Na próxima quinta feira, teremos o primeiro dia do draft na NFL, processo no qual os jovens que jogaram futebol americano na universidade são recrutados pelas equipes que formam a maior liga esportiva do mundo.

O sistema americano de formação de atletas é bem diferente do nosso. No Brasil, os clubes acabam sendo os formadores de atletas, mas nos Estados Unidos o sistema é alimentado pelas universidades. Estas possuem todo um sistema esportivo, calcado em bolsas de estudo, assim formando os jogadores que irão alimentar as ligas profissionais norte-americanas.

Uma vez por ano, temos o draft. Grosso modo, é o momento em que as equipes profissionais americanas – no nosso artigo, a NFL – escolhem os principais atletas universitários a fim de reforçar as suas equipes. Na NFL, funciona em três dias: no primeiro, a primeira rodada, na qual cada equipe escolhe um jogador. No segundo dia se escolhem os jogadores da segunda e terceira rodadas; no terceiro, da quarta à sétima.

No total, são 256 jogadores escolhidos no processo. Algumas equipes ganham escolhas compensatórias se no processo de “free agent” perdem mais jogadores que contratam, então são sete rodadas “normais” mais 32 escolhas distribuídas pelas rodadas.

No caso da NFL, a ordem de escolha é a inversa da classificação das equipes na temporada anterior. O time que teve a pior campanha é o primeiro a escolher, enquanto que o atual campeão é o último em cada rodada. Este ano o Tampa Bay Buccaneers tem a primeira escolha.

Quando há empate nas campanhas, há um rodízio pelas rodadas: por exemplo, o NY Giants tem a nona escolha na primeira rodada, mas terá a décima na segunda e a décima primeira na terceira. Outra possibilidade é a de trocas: o Seattle Seahawks cedeu sue escolha de primeira rodada ao New Orleans Saints no processo da troca que levou o tight end Jimmy Graham à equipe do oeste americano.

Além disso, há rumores de que o Philadelphia Eagles irá propor uma megatroca a fim de selecionar o QB Marcus Mariota na segunda escolha, que originalmente pertence ao Tenessee Titans. Isso não é incomum: em 2004, por exemplo, o NY Giants fez uma troca a fim de selecionar o QB Eli Manning (alto do post). À época muita gente achou que o time de New York fez um mau negócio, mas, dois títulos de SuperBowl depois e com Eli ganhando ambos os jogos na campanha derradeira, não dá para dizer isso.

Outro exemplo é Teddy Bridgewater, a meu juízo o melhor quarterback da nova geração, selecionado pelo Minesota Vikings na última escolha da primeira rodada após uma troca com o Seattle Seahawks.

Os jogadores selecionados pelo draft ficam presos às equipes que os selecionaram por um ano, tendo seus “direitos federativos”, muito mal comparando, presos por este tempo. Ou seja, se não acertarem contrato com a equipe que os selecionou não podem jogar por outra equipe. É algo muito raro, mas pode acontecer – um exemplo é a troca que levou Eli Manning aos Giants, motivada pela recusa deste em jogar no San Diego Chargers.

O salário de um calouro, como é conhecido o jogador que está em seu primeiro ano de NFL, varia de acordo com a rodada em que é selecionado. A duração de contrato é a mesma, quatro anos, mas um jogador de primeira rodada ganha aproximadamente US$ 4 milhões no primeiro ano e US$ 7 milhões no quarto ano de seu contrato de rookie (calouro).

À guisa de comparação, um jogador selecionado na sétima e última rodada ganha US$ 314 mil no primeiro ano de contrato e US$ 700 mil no quarto. Um jogador que não tenha sido selecionado está livre para assinar com qualquer equipe, mas os contratos são de três anos – no primeiro US$ 421 mil e, no terceiro, US$ 601 mil por temporada. Dois exemplos de jogadores que não foram draftados mas que se estabeleceram na NFL são o kicker brasileiro Cairo Santos (Kansas City Chiefs) e a estrela do NY Giants Victor Cruz.

Este ano de 2015 aponta uma mudança importante no draft: ele sai de New York e se transfere para Chicago. Outra característica importante é que, ao contrário de outros anos, a classe de quarterbacks universitários disponível é bastante limitada.

Os dois principais prospectos – como são chamados os jogadores – são Jameis Winston e Marcus Mariota, mas nenhum dos dois, a meu ver, empolga. Winston, ainda assim, deverá ser a primeira escolha, mas sinceramente não consigo ver nenhum dos dois se tornando um “franchise quarterback”. Contra Winston ainda pesam várias denúncias de comportamento inadequado extra campo, o que é problemático na NFL e mais ainda na posição de quarterback.

Vale lembrar que somente estudantes a partir do segundo ano universitário podem se declarar como elegíveis ao draft, ao contrário do que ocorre, por exemplo, na NBA. Os estudantes do último ano que não forem escolhidos – como o quarterback de Ole Miss, Bo Wallace, que duvido que seja draftado – tem a opção de seguirem as carreiras que estudaram na faculdade. Depois que se declara ao draft o jogador não pode voltar a jogar futebol americano pela sua universidade.

2014 NFL Draft

Ser selecionado na primeira rodada do draft nem sempre é garantia de sucesso, embora uma direção mais competente certamente diminui os riscos de um selecionado na primeira rodada não dar a contribuição que dele se espera.

O NY Giants é um bom exemplo.

Em 2012, vindo de um título, a equipe selecionou o running back David Wilson. Além dos vários erros cometidos em sua temporada de calouro, Wilson teve depois diagnosticado um problema no pescoço que o fez encerrar a carreira prematuramente – ou seja, um bust, nome que se dá a jogadores em que se depositam grandes esperanças e não desenvolvem uma carreira consistente na NFL.

2013 o time nova iorquino draftou na primeira rodada o jogador de linha ofensiva Justin Pugh. Não causou impacto imediato, mas vem se firmando como um consistente jogador do plantel. Não dá para dizer que foi um acerto total, mas pelo menos vem contribuindo à equipe.

Na última temporada o “Big Blue” escolheu o wide receiver Odell Beckham Jr na primeira rodada. Ele chegou a causar dúvidas pelas contusões na fase de preparação para a temporada, mas em apenas 12 partidas teve um impacto tão grande na equipe que não somente ganhou o prêmio de “Novato Ofensivo do Ano” como, hoje, vende mais camisas que o ídolo e ícone Eli Manning.

Ou seja, nem sempre a primeira rodada é certeza de boa escolha.

Aliás a escolha do time azul de New York é uma das grandes incógnitas deste draft. Seu “general manager” Jerry Reese tem como norma escolher o “melhor jogador disponível”, o que, tendo a nona escolha, pode significar um jogador de uma posição diferente das inúmeras necessidades da equipe.

NFL: 2014 NFL DraftPorque esta é outra característica daqueles que tem a missão de recrutar os jogadores: nem sempre aquela que é considerada a maior necessidade de uma equipe pode ser a escolha mais adequada, especialmente em uma primeira rodada. A avaliação da qualidade dos prospectos também é considerada no momento em que uma decisão é tomada: às vezes vale a pena trazer um jogador de uma posição suprida mas que pode causar impacto imediato.

As necessidades de cada equipe podem ser vistas neste ótimo trabalho do site “The Concussion”.

Este ano a Espn brasileira irá transmitir os dois primeiros dias de draft ao vivo, às 20 horas na quinta feira e 21 na sexta. Será imperdível, sem dúvida alguma.

Para finalizar, o filme “A Grande Escolha” (trailer abaixo), mostra um pouco do que ocorre no dia do draft. Mas aviso aos leitores que há muitas licenças poéticas no enredo, em especial nas trocas que ocorrem ao final. Vale pelo entretenimento e por mostrar um pouco dos fatores que levam uma franquia a escolher um jogador ou outro.

Imagens: NY Post e USA Today

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