Jornalista e diretor de comunicação da Octagon Brazil, uma das maiores empresas de marketing esportivo do mundo. Também assessor e ex-assessor de imprensa de jogadores como Kaká, Paulo Henrique Ganso e Neymar. Diogo Kotscho é o nosso entrevistado de hoje. Kotscho também é sobrinho do jornalista político Ricardo Kotscho, já entrevistado por este Ouro de Tolo em 2011.

1) Como você avalia o crescimento da NFL no Brasil? É algo sustentável?

Diogo Kotscho – Sem duvida. Acho que a ESPN fez um grande trabalho em aumentar a cultura do brasileiro no esporte e didaticamente ensinar o jogo. Acho que essa etapa já acabou, ou deveria ter acabado – e é hora de dar um passo a frente trazendo um jogo de pré temporada para cá. Não tenho duvida que esse é o esporte que mais vai crescer no Brasil nos próximos anos.

2) Quais os requisitos para o Brasil sediar um jogo da NFL a médio prazo? Qual estádio está mais próximo do exigido pela categoria?

palmeiras-sport-arena-rib-7DK – São Paulo seria a melhor praça para começar pois é onde os esportes americanos estão mais enraizados. Vejo a nova Arena do Palmeiras (ao lado) como perfeita em termos de tamanho, estrutura e localização.

3) No que consiste o trabalho de assessoria de um jogador como Kaká?

DK – Foi mudando ao longo do tempo, desde criar uma imagem que fosse compatível com o caráter dele e comercial para atingir nossos objetivos, passando pela administração do período no auge, a queda nos anos de Real Madrid e esse ressurgimento nas redes sociais, no Milan, no SP e agora pra frente nos EUA.

4) A MLS está se expandindo rapidamente e Orlando terá uma equipe a partir de 2015. Quais foram os passos necessários até a primeira partida a se realizar?

DK – Foi uma longa jornada que começou há algum tempo. Passou pelo plano de negócios, mostrar a viabilidade do investimento para o investidor, depois veio a fase de convencer a liga do projeto e aprovar o projeto para criar o vigésimo primeiro time da MLS. A contratação do primeiro astro que é o Kaká e a fase que estamos agora de montagem do elenco e da construção do novo estádio no centro de Orlando e de toda a estrutura profissional que envolve um time em uma liga americana.

5) Qual o quadro que se espera da MLS a médio e longo prazos?

DK – A MLS sem duvida nenhuma tem potencial para em alguns anos se tornar a segunda liga americana. Hoje a média de publico já é maior que a MLB e a NBA, mas sem duvida nenhuma, com o que vimos durante a Copa e pelos estudos que recebemos essa realidade se tornará real em alguns poucos anos.

NewStadium6) Os direitos televisivos do futebol brasileiros estão bastante concentrados no Grupo Globo e suas subsidiárias. Como você avalia a influência desta situação sobre o futebol brasileiro?

DK – Eu acho que o problema no Brasil não está na TV, ou não apenas na TV. O futebol brasileiro hoje é um produto ruim, para os patrocinadores e também para a TV. Os jogos são ruins, o nível é baixo, a organização não é eficiente e não atrai o publico que deveria ser o consumidor disso tudo. Não vejo uma grande briga pelos direitos de TV, vejo pelo contrario até um certo desinteresse da própria Globo. Os clubes tem que começar a ter uma organização melhor, para depois tomarem conta do próprio negócio que é o campeonato. Fazer a fórmula ficar melhor e mais atraente e ai sim tornar isso um produto disputado por TVs e patrocinadores.

7) Como você avalia de forma geral o marketing esportivo no Brasil?

DK – É algo novo por aqui de fato. Poucas empresas no Brasil sabem o que é marketing esportivo. Muitas ainda confundem com patrocínio ou gosto pessoal de quem lidera a empresa. A vinda de grandes agencias como a Octagon ajuda aos poucos a mudar essa cultura e até mesmo a formar profissionais que dentro da agencia ou posteriormente fora dela farão a diferença na mudança dessa cultura. Estamos na década de 50 se formos comparar com o que é feito nos EUA, por exemplo, mas seguindo a fórmula correta não vejo motivo desse mercado não crescer muito nos próximos anos.

8) Com sua experiência de acompanhar “in loco” a F1 por algum tempo , pode nos descrever a selvageria capitalista de Ecclestone como algo parecido com o que vemos na divisão das cotas do Brasileiro?

DK – Bernie criou a F1 que conhecemos hoje: transformou um coliseu de milionários e malucos que se matavam em carros em um dos maiores negócios esportivos do mundo. Tem um mérito enorme nisso. Seu estilo de gestão da mídia muitas vezes cria atritos e interpretações erradas, mas acredito que ele até se diverte com isso.

Acho sinceramente que um novo Eclestone poderia mudar o futebol brasileiro e não podemos comparar F1 com o que temos aqui. O problema aqui é culpa dos clubes. O dia que eles se estruturarem, tomarem conta do próprio produto e terem uma visão conjunta de negócio, como aliás acontece na F1, ai sim a coisa aqui poderá crescer e se tornar algo relevante no mundo do esporte.

20131108_1021439) Os americanos terão umas das cinco maiores ligas do mundo em quanto tempo?

DK – Sem dúvida nenhuma em menos de uma década.

10) A exploração do torcedor brasileiro para fomentar a economia dos clubes continuará fora da cultura dos dirigentes ate quando?

Até quando as pessoas aqui não entenderem que o futebol, ou qualquer esporte na verdade, é um negócio. Que deve ser gerido de forma conjunta pelos agentes, que são os clubes. É deles que emana a força, é o clube que o torcedor é apaixonado e consome, se tiver produto para isso. Mas não basta uma ou outra ideia de marketing tosca dada por alguém que trabalha 8 horas por dia em uma grande agencia e dedica meia hora por semana ao clube do coração, ou ao departamento de marketing muitas vezes um curral eleitoral da politica do clube onde os dirigentes encostam filhos de pessoas que elegem os mandatários.

O dia que o clube for gerido como uma empresa, que for dono do negócio que é o campeonato e pensarem conjuntamente com os outros clubes em ações para futebol como um todo se beneficiar teremos enfim um grande negócio por aqui, que irá atrair investidores sérios e patrocinadores.

O Ouro de Tolo agradece a Diogo Kotscho pela gentileza em responder às perguntas.

(Emerson Braz, com a equipe Ouro de Tolo)

Imagens: Twitter do jornalista, GloboEsporte.com, Site do Orlando City e Arquivo Pessoal do Editor