No momento em que escrevo este texto, a primeira rodada terminou e a segunda começou com o jogo do Brasil contra o México. Foram 16 jogos, quase metade dos jogos tiveram viradas e temos a maior média de gols desde a Copa de 1958 (se você é dos que gosta muito de estatísticas, dá uma olhada aqui). Não sou muito velho, acabei de fazer 29 anos, mas, sem dúvida, é a melhor Copa a que já assisti.

Tenho minhas preferências pra acompanhar a Copa. Assisto aos jogos do Brasil na Globo. Podem me crucificar, aceito. A exceção é quando o Milton Leite narra. Aí, mudo pro SporTV. Quanto aos demais jogos, vario na busca pelos narradores que gosto: além do Milton Leite, o Everaldo Marques (ESPN) e o João Guilherme (Fox Sports). Nos intervalos entre um jogo e outro e no final da rodada, costumo ficar pela ESPN.

Pensando na primeira que vi pra valer, em 1994 (contei um pouco sobre essa experiência em outro post), acho que melhoramos muito. Na época, a sensação que tenho é que o futebol não era visto como a tábua de salvação da audiência na TV. A Globosat engatinhava e o SporTV nem existia como SporTV. Hoje, são só no HD, são dois canais SporTV, dois ESPN, dois Fox Sports, um Band Sports e mais Globo e Band na transmissão. É futebol 24 horas por dia na Copa.

 LCJr-Ledio_sportvNo entanto, essa quantidade enorme de canais transmitindo os jogos, na TV aberta e na TV a cabo, não garante muitas novidades. A cobertura parece igual a todas as outras que vi. Aparentemente, a necessidade de manter uma programação de tema futebolístico por tanto tempo no ar tem sido um problema.

Há, na busca pela audiência, um adicional de bizarrices no ar. A Ana Maria Braga já serviu comida mexicana às nove da manhã. Teve também uma tartaruga fazendo previsão, via prato de milho no chão com os nomes dos times na disputa, em programa da Record e o Louro José fazendo análise tática num programa culinário. Nada contra, sou defensor da tosqueira na televisão. Se a Copa incentiva, ponto pra Copa.

Como uma tentativa de inovar, a Fox Sports colocou em seu canal 2 humoristas na transmissão. O recurso já é conhecido do público carioca, a Rádio Transamérica já fez isso há alguns anos. Honestamente, não sei se é bom. Também não vi nenhum jogo com eles pra ter uma opinião a esse respeito. Acho que pode dar muito errado, mas a tentativa em si não tem nada de errado. A galera profissional da área já fala tanta bobagem mesmo.

Em geral, fica claro que o grande número de pessoas utilizadas na cobertura do evento derruba um pouco a qualidade. É muito estagiário tendo que assumir microfone ao vivo. O sujeito entra no ar, fala, fala, fala e não explica nada. Isso ficou claro no dia da abertura, quando a repórter do SporTV teve muita dificuldade pra explicar o problema de acesso ao Galeão por conta de uma manifestação dos aeroviários. A mesma coisa vale pras entradas dos correspondentes do canal nos países participantes da Copa: às vezes, falta intimidade com o retorno e, acima de tudo, presença espírito de quem tá no comando da transmissão pra ajudar os caras.

Sobre os links ao vivo, no meio da torcida, é sempre um negócio tenso. O pessoal chega lá e, ao que parece, não tem nada de original pra perguntar. No primeiro sábado da Copa, um pouco antes de começar a primeira partida no Mineirão, repórter entrou ao vivo e, numa conversa com uma torcedora colombiana que segurava uma réplica de papelão da taça, perguntou o que a moça ia fazer com a taça se a Colômbia vencesse. Sério, cara? Confesso que fiquei torcendo pra moça colocar a taça na frente do púbis e chacoalhar. Ou responder com um portunhol fuleiro: enfiar em tu culo. Ela só ergueu os braços.

A necessidade de muita gente pra trabalhar na transmissão não afeta apenas a reportagem. Também aparece quando nos deparamos com os comentaristas escalados pros jogos. Juninho Pernambucano tem sido um sopro de talento. Mas o terreno é árido, muito árido. Caio, Roger, Loffredo, Renê Simões. Não sei nem o que dizer sobre. Casagrande e Mário Sérgio são interessantes porque não dá pra entender muito bem o que tão falando, tornando a coisa toda meio surreal, às vezes. Se formos pensar nos ex-árbitros, só melhora: além do eterno comentador de replay, o rei do gabarito comentado, Gaciba, temos Simon, Paulo César Oliveira e Márcio Rezende de Freitas. Sim, Márcio Rezende de Freitas, cujo maior feito nos campos de futebol foi ter cometido um erro crasso numa final de Campeonato Brasileiro.

Acontece que a Copa do Mundo no Brasil vai muito bem. E todos esses problemas na transmissão se tornam apenas uma parte, quase folclórica, de todo o resto. Vai tão bem que, apesar de ter batido muito no mundial, no governo, na presidenta e na realização da Copa como um todo, a imprensa parece ter aderido ao evento. Até houve um ensaio de aumento dos ataques, com o destaque imenso dado às vaias contra Dilma Roussef na estreia do Brasil (sobre o episódio na Arena Corinthians, o Gustavo Cardoso escreveu aqui). Mas, ao que parece, não dá pra negar que a Copa é um sucesso esportivo, econômico e de mídia. Assim, a imprensa tem preferido, a meu ver, dar destaque aos jogos. Com o fim da Copa, a relação certamente voltará aos níveis anteriores de tensão. Talvez nem demore tanto, já que a campanha eleitoral começa oficialmente em 6 de julho. A conferir.

10491182_633977910019986_7855020684331294962_nFora das transmissões das redes de TV, a Copa do Mundo tem sido um momento muito legal da internet e das redes sociais. Não que não tenha havido isso em 2010. É que quando tudo parece meio parecido, sites como Impedimento e Trivela trazem complementos muito legais ao que se vê na TV. O próprio Ouro de Tolo vem trazendo uma cobertura especial. Além disso, acompanhar os jogos pelo twitter tem sido, cada vez mais, uma experiência divertida.

Antes de acabar, peço aos colegas da imprensa, uma reportagem legal com bósnios que vivem no Brasil. Ou sobre os argelinos. Ou iranianos. Algo melhor que repórter perguntando no CT do Corinthians se é um problema os jogadores do Irã usarem verde. Talvez tenha tido alguma coisa e eu não vi. Dá pra fazer coisas bem legais. O Brasil é um país de muitos imigrantes e um prato cheio pra essas matérias. Mas, por favor, vamos lutar contra os clichês. Até porque, de pizzaria lotada no Bexiga pra falar de Itália, a gente já tá meio cheio. E de outros lugares-comuns e desinformação sobre os estrangeiros também.

No mais, é aproveitar, quem pode, claro, os dias de Copa. Por pior que seja a narração ou os comentários, é COPA DO MUNDO NO BRASIL. Não sei se dá pra estragar uma coisa assim.