Depois do adiamento por conta da morte do candidato à Presidência, Eduardo Campos, a TV Bandeirantes realizou no último sábado (23), o primeiro debate entre os candidatos a Governador do Estado de São Paulo. Dos nove candidatos, seis estiveram presentes: Paulo Skaf, do PMDB, Alexandre Padilha, do PT, Gilberto Natalini, do PV, Walter Ciglioni, do PRTB, Laércio Benko, do PHS, e Gilberto Maringoni, do PSOL. Sem representantes na Assembleia Legislativa, PCO e PCB de Raimundo Sena e Wagner Farias não foram chamados. Já o atual Governador Geraldo Alckmin, do PSDB, que estava internado no Incor por conta de uma infecção intestinal, não pôde estar presente.

Sem Geraldo Alckmin, a expectativa naturalmente recaiu sobre os candidatos Paulo Skaf e Alexandre Padilha. Já no primeiro bloco, quando os candidatos respondem a uma mesma pergunta a todos, viu-se por que. A pergunta – “qual será a sua primeira medida como Governador?” – foi bem respondida pelo candidato do PT, que se saiu bem ao dizer que vai fazer tudo aquilo que Alckmin prometeu no mesmo debate da Band em 2010, e não cumpriu.

Já Skaf, começou ainda melhor ao apresentar dados alarmantes sobre segurança pública de acordo com o tempo do debate. O candidato do PMDB lembrou que, durante aquelas duas horas e meia em que eles estariam conversando, quatro mulheres seriam estupradas no Estado, além de dezenas de assassinatos e centenas de assaltos espalhados por São Paulo.

POLICIAL MILITAR É BALEADO NA CABEÇAOs outros, cada um à sua maneira, já deixaram claro que não devem subir muito nas pesquisas. Laércio Benko falou em acabar com a progressão continuada que, em sua visão, gera um “apartheid social”; Gilberto Natalini falou em fazer o Estado crescer, Walter Ciglioni se apresentou como um homem popular e, Maringoni, bem, foi o PSOL de sempre, e também criticou pesadamente a gestão Alckmin. Aliás, o Alckmin não foi, mas apanhou mais do que se tivesse ido.

No segundo bloco, quando começaram a acontecer as perguntas entre os candidatos, Gilberto Natalini começou partindo para cima de Padilha, falando sobre corrupção. O petista, apesar da fala sempre mambembe, foi razoavelmente bem. Disse ser ficha limpa, assim como o seu vice e o seu candidato a Senador, e lembrou o grande escândalo de corrupção envolvendo o governo tucano em São Paulo e o Metrô. Natalini ainda tentou dizer que ele fugiu da pergunta – “como combater a corrupção” -, mas Padilha novamente se saiu bem ao dizer que o caminho é “punir quem tem que ser punido” e lançando a ideia de um plebiscito por uma reforma política.

Os pequenos continuaram marretando os grandões quando Laércio Benko jogou na cara de Skaf o samba do crioulo doido que é o PMDB e seus apoios diferentes em cada lugar. A pergunta era simples: “em quem o senhor vai votar para presidente da República? Se for a Dilma, vai trazer o jeito dela de governar para São Paulo?”. Ele até ia se saindo bem repetindo pela milésima vez o discurso de que o PT não sobe em seu palanque – pois tem candidato próprio – e ele não sobe no do PT. Só que jogou tudo pelo ralo ao dizer que, já que o Presidente do seu partido é candidato a vice na chapa de Dilma, vai “votar em Michel Temer”.

Aí foi um prato cheio para Benko, que ironizou: “o senhor ainda está no tempo de João Goulart em que se vota para vice também. Em quem o senhor vai votar para presidente? Com quem quer trabalhar no plano federal? Ou o senhor acha que São Paulo é uma ilha que deve ficar independente do Brasil?”. Ele mais uma vez enrolou e disse que vai votar em Michel Temer.

A partir daí, os nanicos começaram a conversar entre si. Maringoni perguntou para Ciglioni sobre financiamento de campanha por parte de empresas, ele não respondeu nada, o pessolista perguntou de novo e ele não respondeu de novo. Paulo Skaf, tendo de fazer pergunta para um nanico, novamente criticou Alckmin ao falar sobre segurança pública. Natalini deu uma boa resposta ao lembrar que os presídios são só parte do problema. Aí ele se enrolou todo ao lamentar: “eu não consigo entender como um bandido consegue controlar de dentro da cadeia, eu não consigo, eu não consigo!”. A partir da réplica, virou propaganda eleitoral gratuita. Cada um apresentou suas propostas e Skaf ainda aproveitou para marretar ainda mais o Alckmin.

alckminAlexandre Padilha, ao perguntar para Laércio Benko, fez quase um resumão de tudo o que vai mal na gestão Alckmin com uma pergunta muito cara-de-pau: “ele é responsável ou vítima dos problemas?”. Benko entrou no jogo, criticou Geraldo, mas lembrou que o caminho é o fim da polarização PT-PSDB. Padilha ressaltou o orgulho que tem de ser do PT e apoiar Dilma e, tal como Benko, afirmou que vai acabar com a progressão continuada. Benko tornou a dizer que é preciso encontrar um novo caminho – e, tal como em todo o debate, fez campanha para Marina – e se aproveitou da diferença de popularidade entre Lula e Dilma para dizer que o legado deixado pelo ex-presidente não foi seguido por sua antecessora.

Para encerrar, Ciglioni perguntou para Maringoni sobre educação e o candidato do PSOL apresentou suas propostas e exibiu bem os problemas do setor no Estado. Há de se admitir que, nesse quesito, o PSOL costuma ir bem. Maringoni, aliás, estendeu a discussão para a USP, que, prestes a completar 80 anos, atravessa uma série de problemas. Ciglioni falou em renegociar a dívida com o Governo Federal para poder pagar melhor os professores e o candidato do PSOL, mantendo o clima de amizade entre os dois, concordou.

No terceiro bloco, os jornalistas do Grupo Bandeirantes perguntaram aos candidatos. Fábio Pannuzzio perguntou a Padilha sobre as falhas do Programa Mais Médicos da Presidente Dilma Rousseff, lembrando que parte dos salários iriam para o Governo de Cuba, e pediu comentários de Skaf. Alexandre “se assoprou” depois da mordida ao apresentar seu histórico de luta pela saúde em locais sem qualquer condição, para lembrar da importância da presença de um profissional. Ele não respondeu se achava certo que parte do “faz-me-rir” fosse parar na terra de Fidel, mas disse que vai melhorar a saúde em São Paulo. Skaf também lembrou os problemas que o Estado enfrenta no setor, destacando não apenas a falta de médicos, como a de recursos. Ele prometeu construir os chamados AMEs em locais que ainda não contam com o projeto. Padilha, mais uma vez, lembrou de sua experiência e não falou do que vai fazer, mas sim do que fez.

A segunda pergunta foi dirigida para Laércio Benko: o candidato do PHS coloca a culpa da seca em São Paulo na estiagem? Não. Benko ressaltou a incompetência do Governo dizendo que, em Israel, onde a seca é maior, não falta. Ele criticou pesadamente a Sabesp e os investimentos no setor. Laércio lembrou ainda que, com o dinheiro investido pelo Governo na Bolsa de Nova Iorque, “era possível construir dois Sistemas Cantareira”. Ciglioni comentou fazendo críticas ao desrespeito das Leis de Mananciais e Benko falou diretamente às cidades que já sofrem com o racionamento “enquanto muitos lucram bilhões com a sua economia”.

A terceira pergunta era simples: quantos kms de Metrô o candidato Gilberto Natalini pretende fazer e em quais regiões? Ele respondeu estendendo as obras para trens e VLTs. Ele prometeu priorizar a ampliação da rede de transportes sobre trilhos para evitar que as pessoas sejam “escravas do automóvel”. “Serão feios os quilômetros que forem possíveis”, resumiu, salientando ainda a importância das bicicletas e da melhora das ciclovias. Benko disse que a expansão do metrô é compatível com a diminuição dos gastos através da eliminação de secretarias e o candidato do PV prometeu fazer o ferrotrilho.

Ciglioni foi perguntado sobre o grande investimento do seu PRTB nas campanhas de Levy Fidelix e sobre as consequências da pouca representatividade do partido na Câmara. O jornalista Fábio Pannuzzio se equivocou ao dizer que a legenda não tinha deputados federais e foi corrigido por Ciglioni, que ainda lembrou, “só estou aqui por isso”. Maringoni comentou lembrando que é preciso dar a todos os partidos o mesmo tempo na TV e, mais uma vez, recebeu a aprovação de Ciglioni.
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Skaf foi perguntado sobre o aumento da criminalidade e lembrou que apenas um terço dos roubos são registrados em Boletim de Ocorrência. Ele falou em modernizar a Polícia e em acabar com a burocrocia. Se a pergunta foi uma bola levantada para Skaf cortar, Padilha também ganhou este presente, já que teve que comentar, e criticou a Polícia local, lembrando que só 5% dos crimes são resolvidos. Ele usou do expediente mais conhecido possível para chamar atenção: dizer que foi buscar soluções em Nova Iorque e Chicago. Skaf, gaguejando, falou em câmeras em viaturas e nos uniformes dos policiais.

O último jornalista fez a pergunta que o PSOL de Maringoni pediu a Deus. O que ele acha dos constantes protestos que acontecem em São Paulo nas mais diversas classes? “O problema não são os protestos, que são legítimos, é o Governo”. E tome exposição de tudo quanto é problema que culmina em manifestação. Lembrando – e criticando – a máxima de que “problema social é caso de polícia”, ele defendeu a Greve do Metrô e lembrou que protestar não é crime. Natalini se disse feliz por ver seu povo nas ruas no ano passado e Maringoni afirmou que a baderna foi provocada por agentes infiltrados. Ele ainda citou Plínio de Arruda Sampaio, falecido recentemente, e disse que os verdadeiros vândalos são os PMs. Fim de um bloco marcado por perguntas que os candidatos queriam responder.

Quando os candidatos puderam enfim perguntar entre si, Alexandre Padilha perdeu uma rara chance de tirar o debate do marasmo em que estava afundado. Ao invés de perguntar para Paulo Skaf, manteve o clima de amizade entre todos ao perguntar para Walter Ciglioni sobre a questão da educação. Ciglioni falou em valorizar os profissionais. Padilha lembrou que esse é o caminho para a melhora no setor e, mais uma vez, os dois envolvidos trocaram figurinhas.

A desesperadora situação de um debate onde ninguém debate se manteve quando Benko perguntou a Padilha sobre determinada lei para melhorar a Segurança que está há oito meses na Assembleia Legislativa. O petista lamentou a demora e logo fugiu da pergunta de resposta óbvia e voltou a falar de propostas. Destaco duas frases muito boas do candidato: “o que deu certo na Copa do Mundo, quero deixar permanente” e, a mais forte: “a diferença é que o PSDB estuda, estuda, estuda e não aplica; nós fazemos”. Benko, o único que ainda fez uma crítica ou outra, voltou a martelar na tese de que petistas e tucanos são iguais e Padilha repetiu a frase da Copa do Mundo.

Skaf mais uma vez usou sua pergunta para descer a porrada em Alckmin, agora falando em transporte público. Maringoni apresentou os péssimos números do Estado, fruto do baixíssimo investimento e disse que os Governos, em todas as esferas, preferem investir em outros setores como aeroportos. Skaf disse que é preciso tirar os projetos do papel. Diga-se de passagem, este clima de amizade entre candidatos unidos em bater no atual Governo é chato, mas faz todo o sentido. A única surpresa é a postura de Padilha de fugir de Skaf. Para quem precisa, antes de mais nada, assumir o segundo lugar – e está longe de atingir tal feito -, é um pouco surpreendente.

Na sequência, Ciglioni retomou o assunto gestão de recursos naturais e também trocou ideias com Skaf sobre o assunto. Natalini, quando fez sua pergunta para Laércio Benko, manteve o tema e destacou a principal bandeira de seu partido, o desenvolvimento sustentável, perguntando ao candidato do PHS sobre como ele iria resolver a crise ambiental. Benko respondeu que o PHS é um partido que valoriza o “ser” em detrimento do “ter”. Ele ainda usou uma frase de efeito que me parece carente de sentido: “enquanto indústrias automobilísticas estão fechando, o Google fatura bilhões”.

Maringoni encerrou o bloco perguntando para Natalini sobre a postura de PT e PSDB quanto a segurança. Segundo ele, ambos buscaram na “extremamente violenta” polícia de Nova Iorque. Natalini e Maringoni criticaram a Polícia por caminhos diferentes. O candidato do PSOL voltou a criticar o apreço dos políticos pelos americanos “que invadiram o Iraque”. Ele ainda provocou um dos poucos momentos divertidos do debate ao dizer que “ficou esperando aparecer o Batman” na propaganda eleitoral. Aí o Natalini desvirtuou totalmente do assunto e voltou a falar em financiamento de campanha.

Na abertura do quinto bloco, novamente capitaneado por perguntas de jornalistas, Skaf foi perguntado sobre “escritórios de crimes” em pontos estratégicos da Capital e lembrou que, hoje, o problema é generalizado. E tome propostas para combater o crime. Padilha, escolhido para comentar a resposta, criticou a ideia de que o problema da criminalidade estava em áreas nobres. Para ele, tal como para Skaf, é um problema geral. Skaf voltou a lembrar que este é um assunto de responsabilidade do Governador.

Maringoni foi perguntado sobre o que fazer com os black blocks e tratou de separar esse tipo de manifestante dos manifestantes “comuns”, dos protestos “legítimos” e “fundamentais para a composição da democracia”. Ele voltou a dizer que a saída para resolver problemas sociais e até de segurança é o diálogo. Natalini destacou os motivos que levaram os povos às ruas e que só interessa o quebra-quebra a quem não quer ver esse povo se manifestando.

A terceira pergunta foi destinada a Laércio Benko. O tema, repasse de verbas para a Santa Casa, foi muito bem explorado pelo candidato do PHS, que lembrou o abismo entre o que elas ganham e o que elas gastam. Maringoni afirmou que “o problema é um pouco mais complexo” e falou ainda em corrupção dentro das próprias Santas Casas, além de elogiar o que é o SUS em teoria, afirmando que o problema é na prática. Benko destacou que a maioria das Santas Casas sofre é com o problema da verba e ainda apresentou propostas como investir na prática de esportes para evitar doenças.

f_230213O assunto água voltou a tona e Gilberto Natalini respondeu a quarta pergunta com uma frase alarmante: “se não chover bastante em dezembro e janeiro, podemos ficar sem água para beber”. Ele apontou todas as falhas da gestão tucana e apontou uma série de medidas que deveriam ter sido tomadas. Ciglioni replicou falando que, para conseguir a verba necessária para tudo isso, é essencial estabelecer uma parceria com instituições privadas. Natalini novamente levantou a bandeira do seu partido dizendo que, além da água, São Paulo tem problemas com o ar e a terra.

A quinta pergunta teve como tema a redução da maioridade penal. Ainda que o próprio jornalista admitisse que essa não era uma questão que cabe ao Governador, foi uma das poucas perguntas que gerou um debate interessante. Alexandre Padilha foi extremamente corajoso e deu a melhor resposta de todo o debate. Se colocou contra a redução da maioridade penal, destacou que 98% dos crimes são cometidos por maiores e que “onde o PSDB fez presídio”, ele fará escolas e instalará projetos visando a recuperação de criminosos. Dado o perfil do eleitor paulista, isso é quase suicídio, mas foi uma grande resposta. Skaf, por sua vez, jogou para a galera e se colocou a favor da redução. Foi o único momento em que houve um conflito de ideias entre os candidatos. A resposta de Padilha foi muito melhor, mas Skaf saiu vitorioso nesse embate. A última pergunta foi novamente sobre educação e Laércio Benko mais uma vez destacou as propostas ruins da gestão Alckmin.

Nas considerações finais, Ciglioni agradeceu, convocou o público a votar nos candidatos do seu partido e Maringoni destacou que a campanha do PSOL é feita com imensa dificuldade. Padilha mais uma vez aproveitou para falar de seus projetos para melhorar tudo o que não funcionou com o PSDB. Benko mais uma vez pediu o fim da polarização PT-PSDB e convidou o eleitor a votar nos 440 candidatos de sua chapa a deputado. Gilberto Natalini também vendeu seu peixe e pediu votos para o candidato de seu partido ao Senado, o índio Kaká Werá. Já Paulo Skaf, que não havia tido a oportunidade de escrever na testa que era o Presidente da FIESP, conseguiu nas considerações finais.

A ausência de Alckmin deixou o debate muito chato, pois praticamente não houve um conflito de ideias. Todos se uniram como bons amigos para bater no atual Governador que, por isso, foi o grande prejudicado com o Debate. Ausente, apanhou sem ter chance de defesa e, pior, sem ter como bater em algum outro candidato. Quem assistiu o debate, certamente teve a impressão de que votar nos tucanos não pode ser uma grande ideia. Os participantes não tiveram, de maneira geral, um grande desempenho, até por conta do debate não ter sido um debate.

Entre Padilha e Skaf, o petista levou vantagem. Apesar da dicção ruim, ele estava bem mais calmo que o candidato do PMDB e expôs melhor suas propostas. Skaf gaguejou, parecia nervoso e teve uma atuação bastante apagada. Dentre os pequenos, Laércio Benko surpreendeu e foi o melhor dos seis. Apesar de uma besteira ou outra, salvou o debate de um marasmo ainda maior. Natalini também não foi de todo ruim, enquanto Maringoni e, principalmente, Ciglioni, tiveram um desempenho decepcionante. Fica agora a expectativa para saber como será um debate com o atual Governador em uma das bancadas.