O vocabulário LGBT virou sensação na mídia e se espalhou rapidamente pela tv e internet. A popularização se deu com a ascensão de personagens, como o Clô, interpretado por Marcelo Serrado, Serginho e Dicésar, ambos ex-participantes do Big Brother Brasil, além de quadros humorísticos e séries de TV que contribuíram para que termos como aloka, adogo, mona, bofe, etc. se tornassem comuns aos ouvidos e bocas de todos, sejam homossexuais ou héteros.

Originados de uma linguagem popular chamada pajubá ou bajubá, esses termos se baseiam em várias línguas africanas como: umbundo, kimbundo, kikongo, nagô, egbá, ewe, fon e yoruba, usada inicialmente em terreiros de candomblé e posteriormente por comunidades LGBT. Tanto no candomblé como na comunidade LGBT, a palavra pajubá ou bajubá tem o significado de fofoca, novidade, notícia, referente a outras casas ou fato ocorrido (tanto de coisas boas, como de coisas ruins) nesses círculos.

Conhecida também como “falar na língua do santo” ou “enrolar a língua”, era inicialmente muito usada quando se queria dizer alguma coisa de forma que outras pessoas não entendessem.

As palavras começaram a ser utilizadas para estigmatizar uma interpretação ou deixar o linguajar mais alegre. Hoje em dia esses termos são usados como vocabulário no dia a dia de muitas pessoas, principalmente em baladas, escolas de samba e em conversas com amigos, independente de orientação sexual.

Se por um lado a “globalização” do vocabulário apresenta um pouco da cultura LGBT, por outro lado há uma banalização de alguns termos, que acabam perdendo o sentido por estarem fora de contexto.

Curiosamente, há casos dentro do próprio meio em que tais termos são pouco utilizados, como no caso da professora e fotógrafa, Cintia Lima, 27 anos; segundo ela esse linguajar também é bastante comum no universo homossexual feminino, mas não o utiliza com frequência. “Uso poucas gírias. Às vezes, ‘fancha’. Que eu me lembre”. Quando questionada se seus amigos héteros estranham quando a ouvem dizer um termo como o citado, ela foi bem taxativa: “Meus amigos héteros reagem normalmente, até porque se sinto algum tipo de preconceito em alguém, este nem se torna meu amigo”, comenta.

Já a designer Marcela Antunes, 29 anos, frisa que mesmo sendo heterossexual, conhece bastante as gírias que seus amigos gays costumam falar, acha bem engraçado e curioso. “Acho que o termo mais engraçado que ouvi foi o ‘fazer a chuca’, um amigo me explicou o que significava e, certo dia, estava lendo o livro A Libertação de Bela – Anne Rice, e ela descreveu todo o procedimento, só que com mais detalhes”, gargalhou.

O impacto dessas novas expressões na língua portuguesa mudou. Anteriormente, sem a força da mídia, a maior parte das brincadeiras se limitava à fala. Mas com o advento da internet, tudo isso mudou. As expressões são registradas nos blogs e nas redes sociais, simulando um jeito afetado de falar. Diversos sites se propõe a divulgar um “dicionário” LGBT. A web dá permanência às novas expressões e a chance de virarem mais do que uma moda passageira. Algumas expressões podem se incorporar definitivamente ao vocabulário geral dos brasileiros.

Então chega de ficar perdido: confira nossa seleção de alguns dos termos mais usados e suas respectivas traduções:

Abafa – não comente, evite que assunto, gafe ou fofoca se espalhe.

  • Exemplo: “Abafa, viado! O boy é mara”.
  • Tradução: “Não espalha! O cara é maravilhoso”.

Amapôa – Mulher. Há anos é usado por grande parte da comunidade LGBT.

  • Exemplo: “Aquela amapôa veio aqui hoje e fechou com a minha cara, porque a senhora não a atendeu direito”
  • Tradução: “Aquela mulher veio aqui hoje e me deu uma bela bronca, porque você não a atendeu direito”

Aqué – Substantivo masculino para dinheiro. Um clássico do dicionário LGBT usado em todo o Brasil.

  • Exemplo: “Mona, estou sem aqué nenhum e ainda estamos no meio do mês”
  • Tradução: “Amiga, meu dinheiro acabou e o mês ainda está na metade”

Aquendar – Verbo para olhar, paquerar, flertar, participar e até mesmo transar.

  • Exemplo: “Bicha, aquenda aquele boy magia que entrou agora”
  • Tradução: “Menino, olha aquele cara lindo que entrou agora”

Bafo (variações bafon, bafão) – Vem do francês, bas-fond (que significa underground, na marginalidade), que virou bafon, bafo ou bafão. Pode ser usado para designar um evento escandaloso de modo pejorativo ou no bom sentido e, geralmente, vem com conotação sexual. Pode ser uma fofoca imperdível também.

  • Exemplo: “A amapô pegou o marido com outra na cama e deu o maior bafão”
  • Tradução: “A mulher pegou o marido com outra na cama e fez escândalo”

Bofe – Homem. Clássico do vocabulário LGBT, tem sido usado até fora da comunidade – as mulheres hetero adotaram – e programas de humor.

  • Exemplo: “Aquele bofe é escândalo!”
  • Tradução: “Aquele homem é lindo!”

Brejo – Local ou localização geográfica onde há grande concentração de homossexuais femininas.

  • Exemplo: “Esse brejo está cheio de meninas lindas”
  • Tradução: “Essa turma/balada/grupo está cheio/a de meninas lindas”

Cafuçu – Homem rústico, másculo, viril e bronzeado. Segundo Dolores de Las Dores, do Las Bibas from Vizcaya, no Nordeste era “para designar alguém pobre, rústico, de subúrbio ou mesmo feio”. Las Dores usa tanto o termo em vídeos de humor que cafuçu pegou no resto do Brasil: “Agora cafuçu é sinônimo de MACHO de verdade”, se diverte.

  • Exemplo: “Bicha, fui na boate e só tinha cafuçu. A senhora sabe que adoro essa linha, me acabei!”
  • Tradução: “Cara, fui na boate e só tinha pé rapado. Mas eu gosto desse tipo e me diverti”

Caminhoneira – Homossexual feminina masculinizada, muitas vezes também chamada de sapatona.

  • Exemplo: “Só tinha caminhoneira naquela festa!”
  • Tradução: “Só tinha lésbicas masculinizadas naquela festa”

Carão – Pessoa bonita ou de atitude esnobe.

  • Exemplo: “Aquela bicha veio aqui e ficou fazendo carão para mim”
  • Tradução: “Aquele gay veio aqui e ficou fazendo caras e bocas enquanto me ignorava”

Coió – Levar uma bronca ou mesmo ser agredido por alguém.

  • Exemplo: “Você levou um coió do boy, mona? Não acredito!”
  • Tradução: “Você foi enganada pelo cara, amiga? Não acredito!”

Dar a Elza – Roubar, furtar.

  • Exemplo: “Estava jantando, deixei o celular na mesa e deram a Elza no meu iPhone!”
  • Tradução: “Estava jantando, deixei o celular na mesa e levaram o meu telefone celular”

Desaquendar – Largar, deixar para lá, esquecer.

  • Exemplo: “Você ainda não desaquendou dessa dieta, viado? Não está dando certo, você engordou”
  • Tradução: “Você ainda não largou essa dieta, amigo? Não está funcionando, você ganhou peso”

Divar – Ter atitude de diva. Começou a ser usada com força entre LGBTs nas redes sociais.

  • Exemplo: “A bicha está divando por aí… Se montou toda e saiu para caçar”
  • Tradução: “O gay ficou horas se arrumando, vestiu roupa de grife e saiu para paquerar por aí”

Mona – Mulher, mas é amplamente utilizado como pronome de tratamento entre os homossexuais masculinos.

  • Exemplo: “Aquela mona é uó”
  • Tradução: “Aquela mulher/homossexual é chata”

Mavamba / o – Quase um ladrão, pessoa que quando tem a oportunidade pode subtrair objetos, homens e idéias de outro homossexual.

  • Exemplo: “Aquela bicha é mavamba, bee, não leva pra casa que vai sumir coisa”
  • Tradução: “Aquele homossexual é esperto e mal intencionado, não leva ele para sua casa que pode sumir alguma coisa”

Nhaiii!? – Variação do cumprimento “E aí, tudo bem?”, só que numa versão bem mais gay. Muito usado por Silvetty Montilla, a saudação foi amplamente adotada entre os LGBTs.

  • Exemplo: “Nhaiiiii, viado, você tá boa?”
  • Tradução: “E aí amigo, tudo bem?”

Racha (ou rachada) – Mulher.

  • Exemplo: “Aquela racha tava me gongando”
  • Tradução: “Aquela mulher estava me ridicularizando”

Ryca – De rica, usado para alguém que tem dinheiro, é bonita, magra, bem-sucedida, consome coisas boas. É o novo “luxo” para designar pessoas bem sucedidas e admiráveis financeiramente ou não.

  • Exemplo: “Eu sou ryca, viado, me deixa!”
  • Tradução: “Eu sou bem-sucedida, influente, magra, com cabelo incrível, faço como eu quiser!”

Uó  – Quando se refere a pessoas, antipático, fresco, chato. Quando são coisas ou lugares, sem graça, cafona.

  • Exemplo: “Conheci aquele boy na internet, encontrei pessoalmente e foi uó”
  • Tradução: “Conheci aquele cara na internet, encontrei pessoalmente e foi bem chato”

Fonte: Gaycionário