Essa semana escrevi uma coluna para o SRZD em que falava sobre novos compositores e defendia o gênero samba-enredo, apesar de uma reconhecida queda de qualidade do mesmo. Mas defendi dizendo que existia uma crise criativa no geral. Em todas as artes, não só no Brasil, quanto no mundo.

Achei que seria interessante tocar no assunto aqui ainda mais quando vemos um frenesi dos amantes de teledramaturgia porque amanhã começa “A regra do jogo”. Nova novela de João Emanuel Carneiro.

As chamadas para a novela são boas mesmo, mas me chama atenção no fim o narrador dizer “Do mesmo autor de Avenida Brasil, João Emanuel Carneiro”. Não lembro da Globo fazer isso. Dar tanta ênfase ao novelista da vez e sua última obra.

Isso acontece por dois motivos. Primeiro porque João Emanuel é muito bom mesmo. Não só Avenida Brasil como a anterior, A Favorita, foram novelas muito boas. A segunda é que o gênero anda ruim demais.

Depois que Avenida Brasil acabou, vieram novelas com Gloria Perez, Walcyr Carrasco, Manoel Carlos, Aguinaldo Silva e Gilberto Braga. Cinco dos grandes novelistas de nossa história. Desses só Walcyr e Aguinaldo se livraram de um desastre completo, mas mesmo assim não fizeram nada que deixasse saudade.

Muito pelo contrário, a cada novela aumentava a saudade de João Emanuel, criando uma “dependência” do autor. Gilberto Braga é considerado um dos revolucionários, um dos gigantes da história e fez mais uma novela, como todas as suas recentes, terríveis, a ponto de ser encurtada drasticamente. Gilberto, infelizmente, virou um Ronaldinho Gaúcho das 21 horas. Desde meados da década passada vivendo de nome.

Aumenta e muito a responsabilidade de João Emanuel. Tudo em suas costas. Isso te lembra alguém?

Neymar. Não é? Ou o futebol brasileiro não passa pela mesma situação? Uma entressafra terrível, onde poucas coisa se salvam, vergonhas se acumulam e ficam todas as nossas esperanças nas costas de um só?

E nos outros esportes? Onde estão nossas esperanças? Na MPB? Rock? Samba? Teatro?

O cinema como falei tempos atrás vive uma fase de “arte engraçadinha”. Teve seu processo de retomada na década de 90, concorreu algumas vezes ao Oscar (Inclusive com Central do Brasil que tem roteiro de João Emanuel Carneiro) e chegou ao auge na década passada. Mas aí algum gênio “percebeu” que comédia dá mais dinheiro. Esqueceram todos os gêneros e investiram no filão. Nos últimos anos resolveram se arriscar menos ainda e nem nas comédias originais investem tanto. Agora só nas continuações das comédias.

Dinheiro. Tudo é questão de dinheiro. Seja no filme que chega aos cinemas, a música que toca nas rádios, músicas fáceis para que as pessoas possam entender. Hoje para fazer sucesso tem que fazer sertanejo universitário. Não importa seu ritmo, pode ser samba, mas tem que levar na toada do gênero. Cabelos com gel ou chapéu, calça apertada para estrangular o saco e fazer o rapaz dar agudos. Letras cheias de onomatopeias, que fale em bebida, balada e que vai levar a menina para a suíte 14.

O dinheiro move tudo. Por quê não moveria uma escolha de samba-enredo?

E onde o dinheiro manda e não a capacidade de pensar acontece uma crise criativa.

São tempos medíocres. Não existe o grande cantor, ator, dramaturgo, escritor, novelista ou compositor de samba-enredo. Não existe o político estadista. O Brasil passando o que passa atualmente e não temos um Brizola, Ulysses, Tancredo, Arraes, Covas ou mesmo um Lula antes de chegar ao poder.

Parodiando Cazuza. Meus heróis caíram no lava jato / meus inimigos querem voltar ao poder. Quem era o mocinho virou bandido e não existem mocinhos para combater quem virou bandido. Quem é o oposicionista que pode fazer o país de novo ter esperanças? Aécio? Bem menos, né?

Citei Cazuza… Pois é, nem alguém como ele temos mais. Até porque vivemos uma era careta, politicamente correta. Nossos pensadores hoje são Tico Santa Cruz, Danilo Gentili, Lobão, Roger do Ultraje, Jean Willis, Dilma Bolada e Dr. Marcelo ex BBB. Veja e Diário do Centro do mundo viram referências ideológicas.

Vendo por esse lado, as novelas do Gilberto Braga e a suíte 14 são os menores de nossos problemas.

O Brasil precisa se reinventar. A preguiça é inimiga da criatividade e a impressão que dá é que hoje temos tantas facilidades graças aos avanços tecnológicos que o ato de pensar ficou em segundo plano, Criatividade daqui a pouco será um aplicativo que teremos que baixar.

O que queremos deixar para as gerações futuras? Que marca?

Ainda tá em tempo de pensarmos nisso.

Se ainda lembrarmos como se faz isso.

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