Nesta quarta-feira, a coluna Saúde e Batom, da jornalista Raphaele Ambrósio, aborda o tema da homossexualidade e do desejo entre mulheres, retratado na novela “Em Família”, da TV Globo e tema de outras manifestações públicas recentes.

O amor e suas variadas formas

Quando as personagens de Giovanna Antonelli e Tainá Miller entram em cena, o Brasil fica atento para ver o desenrolar da trama. Seria algo normal se não fosse o fato de ser duas mulheres descobrindo o amor entre elas, porém, uma é hétero, casada, com filho pequeno que ainda depende dela. Algo anormal nos dias de hoje? Não mais.

Hoje em dia vemos mais e mais casos como este, retratado na novela das nove. Vemos? É sentido! As mulheres estão deixando cada vez mais seu imaginário ir além, buscando novas experiências, tomando rédeas de sua vida, pouco se importando com o que a sociedade irá falar. E isso inclui seus desejos mais íntimos, sexuais.

Mas, por que as mulheres estão cada dia mais olhando a outra de forma diferente, mais afetuosa, mais sexual? Será porque a máxima de que “apenas uma mulher entende e sabe a necessidade da outra”? Ou curiosidade de saber como é o toque, o cheiro, o estar sexualmente?

senhoradodestinoEsse tema já abordado em outras novelas da Globo – “Senhora do Destino” (foto ao lado) abordava a amizade entre duas mulheres, que acabou virando amor; “Mulheres Apaixonadas” (foto abaixo) mostrava o amor entre duas adolescentes – está chocando e interessando mais dessa vez.

Talvez, pelo o marido de uma estar doente ou pelo fato de o autor deixar bem claro que eles tinham um casamento perfeito e intocável antes do surgimento da terceira pessoa. O público, com isso, fica dividido, porém, aguçado, atiçado, já que em algum momento já pensou, desejou ou vivenciou algo parecido.

Mulher gosta de se sentir desejada, seja por homem ou por mulher. Isso massageia o ego. E ainda conta a favor o fato do “proibido é mais gostoso”. Engana-se quem pensa que apenas homens desejam ter duas mulheres em sua cama, como fetiche. Mulher também é capaz e deseja o mesmo, apenas, por pudores ou medo do que o parceiro irá falar, não expõe sua vontade.

Cada vez mais, casas de swings vão ficando repletas de mulheres solteiras (não necessariamente de forma formal e sim, desacompanhadas) em busca da tal experiência homossexual. Mulheres casadas, comprometidas que vão buscar um prazer que é contido por conta da sociedade. Buscam o fetiche, o toque diferente, o gosto, o cheiro, sem que sejam recriminadas. E são capazes de voltarem para o seu lar como se nada tivesse acontecido, por que não?

mulheresapaixonadas

Uma atração por outra mulher é a coisa mais comum que existe. Pode acontecer por conta do físico ou por, simplesmente, admirar a outra, seja profissional ou no estilo de vida. Mulher entende mulher, passam muito tempo juntas, é normal que, nem que seja por uma vez, passe pela cabeça como seria algo a mais com a amiga.

Isso não está relacionado a promiscuidade e sim, interesse, desejo, olhar diferente para um universo novo. Não significa que a mulher está optando por ser lésbica, claro que não! Ela está se auto-descobrindo, vendo que sente outro tipo de necessidade. Geralmente, começa por conta de uma carência, um vazio que um homem, as vezes, não consegue preencher. Na novela, a sedução foi tomando conta da situação e muita das vezes acontece o mesmo fora da tela, na vida real.

Hoje em dia, as mulheres estão mais donas do seu corpo. A masturbação já não é mais um bicho de sete cabeças. Elas têm o controle da situação na cama, de forma direta ou indiretamente. Estão mais resolvidas, gostando mais de ir a sex shop, por exemplo. Interessando-se mais no que diz respeito a campo sexual.

Um exemplo recente e explícito foi o boom que o livro 50 Tons de Cinza causou. A maioria dos leitores eram mulheres. A leitura era em busca de dicas, ensinamentos, entendimentos e elas se permitiam viajar naquele universo apimentado, desejando ter o mesmo em casa ou, até mesmo, fora dela. O livro foi um divisor de águas. Desde o seu lançamento, pode-se ver mulheres falando sobre sexo de forma mais aberta, sem timidez, contando seu desejos sem pudores.

Mas o amor entre duas mulheres não se deve apenas pelo sexo. Mulher é mais delicada, mais atenciosa com a parceira seja na cama, priorizando satisfazer uma a outra de forma igual, ou seja fora dela, com perguntas simples sobre como foi o dia da outra, como ela está se sentindo… se interessando e dando o determinado valor a esse momento.

Mais uma prova de que a visão feminina para este tema está mudando, foi o fato do Brasil ter consagrado como vencedora de um reality show, uma bissexual. Uma mulher que teve um caso com uma mulher casada com um homem, no reality mais assistido do país. A cada beijo, pegação que elas faziam dentro da casa, o ibope subia, o Twitter bombava, os comentários nas ruas aumentavam. O público gostou do que viu e aprovou, caso contrário, ela não teria levado o prêmio. Hoje, existem fã clubes Clanessas (mistura dos nomes das duas), assim como também existem Clarinas (Clara e Marina, de Em Família) Brasil afora.

Que venham mais Clarinas, Clanessas para provarem que o amor existe em suas variadas formas, com a leveza e pureza que deve ter. Que o relacionamento homoafetivo ganhe mais vez, mais voz. Que mulheres possam experimentar sem culpa os seu desejos. Que elas saibam que, olhar, pensar, sentir, não arranca pedaço e que não estão cometendo pecados, apenas, se sentindo vivas. E você, o que sente?

Fotos: Gshow e reprodução de internet