Neste domingo o compositor Aloisio Villar trata de preconceitos e suas manifestações.

O Brasil da era das cavernas

Negros sendo chamados de macacos, mulheres pedindo para não serem estupradas, garotos sendo amarrados depois de assaltos. Devem estar pensando que falo da era das cavernas, da idade média, mas não, é o Brasil de 2014.

Parece que há alguma coisa fora da ordem. Que o Brasil decidiu voltar aos tempos medievais e é tomado por hordas de barbáries. Aconteceu no Rio Grande do Sul e em jogo do campeonato paulista. Jogadores e juízes negros chamados de macacos.

Isso em um país mameluco, cafuzo, miscigenado onde a raça menos representada talvez seja a cem por cento branca. Essa “onda” na verdade começou no Peru em jogo do Cruzeiro da Libertadores (sempre a Libertadores com problemas, ela parece uma FEBEM latino americana).

Brasileiro é macaco de imitação (ops, macaco sem conotação racista); tudo que é ruim a gente gosta de imitar, impressionante. Imitam macacos muitas vezes nem porque são racistas, mas em uma tentativa de desestabilizar o adversário e caem numa situação trágica.

Sim, trágica, porque o racismo é uma das coisas mais asquerosas, nojentas e degradantes que existe. Diferenciar alguém por causa de sua cor, subjugar uma raça por diferença de pele.

Negros foram escravizados nesse país. Passaram por humilhações, trabalhos forçados, apanharam, morreram durante séculos. O Brasil foi o último país do mundo a acabar com a escravidão e até hoje sofre suas consequências.

Tinga-Treino-Cruzeiro-Washington-AlvesVIPCOMM_LANIMA20120522_0100_26Só olhar uma favela, um presídio, pessoas que moram na rua, zonas de prostituição, veja de qual cor é a maioria. São negros pela índole? Não, mas pela necessidade muitas vezes, a falta de oportunidade. Dizem que no Brasil não existe racismo; mas existe sim, só que como tudo nesse país é feito as escondidas, por debaixo dos panos.

O Brasil tem um Apartheid velado. Um apartheid moral onde o negro desde bem novo é discriminado e tem duas opções: ou se fortalece em cima dessa discriminação ou se inibe, se deixa convencer por uma falsa inferioridade.

Eu sempre fui gordo e desde moleque sofri gozações por isso. Com o tempo me calejei, comecei a aprender a zoar também e isso amenizou, mas era complicado. Imagine o que é para o negro que nem sempre é gozação, é maldade realmente, a intenção de ferir, de inferiorizar.

Uma criança negra ser discriminada e um pai ter que conversar com ela com todo cuidado contando que ele não é inferior e principalmente, que isso não se enraíze nesse menino.

Não deve ser fácil ser negro no Brasil.

Como não deve ser fácil ser mulher.

O Brasil sempre foi um país machista. O país que comercial de cerveja tem que ter loira gostosa, que panicats viram celebridades, funk esculacha a mulher, meninos são ensinados a mostrar o pipi, meninas que mesmo sem ter peitinho ainda tem que se cobrir dos pés a cabeça mesmo no calor para não despertar tarados, um país feito para homens mesmo sendo governado por mulher.

Recentemente saiu uma pesquisa que chocou. Acho que na verdade chocou porque se tornou uma coisa oficial, porque sempre foi uma coisa comentada por muita gente. A pesquisa deu que parte da população acha que mulher tem culpa ou parcela de culpa em estupros.

Pasmem, isso não é opinião de uma ou duas pessoas, é de muita gente, até com gente de boa formação intelectual, até de mulheres!!

Alegam que uso de pouca roupa contribui para isso. Babaquice!! Cada um é dono de sua vida, seu corpo e faz aquilo que quiser. Se a mulher quer usar minissaia, top, o problema é dela. Estupro é um dos piores crimes que existe. Forçar uma pessoa a ter relações sexuais é coisa de gente doente.

eu-nc3a3o-merec3a7o-ser-estuprada-3A coisa chegou a ponto de mulheres terem que fazer movimento dizendo que não querem ser estupradas (foto ao lado, retirada da internet). No Brasil!! Não é no Oriente Médio ou num país pobre da África.

E para piorar essas mulheres ainda foram ofendidas e ameaçadas. Relembrando, não é a era das cavernas quando o macho dava uma cacetada da cabeça da mulher para ficar com ela. É 2014.

O meu lado otimista diz que sempre foi assim, desde que o Brasil é Brasil e se esses casos de racismo e abusos sexuais estão causando alvoroço e indignação é porque finalmente as pessoas de bem estão reagindo.

Que seja isso. Que seja um crescimento de conscientização e noção de cidadania e respeito ao próximo.

Essa é a única maneira de sairmos da era das cavernas e caminharmos para um futuro de igualdade seja racial ou sexual.

O respeito ao próximo devia ser a primeira coisa que aprendemos na vida.

Seja em qualquer época do planeta.

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