O carnaval 2015 mostrou a necessidade de se repensar o numero de escolas. Há um abismo entre elas, que ficou mais evidente na noite de sexta, mas que voltou a se repetir na segunda noite. Sendo assim, destaco dois grupos de escolas. O primeiro, formado por Alegria, Renascer e Santa Cruz desfilaram sem muitas pretensões de ascender ao Grupo Especial. Já as demais pisaram forte e buscam o título, algumas com mais, outras com menos condições. A campeã do carnaval deve sair entre Unidos de Padre Miguel, Império da Tijuca, Império Serrano ou Tuiuti (as duas últimas desfilaram na sexta).

A Alegria fez jus ao nome. Gostei da solução de algumas alas, como a do churrasquinho de gato. Fantasias de fácil leitura. O abre alas destoou um pouco do resto, mas o conjunto alegórico até que foi honesto. Harmonia e samba funcionaram bem. Fica fácil no grupo, perante os desastres de ontem com a Em Cima da Hora e Bangu.

Santa Cruz fez um desfile melhor do que nos anos anteriores. Algumas fantasias muito bonitas, como a ala de baianas, a melhor da noite. Mas alegorias e samba deixaram a desejar. A Harmonia também não estava muito boa. Das três, deve ser a que fica no meio da tabela.

A Renascer não teve muita sorte, ao desfilar entre escolas “grandes” do grupo. As alegorias estavam bastante simples, no nível da Alegria e abaixo da Santa Cruz. Porém o lindo samba e o desenvolvimento do enredo contam a favor. Foi bacana ver a escola Quilombo desfilando na avenida. Um belo exemplo de enredo simples, que ganha pela emoção. Só faltou alma à escola para levar à avenida um grande desfile.

Em relação aos desfiles mais competitivos, Inocentes fez uma apresentação que começou morna e cresceu muito no final. Fantasias também foram ficando mais interessantes na medida que abordavam a parte mais mangueirense do enredo. Ter deixado o homenageado no final foi um trunfo da escola. Destaque para a segunda alegoria com uma belíssima e imponente máscara africana.

A Unidos de Padre Miguel fez desfile para título, pareceu perfeita em todos os quesitos. Apenas em enredo, a tentativa de mostrar a universalidade da obra de Ariano Suassuna misturando-a a outros elementos da literatura mundial me pareceu muito complicada e pode custar perda de pontos. Eram muitas referências, que se de um lado ajudaram a escola esteticamente, por outro complicaram a leitura do enredo.

Na disputa pelo título, a Império da Tijuca apresentou carros grandiosos, mas com alguns (poucos) problemas de acabamento. Quanto ao enredo, apesar de bem desenvolvido, acho que faltaram soluções mais criativas, a despeito do luxo. O samba não funcionou bem, e esse é o detalhe que faz a diferença e não coloca a escola como favorita isolada ao título.

A Acadêmicos do Cubango trouxe uma África bela, suntuosa, mas um pouco óbvia. O tamanho dos carros impressionou, mas a comissão de frente destoava do resto da escola, muito simplória. Algumas alegorias também trouxeram uma leitura difícil, como a que mostraria Mandela mas só destacava peixes e referências aquáticas. Novamente deve ficar no bolo das primeiras escolas, mas não leva o título.

A Estácio de Sá fechou a noite e foi uma grande decepção. A bateria aceleradíssima podia ser repensada, pois não traz ganho algum à escola, impossível ter fôlego para cantar o samba naquela velocidade. Plasticamente, a escola veio bem equivocada, com combinações estranhas de cores e muitas alegorias e fantasias de gosto duvidoso. Mais um enredo sobre Rio de Janeiro com as mesmas referências, numa versão piorada.

A classificação da noite seria essa:
Unidos de Padre Miguel
Império da Tijuca
Cubango
Inocentes
Estácio de Sá
Santa Cruz
Renascer
Alegria da Zona Sul