Sabemos bem que a profissão de técnico de futebol é complicada. Bem complicada, aliás. Simplesmente não há estabilidade alguma para se desenvolver um trabalho. Três derrotas seguidas quase sempre são garantia apenas de demissão.

Não são levados em conta uma série de fatores: politicagem interna nos clubes, elencos limitados, falta de recursos mesmo em clubes grandes, atrasos de salários ou até mesmo conluios internos em grupos que não aceitam determinadas medidas disciplinares.

E, nesse ambiente de salve-se quem puder, estoura quase sempre no treinador. Não que os técnicos muitas vezes não cometam erros estratégicos ou de substituições ou escalações. Mas em vez de se tomarem medidas mais significativas numa engrenagem complexa que é um time de futebol, tira-se apenas uma peça: o técnico.

Nesse vaivém de técnicos, temos visto cada vez mais que a saúde desses profissionais tem ficado prejudicada. Que eu me lembre, Joel Santana, Oswaldo de Oliveira, Ricardo Gomes, Guto Ferreira, Antônio Lopes e Van Basten tiveram problemas diretamente ligados a estresse. Que, não tenho dúvidas, vem do futebol.

Mas nenhum caso me chama mais a atenção do que o de Muricy Ramalho. Outro dia estava editando um VT para o Tá na Área sobre o treinador e, na pesquisa de imagens, fiquei assustado como o técnico “envelheceu” em sete, oito anos… (vejam na foto que abre o post).

Desnecessário discorrer sobre o currículo extraordinário de Muricy Ramalho, campeão de tudo (ou praticamente) que disputou. Nesse ano, o São Paulo, é fato, não teve um desempenho aceitável nos clássicos. Mas o time estaria classificado para a sequência do Paulista e da Libertadores no momento em que escrevo.

Aí eu me pergunto: Muricy tem culpa que o Rogério Ceni faz besteira e ainda toma um gol quase do meio-campo? (sem tirar, claro, os méritos do palmeirense Robinho) Muricy tem culpa de Ganso outra vez ter tido um desempenho apático em campo? Muricy tem culpa de Luis Fabiano outra vez passar em branco num jogo importante?

Recentemente, o Fluminense dispensou Cristóvão Borges depois de um empate com o Tigres no qual o Tricolor foi prejudicado pela arbitragem e deveria ter vencido. Cristóvão tem culpa disso? Cristóvão tem culpa de o clube ter perdido um punhado significativo de jogadores após o fim da parceria com a Unimed?

oswaldogabrielO desabafo – até engraçado – de Oswaldo de Oliveira, sobre a insistência de um torcedor ao pedir, ou melhor EXIGIR, Gabriéééééééééééélllllll em campo, mostra um simples exemplo do que o treinador tem de aturar no exercício de sua profissão. Oswaldo, como já citei, outro que teve um problema de saúde recente.

Aí eu te pergunto (como diria Marcelo Rezende): você em seu ambiente de trabalho consegue desenvolver a sua atividade com tanta coisa perturbando, com tantos problemas estruturais em volta, ou com tanta gente jogando contra? Não, definitivamente.

“Ah, mas o técnico de futebol ganha uma grana preta”, você pode dizer. Sim, fato, existem distorções no mercado. Mas um equívoco não justifica o outro, e está claro que os técnicos de futebol precisam de um ambiente mais adequado para trabalhar. Mais um problema no futebol do 7 a 1.

Para encerrar, Muricy chegou a entregar o cargo depois da derrota para o Palmeiras, mas a diretoria o demoveu da ideia. Sinceramente lamentei profundamente quando li isso. Não porque ache que ele esteja fazendo um bom ou mau trabalho. Mas porque Muricy claramente não está bem, e ele tem uma família. Como todos nós.