O Carnaval de 2003 prometia não ser dos mais fáceis para as 14 escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo. Além de o número de escolas rebaixadas aumentar de dois para três, visando assim a reduzir o número de participantes no primeiro grupo, a desvalorização do real se uniu à verba cada vez mais insuficiente vinda da Prefeitura e de cotas de patrocínio – todas essas aliás, saindo apenas em janeiro – para complicar o orçamento das escolas de samba.
A duas semanas do início dos desfiles no Anhembi, porém, isso tudo ficou muito insignificante perto das reais tragédias que começariam a acontecer. Primeiro, o barracão da Unidos do Peruche sofreu um incêndio em seu almoxarifado que destruiu completamente duas das seis alegorias da escola, gerando um prejuízo de mais de R$ 200 mil para a Filial do Samba. Mal sabiam os sambistas paulistanos que essa não era a maior tragédia daquele Pré-Carnaval.
Sábado, 22 de fevereiro de 2003, talvez seja o dia mais triste da história do samba paulistano. A seis dias do início dos desfiles principais, os Blocos Especiais da União das Escolas de Samba Paulistanas desfilariam para um público reduzido no Sambódromo do Anhembi. Às 22h, um deles, o bloco Independente Tricolor, ligado à Torcida Organizada do São Paulo, se preparava para abrir a festa na concentração, quando cruzou com integrantes da Pavilhão 9, ligada à Torcida Uniformizada do Corinthians, que sairia quatro horas depois.
A concentração do Anhembi virou uma verdadeira praça de guerra. A pancadaria virou tragédia quando o Carnavalesco da Pavilhão 9 foi morto a tiros. A agremiação tricolor ainda realizou o seu desfile e, com o seu encerramento, saiu rapidamente do sambódromo para se envolver em uma briga com torcedores da Mancha Verde, oriunda da torcida organizada do Palmeiras. Nessa, foram mortos dois integrantes: um são-paulino e um palmeirense. Outras seis pessoas ficaram feridas. Para completar, no dia seguinte, duas pessoas morreram em um tiroteio na quadra da Unidos da Vila, escola de Diadema, na Grande São Paulo.
A sequência de tragédias destruiu por completo o clima de festa de um Carnaval que carregava a frase “Paz e Alegria” como tema. Ainda assim, como diz o ditado, o show tem que continuar e as escolas se preparavam para, mesmo com as dificuldades financeiras e emocionais, apresentar um belo espetáculo no Anhembi. Campeã de 2002, a Gaviões da Fiel escolheu como enredo uma viagem pelas cinco regiões brasileiras, enquanto o Camisa, vice-campeão, exaltaria a figura de João Cândido para falar sobre a Revolta da Chibata.
A Rosas de Ouro passearia pelo Circuito das Frutas no interior de São Paulo, enquanto a Nenê de Vila Matilde faria uma homenagem ao cartunista Ziraldo e a Vai-Vai abordaria lendas e contos relacionados à história do cavalo. Com boas colocações em 2002, Leandro de Itaquera e Águia de Ouro tentariam manter suas ascensões com enredos sobre os direitos do povo brasileiro e a China, respectivamente.
A Mocidade Alegre exaltaria os iorubás e a Acadêmicos do Tucuruvi faria um tributo aos profissionais de imprensa. A X-9 Paulistana escolheu falar sobre o Rio Pinheiros e a Unidos de Vila Maria, sobre a Via Dutra, ao passo que a Unidos do Peruche passearia pela região do Cone Leste Paulista. Campeã do Grupo de Acesso, a Barroca Zona Sul, com enredo assinado por Rosa Magalhães, levaria a trajetória do Rei Pelé para o Anhembi e a Império de Casa Verde, estreando entre as grandes, prometia surpreender com a história do curandeiro Nhô João.
Os desfiles foram abertos pela Barroca Zona Sul, que era cercada de expectativa por conta da homenagem a um dos maiores ídolos da história do esporte nacional e também por ter entre seus carnavalescos uma das melhores do Rio de Janeiro, que vinha de um recente tricampeonato na Cidade Maravilhosa pela Imperatriz Leopoldinense. Não demorou muito para que o público presente notasse que a participação de Rosa no desfile “De Três Corações a Coroação. Quem Sou Eu? Rei Pelé” ficou restrita à sinopse e que o desfile foi executado pelo outro carnavalesco, Mauro de Oliveira.
Embora o desfile não tenha de fato sido lá essas coisas, isso ficou evidente não por conta da parte técnica, mas sim porque não estavam presentes características de Rosa Magalhães. Em todo caso, foi uma apresentação bastante complicada. Desfalcada do homenageado, que não deu as caras no Anhembi, a Verde e Rosa apostou em uma abordagem simples e de boa comunicação com o público, mas tropeçou no visual.
A escola veio bastante pobre, com alegorias de concepção simples e de acabamento pouco feliz. Os componentes começaram animados, mas o rendimento ruim do samba e a recepção ruim do público – algo que seria uma marca da primeira noite de apresentações – foram diminuindo a empolgação dos desfilantes. Para piorar, a escola caiu no frequente erro de encher um desfile sobre jogadores de futebol de bolas, o que prejudicou o visual.
Voltando a cantar no Grupo Especial, Agnaldo Amaral não conseguiu elevar muito o rendimento do samba e a bateria também não teve um desempenho dos mais brilhantes. A decepção dos componentes era visível ao final do desfile. Embora o discurso fosse na linha “a briga é para se manter na elite”, era nítida a sensação de que a escola voltaria para o Grupo de Acesso.
Quem já havia conseguido se manter e agora pensava só em decolar era a Unidos de Vila Maria, segunda escola da noite, que trouxe para a Avenida o enredo “De volta ao passado: uma viagem pela rodovia do futuro”, que falava sobre a Via Dutra. A Vila Maria apresentou uma evolução em relação ao desfile de 2002 e conseguiu uma apresentação de nível razoável, apesar de irregular.
A comissão de frente trazia apenas os “Guardiões da Rodovia do Futuro”, que fizeram uma boa coreografia com representações de sinais do trânsito. Particularmente, achei que o enredo se perdeu. A ideia inicial do carnavalesco Wagner Santos era viajar pela Rodovia Dutra na sequência de quem trafega pela estrada, abordando assim os pontos históricos pertinentes ao tema.
Essa era uma ideia que me soava interessante e que foi muito bem executada. A escola começou fazendo uma crítica ao modo paulistano de se viver, entrou Vale do Paraíba adentro e terminou lá no Rio de Janeiro, comparando a Rodovia ao Carnaval como elo entre as duas principais cidades do país. O problema é que, no meio disso tudo, Wagner abordou alguns pontos que destoaram do resto. O terceiro setor, por exemplo, falava das pessoas que ganham a vida na estrada, como frentistas e caminhoneiros, dos pedágios e etc, o que acabou quebrando a sequência do enredo.
O conjunto visual da escola foi bastante interessante. Pessoalmente, achei um dos trabalhos menos caprichosos de Wagner Santos, mas, por outro lado, os carros apresentaram um grande impacto pela grandiosidade. O abre-alas, por exemplo, veio muito mais luxuoso que o esperado e os três carros seguintes também cumpriram bem o seu papel. No final, o desfile caiu um pouco, enquanto o nível das fantasias se manteve constante – de razoável para bom – do início ao fim. De se lamentar apenas a evolução extremamente confusa, com alas se embolando, feita pela escola. Foi uma apresentação que não trazia nenhum risco de rebaixamento à Vila Maria, mas também não credenciava a escola a uma boa posição.
A terceira escola da noite foi a Rosas de Ouro, que também passeou pelo interior paulista no enredo “No circuito das frutas, tô de bem com a vida”. A escola prometia fazer um desfile colorido e com alguns efeitos que prometiam cativar o público. A Roseira veio com uma Comissão de Frente surpreendente, sem nenhuma coreografia ou relação com o enredo. Os componentes vinham trajados à moda antiga, apenas apresentando a escola.
Grande impacto também conseguiu o abre-alas, que trazia a visão de Raúl sobre o tal circuito das frutas – para quem não sabe, o chamado Circuito das Frutas é uma região formada por cidades líderes na produção de diversas frutas -, com muitas flores e muito verde. Na sequência, o desfile entrou na região de fato com boas fantasias, mas surpreendentemente com uma opção por tonalidades mais escuras, o que acabou sendo um pouco prejudicial.
A escola foi muito prejudicada pelo samba, que não rendeu bem e deixou o público bastante desanimado. O conjunto alegórico foi o ponto alto. Gostei muito da segunda alegoria, que trazia o contraste entre a calmaria do interior e o luxo dos novos condomínios que brotavam por lá. A partir do terceiro setor, o desfile sofreu uma melhora gigantesca, mas a mudança na linha do enredo – do passeio pelo Circuito das Frutas para os sabores e texturas das frutas – foi muito abrupta.
Raúl pulou de Jundiaí, Louveira e cia para a Grécia antiga e o pé de manga no quintal sem mais, nem menos, o que complicou todo o enredo. Ainda assim, o grande carnavalesco teve o habitual brilhantismo para trazer metáforas interessantes como a comparação entre a pele da mulher e a textura do pêssego, ou a mais sensacional, comparando o deus Baco ao presidente Eduardo Basílio. O conjunto alegórico como um todo estava muito bom e algumas alegorias espalhavam cheiros de frutas pela Avenida.
Fechando o desfile, o carnavalesco clamava para que os paulistanos largassem a vida agitada que levavam para aproveitar um pouco o que a natureza tem a oferecer. O carro, muito bonito, foi um dos poucos responsáveis por uma melhora na reação do público. Embora não parecesse ainda um desfile campeão, a Roseira se credenciou a brigar pelas primeiras colocações com mais um desfile de altíssimo nível nos quesitos visuais.
Dando sequência aos desfiles, a Águia de Ouro trouxe para a Avenida o enredo “Quem tem olho grande já entra na China”. A escola da Pompéia prometia trazer uma série de inovações para surpreender o público e isso de fato aconteceu. A bateria trouxe 19 músicos de uma orquestra que, com violinos, deram um toque especial na condução do mediano samba da escola. A grande surpresa também veio na bateria, mas não com os instrumentos.
Ainda no começo do desfile, os ritmistas se dividiram nas extremidades laterais da pista, abrindo caminho para que o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira evoluísse entre eles. A inovação teve ótimo efeito e empolgou pela primeira vez a Passarela naquele Carnaval. A primeira impressão do desfile da Águia também foi muito boa. A comissão de frente veio com uma fantasia bastante luxuosa e o abre-alas era dos mais bem feitos do ano.
A ideia do carnavalesco era retratar o pioneirismo dos chineses na metalurgia. Por isso, 16 águias estilizadas vieram nas laterais da alegoria, que trazia ainda belos leões e dragões. Não era um carro grandioso, mas estava muito bem concebido e acabado. As demais alegorias também apresentaram bom acabamento, embora mais simples, enquanto o conjunto de fantasias decepcionou um pouco. Apostando em materiais mais baratos e em poucas plumas ou penas, a comissão de carnaval – que contava com nomes como Fran Sérgio, da Beija-Flor, e Cid Carvalho – não conseguiu bom efeito com o excesso de simplicidade.
A divisão cromática também não colaborou ao mesclar muitas tonalidades diferentes em alas sequenciais, quebrando um pouco o efeito. O que era um desfile típico de meio de tabela ganhou contornos mais dramáticos à medida que o tempo foi passando e a Águia foi apertando o passo. No final, a azul-e-branco da Pompéia teve que correr bastante para não estourar o tempo. No limite, com 70 minutos, deu tudo certo, mas provavelmente haveria uma punição grande no quesito Evolução.
O público enfim se levantou quando a quinta da escola da noite, a Gaviões da Fiel, pisou firme como de costume na Avenida para cantar o enredo “As Cinco Deusas Encantadas na Corte do Rei Gavião”. A campeã de 2002 tentava o bi com um passeio diferente pelo Brasil, exaltando a regionalidade do povo brasileiro e as culturas de cada uma das cinco regiões que temos por aqui. Primeiramente, é preciso dizer que o enredo foi muito prejudicado por conta da “política” da escola de não usar verde, cor do rival do Corinthians, o Palmeiras.
Não era segredo pra ninguém e a própria direção de carnaval admitia que o enredo “esqueceu” de alguns pontos importantíssimos dentro de sua proposta só para não ser obrigado a usar verde ou a fazer “sapos roxos” como em anos anteriores. Por exemplo, para falar da “deusa do Coração do Brasil”, no primeiro setor, o do Centro-Oeste, a Gaviões desconsiderou completamente a flora do Pantanal, agarrando-se somente aos animais.
Na “deusa dos mistérios da floresta”, que veio representando a Região Norte, a Gaviões, pasmem, não falou sobre a Amazônia. O setor foi praticamente todo ocupado pelo que os diretores chamavam de “terreno seguro”, o Festival de Parintins com os bois azul – Caprichoso – e vermelho – Garantido. À parte esses “detalhes”, a Gaviões mostrou mais uma vez porque era a mais profissional das escolas paulistanas. Além do bom samba ter mais uma vez conquistado a arquibancada, a Fiel Torcida conquistou o público com alegorias grandiosas e luxuosas.
A ideia foi trabalhar com carros que usassem todos os 13 metros de altura permitidos pelo regulamento e assim foi. Sem contar, claro, o verde, os carros e fantasias usaram todas as tonalidades que as regiões do Brasil podiam oferecer e o enredo foi desenvolvido de maneira clara. As alas também apresentavam muita clareza e o desfile, tal como em 2002, foi crescendo à medida que evoluía.
O terceiro setor, “A deusa da terra do Sol”, falava sobre a região Nordeste e ganhou boas fantasias. No quarto, “A deusa do encantamento europeu”, sobre o Sul, a apresentação caiu um pouco para crescer de novo no final. O setor “A deusa da riqueza nacional” falou sobre o Sudeste e trouxe ótimas fantasias com alas coreografadas que homenagearam o Carnaval de São Paulo e do Rio. Com uma evolução impecável e um canto forte, a Fiel pode não ter feito a exibição arrebatadora de 2002, mas, mesmo com os buracos do enredo, era fortíssima candidata a levar o bi.
Para recuperar a hegemonia, a Vai-Vai foi a sexta a iniciar o seu desfile. Havia um certo ceticismo quanto ao sucesso do enredo “Entre Marchas, Galopes e Cavalgadas”, que prometia elencar lendas sobre o cavalo. De fato, o enredo não rendeu bem e, tal como em 2002, a Saracura não conseguiu empolgar o público. A preto-e-branco trouxe boas fantasias e alegorias com relativo luxo, mas mais uma vez ficou devendo no comparativo com a Gaviões.
O ponto alto do desfile, pelo menos na minha visão, foi a comissão de frente, que trouxe o “galope dos cavalos glaciais” e fez uma coreografia interessantíssima. Foi um desfile muito correto, sem sobressaltos na evolução e apenas uma ou outra falha na harmonia, mas que teve um enredo desconexo, alas de difícil entendimento e carros de concepção pouco feliz. A ala mais empolgante foi a dos cadeirantes, que foram puxados por representações de cavalos, como se fossem charretes. O próprio Presidente da escola, Solón Tadeu, reconheceu que a Escola do Povo não conseguiu agradar o público e, por tudo isso, as chances de título eram quase nulas.
Para fechar a primeira noite, a Acadêmicos do Tucuruvi enfrentou um problema que perseguiria praticamente todas as últimas escolas nos anos seguintes. Se o título do enredo era “Não Calem Minha Voz”, podemos dizer que gente para tentar desobedecer essa ordem, não havia. O Sambódromo esvaziou consideravelmente após o desfile da Vai-Vai, como resultado da soma de uma noite de desfiles fracos e de uma escola de pouca expressão entrando na Avenida já depois das seis da manhã.
Ainda assim, o Zaca fez mais uma apresentação bastante simpática no enredo sobre a imprensa. Ao homenagear os jornalistas e demais profissionais da área, o Carnavalesco Marco Aurélio Ruffim optou por mostrar a influência do jornalismo no dia a dia das pessoas. Marco exaltou ao longo de alas e alegorias a coragem, bravura e busca pela verdade dos jornalistas. Mais do que isso, mostrou como esses profissionais podem fazer um país mais justo e mais feliz.
A Tucuruvi não tinha o potencial financeiro das grandes escolas, mas mais uma vez apresentou um bom conjunto de fantasias e alegorias. O samba, bem fraco, não foi muito bem acompanhado pela bateria, e, por isso, os poucos presentes no Sambódromo não demonstravam causar muita inveja em quem tinha ido embora, mas, ainda assim, foi uma boa apresentação. Ao contrário de 2002, não parecia haver muitas chances de desfile das campeãs, mas a permanência no Especial estava mais do que garantida.
Para abrir a segunda noite, a Império de Casa Verde estreou no Grupo Especial com um dos mais interessantes enredos daquele Carnaval. A homenagem ao Preto Velho Nhô João foi feita em um Anhembi ainda longe de estar lotado, mas conseguiu animar os presentes com um desfile surpreendente. O enredo “Nhô João, Preto Velho Milagreiro e Profeta de todos os deuses, lá pelas bandas do Cafundó” já havia chamado a atenção do ator e diretor Paulo Betti, que estava, à época, dirigindo um filme com a mesma temática. O artista estava empolgadíssimo no carro de som, chegando a soltar, no microfone oficial, o grito de guerra do intérprete Roger Linhares: “vamos invadir”.
O intérprete insulano, aliás, acrescentou bastante ao já interessantíssimo samba da Caçula do Samba. No entanto, o samba ficou em segundo plano perto do conjunto alegórico que deixou todo mundo boquiaberto. A estreante apresentou, com sobras, as alegorias mais bonitas depois da Gaviões da Fiel. O abre-alas trazia um lindo tigre com à frente de um carro muito adereçado e impecavelmente acabado.
Impecável também foi o enredo. A história do Preto Velho Milagreiro emocionou a todos ao lembrar a importância dos africanos que aqui chegaram e contou a história de João Camargo, homem sem estudos, mas com dons impressionantes e que é um verdadeiro ícone da cultura afro-brasileira e que fundou uma igreja após enfrentar uma série dificuldades na vida. Essas dificuldades também foram lembradas, como o período em que ele se tornou alcóolatra, mas o desfile ficou marcado mesmo foi pela religiosidade.
Com exceção do terceiro carro, que, ao meu ver, foi errado desde a concepção, a Império chegou sem pedir licença e não só garantiu a permanência na elite, como podia sonhar com uma grande colocação. As fantasias estavam lindas e muito coloridas e a escola também não falhou na evolução. Sem dúvida, uma estreia de tirar o fôlego.
Longe das melhores expectativas, a Unidos do Peruche abriu o segundo desfile da noite. Para falar da Região do Cone Leste Paulista, a Filial do Samba apresentou o enredo “Sou Caipira e Caiçara, da Terra Encantada e do Rio Sagrado, sou Cone Leste Paulista, Com a Bênção da Nossa Senhora Aparecida”. Afetadíssima pelo incêndio ocorrido a duas semanas do desfile, a escola enfrentou muitas dificuldades em seu desfile.
Os integrantes buscavam recuperar na garra o prejuízo causado pelo incidente e, para salvar a Peruche do rebaixamento, contaram com um enredo desenvolvido com muita coerência pelo Carnavalesco Jerônimo Guimarães, que fez um passeio simples e direto pela região que é mais popularmente conhecida como Vale do Paraíba. O enredo começava de maneira pouco usual para enredos CEP sobre o interior de São Paulo. O ponto de partida não era o povoamento pré-colonização ou a relação entre homem branco e índio que “fez nascer a miscigenação”.
O desfile começava pelo “encantamento” provocado pela região, destacando a existência, entre outras coisas, de ar puro para se respirar. A ideia de Jerônimo foi fazer um desfile sem sequência cronológica, mas sim com vários recortes: a imigração, a religiosidade – destacando a Basílica de Aparecida do Norte -, os filhos ilustres, a tecnologia e a cultura. Os componentes cantaram bem o samba, mas a Peruche veio ainda mais pobre que em anos anteriores. As alegorias foram muito danificadas e chegaram visivelmente inacabadas – os trabalhos foram encerrados já com o desfile da Império de Casa Verde em andamento.
A impressão que ficou é que a Peruche já viria, naturalmente, com mais um desfile pouco feliz. O incêndio agravou ainda mais a situação e era difícil saber o resultado de um desfile tão prejudicado. A possibilidade de rebaixamento, ainda mais com a queda de três escolas, era muito grande.
Na sequência, foi a vez do público voltar a se animar com o desfile da Nenê de Vila Matilde, que homenageou o cartunista Ziraldo através do enredo “É melhor ler… O Mundo Colorido de um Maluco Genial”. A escola pretendia voltar a ser campeã com um desfile leve, colorido e de fácil aceitação por parte do público. E, na Avenida, isso se concretizou.
Os mais de quatro mil componentes evoluíram de maneira animada e cantaram forte. Dentre eles, aliás, o próprio homenageado, que veio feliz da vida como destaque no segundo carro. O enredo de Augusto de Oliveira pretendia mesclar a vida do artista com seus inúmeros personagens, conseguindo assim unir um desenvolvimento coerente e à altura do homenageado a um conjunto de fantasias de fácil leitura.
Augusto acertou em cheio na leveza e na cor das fantasias. Foi um desfile colorido, de fantasias com concepção simples, mas de ótimo efeito. Apostando na lógica de que “menos é mais”, ele não trouxe uma escola luxuosa, mas, por outro lado, levou ao Anhembi um dos mais belos desfiles de 2003. O conjunto alegórico esteve um pouco inferior, já que houve simplicidade demais na execução e não só na concepção, mas nada que tirasse a beleza do desfile.
O samba, curto, tinha boas sacadas como o verso “esse ‘AI’ não é pra mim”, em referência aos Atos Institucionais da época da ditadura e foi muito bem acompanhado pela Bateria de Bamba. A Nenê evoluiu bem e, assim, se colocou na briga pelo título. Era difícil saber o quanto a falta de luxo atrapalharia na apuração, a Gaviões continuava como grande favorita, mas uma taça lá na Zona Leste não estava descartada.
A quarta escola da noite foi o Camisa Verde e Branco, que prometia voltar a ser aquele Camisa que chega pisando forte. Depois do vice-campeonato em 2002, o Trevo pretendia quebrar o jejum de, à época, 10 anos sem título através do enredo “A Revolta da Chibata: Luta, Coragem e Bravura! João Cândido um sonho de liberdade”. Infelizmente, a escola acabou decepcionando um pouco.
Afora a linda coreografia da comissão de frente, desenvolvida pela competente Yaskara Manzini, o Camisa fez um desfile bastante regular e que não conseguiu chamar a atenção. O enredo foi muito bem desenvolvido pelos Carnavalescos, que exploraram muito bem o contexto político da Revolta da Chibata e a participação de João Cândido em todo o movimento, mas foram poucos felizes nas alegorias.
O carro abre-alas, por exemplo, veio vertical demais e não foi concebido com grande criatividade. Essa, aliás, seria a marca de todo o desfile: os carros podiam até ter algum luxo, mas eram muito previsíveis. Faltou um pouco mais de ousadia, ir um pouco além do óbvio. As fantasias estavam um pouco melhores, mais luxuosas, mas o destaque mesmo foi a bateria, que teve um desempenho fantástico. A Furiosa, afinal de contas, é sempre a Furiosa. Foi um bom desfile em termos técnicos, com apenas um ou outro erro na evolução, mas que fazia o torcedor verde-e-branco sonhar, no máximo, com uma das cinco vagas no desfile das campeãs.
Quinta escola da noite, a Mocidade Alegre era uma verdadeira incógnita. Ninguém sabia muito o que esperar do enredo “Omi – o Berço da Civilização Iorubá”. Os resultados ruins dos anos anteriores mais alguns disse-me-disse que rolavam, diziam que a Morada do Samba era fortíssima candidata ao rebaixamento. Por outro lado, a escola tinha o melhor samba do ano e, começando a escrever sua história no carnaval paulistano, o intérprete Daniel Collête teve sua primeira grande exibição. Além do vozerão garantir uma brilhante condução do samba, seus cacos e seus gritos de “maraviiiiiiiiilha” ajudaram a incendiar o público.
A bateria de Mestre Sombra também teve um desempenho irrepreensível, melhor até que o do Camisa. Os instrumentos estavam ensaiadíssimos e a Ritmo Puro fez bossas muito convenientes à linda melodia do samba. Nos conjuntos visuais, a escola se garantiu. Uma linda comissão de frente e uma exibição impecável do casal de mestre-sala e porta-bandeira deram o tom de um desfile muito bonito.
A divisão cromática começou bastante escura e foi “clareando” ao longo do desfile. Um abre-alas belíssimo também deu o seu recado. Era claro e evidente que a Mocidade Alegre tinha muito menos recursos que a Gaviões da Fiel, o que não impediu a escola de entrar na briga. Os carros estavam, sim, mais modestos, alguns como o segundo, o da criação do homem, até demais, mas o conjunto de fantasias foi o mais bonito daquele Carnaval. Muitas plumas, muitas penas e ótimo efeito em fantasias coloridas e que, com o bailar dos componentes, criavam ótimo efeito.
A escola evoluiu muito bem, os componentes estavam claramente tirando um peso enorme das costas com aquele “renascimento” e cantaram forte do início ao fim. Apesar da divisão cromática equilibrada, prevaleceram o amarelo e o vermelho, que se misturou a outras representações africanas. O então pouco conhecido Carnavalesco Nelson Ferreira foi muito feliz em sua estreia pela Mocidade Alegre. O desenvolvimento do enredo foi brilhante, sendo de fácil entendimento até para quem não é muito familiar aos iorubás. A relação do povo africana com a criação da Terra, o princípio da vida, a força feminina, o mar, dentre outros assuntos, foi abordada com correção.
A escola se colocou como fortíssima candidata ao título, dividindo o favoritismo com a Gaviões da Fiel, mas, o mais importante, é que depois de mais de duas décadas de dias difíceis, a Mocidade enfim havia renascido.
Já na reta final dos desfiles, a Leandro de Itaquera entrou na Avenida para a defesa do enredo “Qualidade de vida – Direito do Povo”. Não era uma temática inédita, longe disso, já havia sido abordada pela Colorado do Brás em 1992 e, de certa forma, pela Gaviões no mesmo 1992 e pela própria Leandro de Itaquera em 1995. A veia política da vermelho-e-branco, porém, prometia estar aflorada e ser um diferencial. Era um desfile crítico. E foi um bom desfile crítico.
A escola trouxe boas alegorias e, o principal, fez um desfile dentro das suas condições. A escola do Seu Leandro não quis trazer carros maiores do que poderia fazer, o que resultou em um conjunto visual simples, mas muito bonito. O enredo, que também era bastante “feijão-com-arroz”, foi desenvolvido com clareza, a mensagem da importância de uma maior qualidade de vida idem e o samba até conseguiu empolgar um Anhembi ainda em chamas pelo desfile da Mocidade. Diga-se de passagem, a segunda noite foi muito, mas muito melhor que a primeira.
À época, o Brasil ainda vivia uma enorme esperança por conta do governo do presidente Lula, que completava naquele 1º de março dois meses e isso veio retratado no último carro. Tanto que, embora o Presidente da escola seja tucano – o que se refletiu nos desfiles de 2002 e 2006 -, uma escultura do Presidente apareceu na última alegoria, a exemplo do que aconteceu com Beija-Flor e Portela no Rio de Janeiro. Foi um desfile de alegorias, fantasias e demais quesitos visuais simples, de chão razoável e que podia levar a Leandro a uma boa colocação.
Encerrando os trabalhos e mordida pelo título perdido no cronômetro em 2002, a X-9 Paulistana entrou na Avenida para defender o enredo “Pi, Iê, Rê, Jeribatiba ou Pinheiros. A Deusa dos Rios Clama Pela Preservação: Se Ele Muda o Curso, Pode Mudar Sua História”. A mensagem já ficava clara desde o título do enredo: é preciso preservar o Rio Pinheiros.
Apesar do samba bastante cadenciado para uma escola que vinha fechar os desfiles, o samba até levantou um pouco as arquibancadas do Anhembi. O Carnavalesco Lucas Pinto foi mais uma vez muito feliz no desenvolvimento das alegorias e, dessa vez, usou a seu favor o fato de ser a última a desfilar. O conjunto alegórico foi dos melhores, unindo luxo e boa concepção, além de muita clareza.
Particularmente, achei que o enredo foi se repetindo, o que prejudicou bastante o nível das fantasias. De fato, imagino que desenvolver um enredo sobre o Rio Pinheiros não seja das tarefas mais fáceis. Apesar da já citada boa comunicação com o público, a agremiação da Zona Norte ficou muito longe de dar o sacode dado por Gaviões e Mocidade, mas fez uma boa apresentação e, com um grande desempenho da bateria, ainda podia sonhar com o título.
Ao final de mais uma jornada de desfiles, a Gaviões era a maior favorita, mas prometia fazer uma briga ponto a ponto com a Mocidade Alegre. Rosas de Ouro e X-9 Paulistana corriam por fora, enquanto a Império de Casa Verde também podia brigar lá em cima. Quando a apuração começou, isso logo foi descartado porque a Caçula do Samba foi julgada com um excesso de rigor surpreendente, para não usar outros termos, a partir do segundo quesito.
Em um dos raros Carnavais em que nenhuma escola foi punida, a azul-e-branco somou os 20 pontos do quesito enredo ao lado de Rosas de Ouro, Gaviões da Fiel, Vai-Vai, Mocidade Alegre e X-9. No segundo quesito, Fantasia, ela já foi lá para baixo, enquanto a Rosas também desperdiçou pontos. X-9 e Mocidade foram penalizadas em 0,5, enquanto as duas alvinegras se isolaram na ponta com 40 pontos. O empate persistiu no terceiro quesito, alegoria, mas, no quarto, a Vai-Vai despencou. A Saracura levou duas notas 9 e um 8,5, perdendo dois pontos no total, e deixando a Gaviões sozinha na frente com 80 pontos, seguida por Mocidade e X-9 com 79,5.
As três seguiram com essas pontuações até o nono quesito, harmonia, quando a X-9 tirou um 10 e dois 9,5. Assim, a Gaviões entrou no último quesito, Bateria, com 180 pontos, contra 179,5 da Morada e 179 da X-9. Como já era de se esperar, as três gabaritaram o quesito e, assim, a Gaviões levou a taça somando, mais uma vez, os 200 pontos possíveis. O bicampeonato foi conquistado de maneira justa, embora uma vitória da Mocidade, vice-campeã, também o seria. A terceira colocada X-9, assim como Nenê de Vila Matilde e Vai-Vai (que só perdeu mais 0,5 nos outros quesitos), também foi para o desfile das campeãs.
Tudo caminhando muito bem, a ausência de critérios de desempate (que voltou naquele 2003) provocou um empate triplo na sexta posição – com Camisa, Leandro e, inexplicavelmente, Rosas de Ouro -, Vila Maria e Tucuruvi ficaram em nono… Mas aí aconteceu um problema. É até um milagre que nunca tivesse acontecido antes com essa história de não ter critério de desempate, mas enfim, aconteceu.
Terminada a apuração, festa da Gaviões, reunião da Liga lá numa salinha do Parque Anhembi e daqui a pouco vem o anúncio. Ao invés de três, apenas duas escolas seriam rebaixadas. É que Império de Casa Verde, em um dos julgamentos mais absurdos que o Carnaval de São Paulo já viu, e Águia de Ouro, terminaram empatadas em 11º lugar, com 195 pontos, e o Presidente da Liga/SP não achou justo usar algum critério de desempate já que elas haviam empatado nos três últimos quesitos.
Assim, queria ele, e queriam alguns outros Presidentes, cairiam apenas Unidos do Peruche e Barroca Zona Sul. Só que aí a Presidente da Filial do Samba, que saiu da sala chorando e passando mal, chiou. Se era pra rasgar o regulamento, que se rasgasse com estilo e ninguém caísse. Por sugestão do Presidente da Vai-Vai, Solón Tadeu, a discussão ficou para depois, já que estava todo mundo de cabeça quente, mas, no fim das contas, meses depois, Peruche e Barroca conseguiriam se manter no Especial.
Algumas horas depois, outras coisas se concretizaram. A Liga/SP confirmou que o Carnaval de 2004 seria temático, abordando os 450 anos de São Paulo, enquanto, na apuração do Grupo de Acesso, a Acadêmicos do Tatuapé se sagrou campeã anotando todos os 200 pontos possíveis e subiu para o Grupo Especial ao lado da Imperador da Ipiranga.
Curiosidades
– A Globo mexeu mais uma vez em sua equipe de transmissão. Britto Júnior deu lugar ao jornalista Chico Pinheiro, que dividiu a narração com a também jornalista Renata Ceribelli. Maurício Kubrusly ganhou a companhia de Leci Brandão nos comentários. Pela primeira vez, narradores e comentaristas estiveram naquela bolha colocada no alto do Sambódromo, a exemplo do que acontecia desde 2001 no Rio de Janeiro.
– Estreia do cantor René Sobral no Grupo Especial de São Paulo. O intérprete da Vai-Vai iria, em 2004, para a Tom Maior, de onde não sairia mais, pelo menos até os dias de hoje.
– O enredo do Camisa Verde e Branco deveria ter sido levado para a Avenida ainda na década de 1970, mas a escola sofreu censura do Governo Militar.
– Foi o último desfile do intérprete Carlos Júnior pelo Camisa Verde e Branco. A partir de 2004, ele iniciaria uma vitoriosa passagem pelo Império de Casa Verde.
– Rosa Magalhães voltaria a trabalhar no Carnaval de São Paulo em 2014, quando assinou o sensacional desfile da Dragões da Real, que acabou em quinto lugar. No entanto, mais uma vez, ficou a sensação de que aquilo não foi muito Rosa Magalhães, mas isso é assunto para depois.
– O Carnavalesco Wagner Santos não escondia a preocupação com o enredo sobre a Via Dutra. Logo que o tema foi definido, ele pegou um ônibus em direção ao Rio de Janeiro e, atento, foi anotando tudo o que podia servir ao enredo. Chegando ao Rio, voltou, não sem antes comprar alguns materiais mais em conta na Cidade Maravilhosa.
– Fim da última passagem de Raúl Diniz pela Rosas de Ouro. O Carnavalesco venceu os Carnavais de 1990 e 1991 pela Roseira e deixou a escola sempre entre as cinco primeiras em sua segunda passagem, que começou em 1998.
– Despedida também de Jorge Freitas da Gaviões da Fiel. Em quatro Carnavais, foram quatro desfiles marcantes, com dois títulos e um perdido nos detalhes.
– Primeiro e, até aqui, único bicampeonato da Gaviões da Fiel. A escola se juntou à Rosas de Ouro e Vai-Vai no grupo das bicampeãs da Era Sambódromo. O Camisa levou um bicampeonato no Anhembi, mas havia vencido o título de 1990 ainda na Avenida Tiradentes. Posteriormente, as três ganharam a companhia de Império de Casa Verde e Mocidade Alegre.
– Presidente da Gaviões, Dentinho prometeu: “A Gaviões faz um show, um espetáculo e em 2004 nós viremos com ainda mais show e ainda mais espetáculo”. Como veremos semana que vem, as coisas não saíram como planejado. Esse foi, a propósito, o último título da Fiel Torcida entre as grandes, pelo menos até hoje.
– Depois do sucesso dessa mistura no Carnaval da X-9 em 1997, o Carnaval de 2003 marcou a volta das parcerias entre profissionais do Festival de Parintins e as escolas de São Paulo. Além da campeã Gaviões, a Império de Casa Verde também contou com os amazonenses em seu Carnaval.
– Último ano em que nenhuma escola de samba foi rebaixada no Grupo Especial.
– A União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) convidou as campeãs de três cidades do interior – Amparo, Paulínia e Jundiaí – mais as das cidades do ABCD paulista para desfilar no Anhembi no Desfile das Campeãs dos Grupo 1 e 2 e dos Blocos Especiais.
– Independente e Pavilhão 9 foram desclassificadas dos desfiles dos Blocos Especiais. A Independente foi eliminada do Carnaval de São Paulo, voltando apenas em 2010. A escola – que, aliás, estreia esse ano no Grupo de Acesso -, tinha, como enredo naquele 2003, “Paz Milenar, Um Sonho Universal”. Triste ironia…- A Prefeita Marta Suplicy compareceu ao Anhembi e se mostrou uma grande fã da Gaviões da Fiel. A Prefeita esperou o desfile da Torcida Que Samba e cantou todo o samba da escola. Marta estava acompanhada no Camarote da Prefeitura por uma verdadeira comitiva do PT: o Senador Aloizio Mercadante, o candidato derrotado nas Eleições para o Governo em 2002, José Genoíno, o presidente do partido, José Dirceu, e os recém-empossados ministros Agnelo Queiroz, dos Esportes, e Jacques Wagner, do Trabalho, dentre outros, estiveram presentes.
– Último Carnaval do saudoso fundador e eterno presidente da Rosas de Ouro Eduardo Basílio. Já doente, mas ainda Presidente, ele veio no carro abre-alas. Meses depois, em 25 de outubro, o samba paulistano ficaria órfão de sua voz mansa e de sua calma que tanto lhe marcaram. Com ele, a Roseira venceu seis de seus sete campeonatos.
– Também foi o último Carnaval da presidente da Mocidade Alegre Eliane Bichara, que viria a perder a batalha contra o câncer naquele mesmo ano de 2003. Ela seria substituída pela irmã, Solange Bichara, que transformaria a Morada na maior potência do Carnaval Paulistano em menos de uma década.
Vídeos
Rosas de Ouro e o circuito das frutas
https://www.youtube.com/watch?v=TmDZYuDrDNQ
O samba da bicampeã Gaviões da Fiel
https://www.youtube.com/watch?v=0zJKVNPiJDk
A grande estreia da Império de Casa Verde
https://www.youtube.com/watch?v=oWz5YjfWrhg
Samba da Nenê sobre Ziraldo
https://www.youtube.com/watch?v=RQG0VuyFFHE
O grande desfile da Mocidade Alegre
https://www.youtube.com/watch?v=X3ZLlUUdty8
O sambaço da escola
https://www.youtube.com/watch?v=yqpSP2CpM_U
O bom samba da X-9
https://www.youtube.com/watch?v=TXKUBzGcDvU
Olha, Leonardo, acho que ANTES da Apuração já estava decidido que apenas duas cairiam, mudaram depois do desfiles, não sei pq, mas acho que a Globo começa sua transmissão anunciando a mudança.. Meses depois ficou decidido que ninguém cairia…
Apesar de achar o desfile da Gaviões mto bom, minha campeã é a Mocidade Alegre! Espetáculo de desfile e samba! A perde de pts em fantasias é, em minha opinião, ridícula: Alegaram que dois componentes de um ala estava com sapatilhas de cores diferentes dos demais… Em relação aos demais comentários seus, concordo, com algumas exceções, como por exemplo achei que o samba da Rosas rendeu mto bem, principalmente na parte “Com gosto de quê? De um beijo doce de prazer”, quando a Bateria aprontava! hehe
E achei o desfile da Leandro um desastre, o carnavalesco Anderson Paulino começava a mostrar ali suas “taradices”, pq akela Alegoria com um casal fazendo sexo era totalmente desnecessário… No mais, achei o início da Vila Maria espetacular, se mantivesse o pique ia brigar lá em cima, Império chegou chegando msm, lembro do Mauricio Kubrusly profetizando “pelo o que vi dessa Escola no barracão posso garantir que em breve essa escola será grande”, e de fato, não demorou mto! E X-9 realizaou um bom desfile técnico, sem empolgar, mas competente ao som de um lindo samba!
O enredo da Tucuruvi nasceu graças ao assassinato do repórter global Tim Lopes, em junho de 2002, numa favela do RJ, por isso o samba dizia “a verdade tim tim por tim tim”, samba, aliás, fraco, mas bem animado!
Amigos, não sei porque, mas os comentários de vocês não estão mais indi para meu email, então não sabia. Agora vou respondê-los: a reportagem da Folha na quarta-feira de cinzas diz que o Robson decidiu pelo não rebaixamento na hora. Tanto que no vídeo da apuração, que saiu do YouTube, o Chico e o Mauricio não sabem dizer quem entre Águia e Império cairia.
E tenho uma grande amizade com um dos compositores do samba da Mocidade Alegre, e ele me disse que a escola era sim, a bola da vez, usou este termo mesmo. Isso o deixou mto triste, pensando, “poxa, agora que eu finalmente ganho a disputa na escola, ela vai cair logo com meu samba?”, isso o preocupava, mas a resposta veio na avenida e a escola comemorou mto o vice, afinal, era não só a volta por cima, mas era pra calar os críticos, e ele propôs â Eliane que no desfile das campeãs, o deixassem desfilar fantasiados de bolas de sinuca, numa alusão ao termo “bola da vez” haha
Água, Mocidade dá um banho de fé, É paixão, é cultura, é axé…QUE SAMBA!
Acho justo o campeonato da Gaviões, a Mocidade até fez desfile de título, mas a Gaviões pra mim coroou mais um belo trabalho do Jorge Freitas.
Sobre a confusão do rebaixamento, óbvio que é de se lamentar, mas trouxe uma coisa legal ao Grupo Especial que eram as 16 escolas pena ter durado apenas 3 carnavais.
O Império foi grande “assaltado” da apuração, fez um baita estreia, gostei do Camisa e do Rosas também foram desfiles bem agradáveis
Sobre o pré-carnaval da Mocidade, Mestre Sombra no mundo do samba do carnaval de 2009 disse que tinha vergonha de andar nos supermercados do bairro do Limão na época do desfile de 2003, pois sempre diziam que a escola iria cair, Solange também disse que “Seo Juárez” temia uma queda se escola apostasse num enredo como o do ano anterior, felizmente a Elaine escolheu o tema certo e a escola pode enfim voltar a ser a grande que é, no próximo ano veremos que até a sorte ajudou a “Morada do Samba” a soltar o grito da garganta após longos 24 anos.
No mais é isso, mais uma vez, parabéns pela coluna.
Foi um um ótimo ano de sambas… o clássico da Mocidade, o belo samba da Gaviões, da X9 Paulistana, Império, bons como Camisa, Vai-Vai, Nenê… bem bacana o cd.
Foi inexplicavelmente o último samba ganho pelo Grego na Gaviões, e se não me engano o último tb do Grande Ideval.
Outro que infelizmente só pude responder agora: o Ideval ganhou um samba no Camisa para 2011, o ano da Avenida Paulista. Grande samba, aliás.
Boa noite!
Prezado Leonardo Dahi:
A partir desta postagem, as emoções se afloram, pois em 2003, finalmente após anos de planejamento (Desde 1999), consegui pegar a ponte aérea para assistir ao vivo aos desfiles no Anhembi. Foi apenas no sábado, mas valeu muito, inesquecível!
Antes de entrar nestes detalhes, vamos aos comentários sobre o ano em si.
– A parceria com Parintins não foi retomada em 2003, e sim em 2001, ainda que de forma um tanto discreta. Notam-se no desfile daquele ano muitas alegorias com alguns movimentos, fruto desta parceria.
– A abertura da Vila Maria foi algo de muito impacto. Uma pena o nível não ter se mantido.
– René Sobral já mostrou a que veio. Parabéns!
– De todo o requinte que Império de Casa Verde demonstrou na sua estréia, o carro da igreja era bem abaixo de qualquer outra alegoria que desfilou nos dois dias. No mais, o Tigre rugiu alto!
– A Comissão de Frente do Camisa era qualquer coisa de Sensacional!
– De todo o impacto da Mocidade, um não sai da minha memória: A alegoria representando Oxalá! Na época, a escultura era mais do que gigantesca e com muitos movimentos (Cabeça, mãos e tronco). Um desbunde! Este “padrão” alegórico foi sendo lapidado pelas escolas paulistanas, que encontraram nele uma solução para preencher a pista diante das câmeras (Já que ao vivo, como sabemos e pude comproar neste ano, o preenchimento acontece sem taaaanto esforço…).
– O desfile da Leandro foi muito fraco, conforme já comentaram acima.
– A X-9 que eu lembro tinha boas fantasias e alegorias de gosto duvidoso. Costumo dizer que ninguém deve respeitar um carro alegórico em que é possível ver as rodas, e no caso da X-9, isso aconteceu em todos eles! Além disso, a base do chassi, quadrada, era evidente na montagem deles. Enfim…valeu pelo samba que levantou sim a galera na arquibancada!
…e lá estava eu, de carona, chegando ao Anhembi de carro. A visão dos refletores em seus postes curvados era real, e não apenas mais um close de câmera. Fiquei (E ainda fico) na arquibancada monumental.
Depois de uma noite inteira de desfiles, voltei ao Rio para um descanso no domingo (Iria à Sapucaí na Segunda-feira) feliz da vida, cheio de histórias, e a certeza de retornar no ano seguinte.
Que venha 2004!
Como não posso formatar o texto, seguem alguns adendos sobre o desfile da Mocidade Alegre!
P.S.1: O tal carro de Oxalá que mencionei como impactante é a “Criação do homem”, dito no texto como simples. Não era tão simples assim…e ainda era “vivo”, no melhor estilo Paulo Barros, que faria história em 2003 na Tuiuti, com um enredo sobre Portinari.
P.S.2: Na frente da bateria, antes de esta entrar no recuo, nascia uma estrela: Nani Moreira. Linda, no auge de sua forma física, foi um colírio arrebatador em parceria com os ritmistas de Mestre Sombra.
Lembro até hoje de uma foto da do Estadão da presidente da Peruche chorando pelo não rebaixamento das escolas.
2003 foi o primeiro ano realmente que acompanhei os desfiles de São Paulo com um porém. Apenas a sexta-feira, pois a RBSTV de Santa Catarina no sábado apresentou os desfiles de Florianópolis. Rio desde 1998. E também foi o primeiro ano que gravei VHS.
Eu achei espetacular aquele início da Vila Maria. A escola poderia falar do óbvio como pedágios, postos de gasolina… Porque carnavalizar a Dutra não é fácil.
2003 também seria o ultimo ano em que as escolas traziam 6 alegorias. A partir de 2004 seriam 5.
Rapaz…
Eu não consigo conter a emoção ao ler os comentários sobre esse ano.
Muito obrigado a todos pelos comentários tão bondosos quanto ao samba da Mocidade Alegre.
Talvez o meu melhor momento como compositor.
De coração, muito obrigado mesmo!
Eu é que agradeço pela leitura. Aquele samba foi sem dúvida o momento da virada para a Mocidade.
desfile bonito da gaviões, mas a escola não merece vencer mais nada, até então parar de todo samba enredo só fala sobre o time, o negócio é carnaval e não futebol, enquanto isso vai ser odiada por eu e muitas pessoas. além da torcida mal educada dessa escola que só dá problemas, quebra tudo, lixo total.
as escolas mais novas Mancha e Dragões dão um show de moral, as gaivotas tinham que seguir o exemplo e iriam ganhar mais admiradores, não só os torcedores do time e também por sempre o enredo ser o time, os jurados, já até descontam da escola, nem os jurados gosta.