A Série A viveu um momento muito marcante neste sábado à noite na Passarela do Samba. Desfiles e momentos para se guardar pra sempre na memória.
Em geral, as apresentações foram bem superiores às de sexta-feira e creditaram mais três escolas ao sonho do título, e do acesso ao Grupo Especial em 2016.
Depois de um dia de desfiles decepcionantes, nada melhor do que um dia pra lavar a alma do folião e resgatar a verdadeira essência das escolas de samba.
Alegria da Zona Sul
A escola levou para avenida o enredo “Karioca”, exaltando os costumes e o jeito de ser do carioca. Desfile leve, solto, irreverente, que contou com alegorias e fantasias bastante simples. Ponto alto foi a harmonia, escola cantou muito e evoluiu sem maiores problemas. Esse será, sem dúvida, o grande trunfo da escola na luta pela permanência no grupo. Das ditas ameaçadas pelo rebaixamento foi a que melhor se apresentou.
Acadêmicos de Santa Cruz
Mais uma grata surpresa da noite. Apesar de pecar em alegorias e fantasias, a escola evoluiu e cantou como há muito tempo não se via. O samba solto e de refrão forte empolgou os componentes e levaram a escola a um bom desfile. O enredo em homenagem à Grande Otelo, “Um pequeno menino se transformou em Grande Otelo” foi bem contado e deve permitir uma posição intermediária, melhor inclusive que a do último carnaval.
Inocentes de Belford Roxo
Em uma homenagem a Nelson Sargento, baluarte da Mangueira, a escola da Baixada contou muito bem seu enredo “Nelson Sargento – Samba Inocente, pé no chão”. Alegorias e fantasias com boa leitura, sem grande luxo, mas que contaram o enredo de forma linear. Samba muito forte, que contagiou os componentes, permitindo boa harmonia e evolução. No último carro, um emocionado Nelson Sargento acenava a todo instante para o público, sendo ovacionado por toda a avenida. Escola não lutará por título, mas poderá alçar boas colocações.
Unidos de Padre Miguel
Apoteótico, histórico, inesquecível. Todos os adjetivos parecem pequenos diante da epopeia que foi esse desfile. A grande redenção do samba e a prova que samba bom faz a diferença. Apresentação soberba, inquestionável. Canto e evolução perfeitos, bateria com várias bossas, que levaram à loucura quem estava na avenida. Alegorias e fantasias de extremo bom gosto. Aos gritos de “é campeã”, a escola foi consagrada ao final. Ariano Suassuna teve uma merecida homenagem. Além do prêmio Estandarte de Ouro, como melhor escola da Série A, Padre Miguel tornou-se a grande favorita ao título.
Império da Tijuca
Com a árdua missão de desfilar após a Unidos de Padre Miguel, a Império levou luxo em alegorias e fantasias para contar seu enredo “O Império nas aguas doces de Oxum”. A escola desfilou coesa, com destaque para a comissão de frente e bateria. Aproveitando-se da boa estrutura herdada de sua passagem pelo Especial, ano passado, a agremiação postulou-se novamente a brigar pelas primeiras colocações.
Renascer de Jacarepaguá
Outra grata surpresa da noite. Se no período pré-carnaval muito se falava sobre a estrutura frágil da escola, o que se viu na avenida foi uma escola com alegorias e fantasias simples sim, porém bem adequadas ao enredo e um chão muito forte. Canto e harmonia executados com muita competência. O enredo em homenagem ao compositor Candeia, “Candeia! Manifesto ao povo em forma de arte”, foi bem contado e afastou, seguramente, todo e qualquer risco para a escola. Ficará no grupo em posição intermediária.
Acadêmicos do Cubango
Niterói muito bem representada esta noite. Com um belo trabalho em fantasias e alegorias, a escola evoluiu bem até a parte final. Um problema na cabeça da escola forçou paradas constantes de evolução e fez com que a última ala da escola passasse pelo setor 4 com 43 minutos de desfile, ou seja 12 antes do término do tempo oficial. Pontos preciosos devem ser perdidos em evolução e conjunto. Os problemas durante o desfile afastam a escola da luta pelo título, mas, deixando boa impressão pelo samba e por ter contado muito bem o enredo “Cubango, a realeza africana de Niterói”.
Estácio de Sá
Considerada a grande favorita no período pré-carnaval, a Estácio pisou com autoridade na avenida. Apesar de o samba não ter rendido o esperado, a escola mostrou boa evolução e canto, com uma certa irregularidade em fantasias e alegorias, que alternaram bons e maus momentos. O enredo “De braços abertos, de janeiro a janeiro, sorrio, sou Rio, sou Estácio de Sá” creditou a escola aos primeiros lugares e à luta pelo tão sonhado acesso.
Após a passagem das 15 escolas, durante os dois dias de desfiles, alguns pontos precisam ser considerados e discutidos. Primeiro, o tempo de desfile precisa e deve ser aumentado. Quase todas as escolas apertaram o passo nos últimos minutos dos desfiles, mostrando que apenas 55 minutos são muito pouco para a apresentação. Aumentar para 60 ou, até mesmo 65, permitiria um ritmo mais homogêneo e sem correria.
Outro ponto a ser considerado foi a diferença estrutural entre as escolas. Isso havia sido atenuado ano passado, porém em 2015 tivemos a nítida sensação de ver dois grupos em apenas um. A diferença plástica e de qualidade de desfile como um todo entre aquelas que lutarão pelo título e aquelas que lutarão por posições intermediárias ou contra o rebaixamento mostrou-se enorme, gigantesca. Cabe a Lierj estudar uma forma de diminuir esse abismo.
A subvenção é pequena para o grupo. Precisa ser conduzida uma política de readequação de valores e prazos. O grupo e o espetáculo em si, pedem, ou melhor, exigem tratamento diferenciado. Afinal, estamos falando do maior grupo de acesso do carnaval carioca e que, pelo enxugamento do número de escolas no Especial, tornou-se ainda mais atrativo e importante.
Para 2015, o título deve ficar entre Tuiuti, Padre Miguel, Estácio ou Império da Tijuca. Trata-se de apenas um palpite, diante do que foi visto nos dois dias. É claro que surpresas acontecem e são bem-vindas, mas creio que esse ano, o campeão sai desse seleto grupo acima.