Cruz e Sousa, nascido em Santa Catarina, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1890 e começou a trabalhar na Folha Popular, jornal em que foram reunidos, pela primeira vez, os poetas representantes do movimento simbolista. Esse grupo de poetas, liderado por Cruz e Sousa, era contrário ao Realismo, ao Naturalismo e ao Parnasianismo, correntes já anteriormente consagradas na literatura brasileira.

Em 1893, o maior representante do Simbolismo brasileiro publica Missal, livro composto por poemas em prosa, e Broquéis, que abarca poemas em verso. Foi a partir de tais publicações, sobretudo da segunda, que ele marcou uma nova tendência literária, caracterizada pelo espiritualismo, pela subjetividade, pela musicalidade e pelo predomínio da emoção – aspectos opostos ao Parnasianismo, que cultuava o cientificismo, a exterioridade objetiva, o rebuscamento e a racionalidade.

Como aponta Raimundo Magalhães Jr. no livro Poesia e vida de Cruz e Sousa, o poeta, quando publicou Broquéis e alcançou certa visibilidade, foi bastante criticado na imprensa: Artur Azevedo, José Veríssimo, Rodrigo Otávio e Araripe Jr., por exemplo, escreveram negativamente sobre Cruz e Sousa. No embate entre os simbolistas e os adeptos das outras correntes citadas, porém, havia certa contenção por parte dos primeiros, que pertenciam a uma atmosfera mística e sutil. Enquanto estes demonstravam total antipatia à objetividade e à exatidão, os parnasianos consideravam-nos como “nefelibatas”, ou seja, como escritores que viviam nas nuvens.

Para o poeta parnasiano, de acordo com Alfredo Bosi em História concisa da literatura brasileira, “tudo pode ser dito com clareza”, porque “não há transcendência em relação às palavras”. Diferentemente disso, o simbolista Cruz e Sousa imprime à palavra a tensão entre matéria e espírito, explorando exatamente a transcendência inexistente no Parnasianismo, como se pode verificar no poema “Cárcere das almas”:

Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

cruz e souza2Embora não seja o único representante do Simbolismo, é possível dizer que Cruz e Sousa seja o principal responsável pelo seu encerramento. Quando o poeta falece, em 1898, o movimento deixa de ter a organização e a força que antes possuía, mesmo permanecendo por algum tempo graças a outros escritores. A influência simbolista, contudo, acaba manifestando-se no Modernismo, que abrange um grupo, ainda que mergulhado nas novidades modernistas, vinculado a certo espiritualismo, a exemplo de Ribeiro Couto, Cecília Meireles e Tasso da Silveira.

Cabe dizer, por fim, que Cruz e Sousa, sendo um poeta negro, sofreu bastante com o racismo e, atualmente, sofre com o possível silenciamento de seus versos e de sua história, já que é muitas vezes esquecido. Nesse sentido, o estudo do movimento literário no qual ele se insere é uma maneira de valorizá-lo e de reconhecer sua grandeza não só na literatura, mas, também, na cultura nacional.