velozes, fortes e saber derrubar um jogador quando estiver no cara-a-cara e, acreditem em mim, eles enfrentarão várias dessas situações ao longo de cada campanha.

Aa posição de linebacker é incrivelmente mais superlotada que a de wide-receiver. Não há vagas para todos os que mereciam estar na lista. Pelas pontas Justin Houston e Terrell Suggs farão um estrago similar ao de um tsunami atingindo uma praia. No meio terei que escolher Luke Kuechly e C.J. Mosley. Kuechly é o linebacker mais intitivo da liga, ele fareja problema e o contém. Já Mosley vem da grandíssima Universidade de Alabama e arrebenta em cada jogo em liderança e reconhecer jogadas. Kiko Alonso seria outro que tem que estar, apesar de estar voltando de uma lesão gravíssima que o fez perder a última temporada.

Aqui estarei deixando de fora – de coração partido, diga-se de passagem – jogadores como Evils Dumervil, Tamba Hali, Jamie Collins, Dont’a Hightower, Shaq Thompson, Bobby Wagner, Bruce Irving entre outros. Durante as pesquisas eu fiquei espantado tamanha a qualidade da posição. Realmente não imaginava que havia tanto talento e tão jovem na liga. Não é uma boa geração para ser um jogador do ataque. Pessoalmente, eu não gostaria de encarar nenhum dos jogadores que citei primeiramente nem os que citei por último.

O futebol americano hoje em dia vive de ataque aéreo, ou seja, aquele que o quarterback cuida. Para conter um ataque dos sonhos, faz-se necessário criar a melhor linha secundária, a que cuida dos wide-receivers e tight-ends, possível.

Para, o que julgo ser, surpresa de vocês só usarei um jogador da considerada melhor linha secundária da liga: a do Seattle Seahawks. Eu amo como Kam Chancellor joga. Depois de Watt e Kuechly, ele seria o melhor jogador de defesa da liga para mim. Fico sinceramente aterrorizado quando vejo alguém no cara-a-cara com ele, quem quer que seja que estiver com a bola não terá a menor chance.

Darrelle Revis me garantirá que um recebedor do adversário sairá zerado do jogo. Ele não tem jogado como antes de ter machucado o jogo em 2013, mas isso só diz respeito ao imenso jogador que ele fora antes da contusão. Ele ainda é o melhor cornerback da liga, para mim. Na outra ponta, Patrick Peterson também reduzirá a produção ofensiva do oponente e posso ficar despreocupado.

Joe Haden cobrirá o terceiro recebedor adversário e me garantirá que este também saia zerado do jogo. Como quinto jogador de secundária, gostaria de contar com Devin McCourty. Aqui assumo que posso estar sendo um pouco clubista por seguir mais de perto o New England Patriots, mas não vejo as características de McCourty em nenhum outro jogador. McCourty possui qualidades de um grande safety e de um grande cornerback. Ele é veloz, inteligente, ágil, sabe interceptar uma bola que vem a sua direção e sabe antecipar aquele buraco no meio do campo onde seria uma possível janela para uma conexão de sucesso entre quarterback e recebedor.

O futebol americano não é um esporte olímpico e eu não acho que deva ser pois é algo que é difundido amplamente nos Estados Unidos, mas que não é o principal esporte de nenhum outro país do mundo. A Alemanha possui uma boa seleção de profissionais, assim como a França, e mesmo assim não seria suficiente de enfrentar uma seleção americana.

A situação brasileira no cenário mundial pode ser considerada boa. Possuímos duas ligas profissionais de futebol americano, o Torneio Touchdown e o Campeonato Brasileiro de Futebol Americano, mas mesmo assim ainda vivemos no amadorismo. Os nossos jogadores jogam por amor ao esporte, dividem-se em dez entre treinos, condicionamento físico, empregos de 40 horas por semana para por dar conta. É admirável.

Dito isto, eu não sei o que eu não daria para ver um jogo não-amistoso entre o ataque e a defesa que foram projetados neste texto. A força ofensiva que não pode ser contida contra a inércia extrema de uma unidade que não pode ser movida. Seria extremamente entretedor.

Até a próxima, amigos!

Fotos: NFL