Nesta sexta-feira, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, comenta mais um ano de equívocos das diretorias dos clubes cariocas, principalmente as de Fluminense e Vasco, rebaixados para a Série B do Campeonato Brasileiro no campo – o Tricolor ainda foi resgatado depois da confusão envolvendo a Portuguesa.

Até quando, Rio?

Quem me conhece sabe que torço para o Flamengo, vivi 29 dos meus 32 anos no Rio de Janeiro e amo a cidade e seus principais cartões de visita, como a natureza, o samba, o carioca e o futebol. Pena que este último tenha tido mais um ano sofrível, por culpa de péssimas administrações.

Por isso, não tenho como não ficar indignado com o que aconteceu dentro e fora das quatro linhas neste 2013. Flamengo e Botafogo, mesmo com problemas que poderiam ter sido evitados, ainda saíram no lucro. Mas Fluminense e Vasco…

Antes de começar a análise, queria deixar claro que dirigentes de outros estados cometeram os mesmíssimos erros, mas estou apenas me atendo aos clubes do Rio porque é o público que mais acompanha o blog e, afinal, sou carioca.

Também queria esclarecer que não estou entrando no mérito dos aspectos relacionados a recursos, tapetão, perda de pontos, virada de mesa, etc. Vou me ater apenas aos problemas de administração e unicamente às consequências futebolísticas.

flacopabrPara começar, o Flamengo. O clube ainda salvou o ano com a merecida conquista da Copa do Brasil. Mas foi um título conseguido com velhos ingredientes, que nada têm a ver com planejamento: Maracanã, peso da camisa e força da torcida.

Evidentemente que nas fases iniciais da Copa do Brasil até mesmo times com problemas conseguem ir avançando. E o Flamengo, mesmo com limitações, foi chegando. Aí, a partir das oitavas de final, já com o Maracanã, encorpou de vez, como historicamente sempre aconteceu, com ótimos e péssimos elencos.

É claro que Jayme de Almeida soube armar o Flamengo para aproveitar esse cenário, ou seja, tem totais méritos. E os jogadores visivelmente se empenharam para superar essas limitações. Estão de parabéns também.

O restante do ano, porém, foi um desastre em termos esportivos. Poucas e fracas contratações, exceto Elias, trocas constantes de treinador, um Carioca sofrível e um Brasileiro marcado pelo flerte constante com a zona de rebaixamento. O aumento abusivo do preço dos ingressos na final da Copa do Brasil também indignou a torcida e só acabou esvaziado pela conquista do título.

Houve ainda o lamentável episódio envolvendo a escalação de André Santos na última rodada do Brasileiro, contra o Cruzeiro. A diretoria alega que consultou a CBF antes da partida e que recebeu autorização para colocá-lo em campo. Mas no fim das contas, foi um caso que quase pôs no lixo o ano rubro-negro.

É claro que se esperava dificuldade em 2013 pela louvável postura da nova diretoria rubro-negra em sanear as finanças do clube. O projeto sócio-torcedor ainda tem problemas, mas precisava começar, também. Sabia-se que o ano seria difícil, dado o terreno acidentado em que o clube se encontrava.

Mas houve erros e, passado esse primeiro ano, a diretoria precisa aprender com o que fez de bom e ruim, e aproveitar a presença na Libertadores e a recuperação da simbiose com a torcida para acabar de vez com os problemas crônicos do clube.

seedorfJá o Botafogo, no balanço geral, foi o único dos quatro tradicionais clubes do Rio que manteve uma razoável consistência, embora também com problemas. Ganhou o Carioca com inteira justiça e fez boa campanha no Brasileiro. Mas poderia ter alçado voos mais altos.

Isso porque, quando brigava pelo campeonato com o Cruzeiro, acabou perdendo jogadores importantes como Andrezinho, Fellype Gabriel e Vitinho. Você pode perguntar: como o Botafogo poderia evitar o assédio de outros clubes mais bem estruturados?

Na verdade, o problema nem foi tanto evitar essa investida estrangeira, o que sempre acontece devido às mazelas do nosso calendário. Mas quando se tem um elenco forte, essas perdas acabam sendo suprimidas rapidamente. Não foi o caso do Botafogo, que não estava preparado.

O returno do Alvinegro foi quase todo terrível, com algumas derrotas inadmissíveis, mas nas rodadas finais o técnico Oswaldo de Oliveira conseguiu rearrumar o time. A vaga na Libertadores saiu com a derrota da Ponte na final da Sul-Americana. Um grande lucro para o clube e a torcida, que não via o Fogão na Liberta desde 1996.

Como no caso do Flamengo, cabe à diretoria alvinegra aproveitar o viés de subida do fim do ano para se estruturar melhor e evitar oscilações que possam comprometer todo esse trabalho.

Já Fluminense e Vasco fizeram tudo absolutamente errado e pagaram o preço dentro de campo com justiça.

vascobO Vasco desde o começo do ano atravessou uma gravíssima crise financeira – sabe-se lá Deus por que… Como o Carioca sempre engana e o Vasco chegou a uma final de turno, e na Copa do Brasil dá pra ir levando até pelo menos as oitavas de final, imaginou-se que dava pra empurrar com a barriga com aquele elenco.

Mas logo ficou evidente que no Brasileirão a situação era mais delicada. E aí o Vasco não teve forças para se estruturar melhor. Exceção feita ao promissor Marlone, os jovens que subiram e os refugos que chegaram não deram conta do recado. E até o ídolo Juninho, que saíra brigado do clube e já tem 38 anos, virou solução da noite para o dia…

Nas últimas rodadas, a grande e apaixonada torcida do Vasco ainda abraçou o time e tentou inflamar os jogadores. Até que conseguiu uma sobrevida e luta não faltou até o fim. Mas aí os equívocos anteriores da diretoria pesaram mais e o Vasco caiu de novo no campo.

flubbO Fluminense, por sua vez, cometeu erros parecidos com os do Botafogo. Não se preparou adequadamente para a perda de jogadores durante o ano. Calçou as sandálias da soberba achando que o elenco campeão brasileiro de 2012 seria o suficiente para trafegar bem pelo ano e se deu mal.

Tudo bem que a eliminação da Libertadores aconteceu num jogo em que o Tricolor foi assaltado pela arbitragem (contra o Libertad), mas depois disso o time foi um arremedo da eficiente campanha do ano anterior.

Thiago Neves, Wellington Nem e Deco saíram e a incipiente diretoria não teve competência para reagir, mesmo com um enorme orçamento de seu patrocinador master. Queimaram os garotos das divisões de base e erradamente apostaram num técnico de passado vitorioso mas presente claudicante, Vanderlei Luxemburgo, que ainda por cima tem ligação umbilical com o Flamengo.

Depois mandaram Luxa embora e contrataram Dorival Júnior, que teve um 2013 irregular no Flamengo e absolutamente desastroso no Vasco. Nesse caso, o treinador não tinha nada a fazer a não ser tentar motivar o grupo no estilo “vamos lá, rapaziada!”. Ou vocês acham que tecnicamente dá para resolver tanto em tão pouco tempo? Caiu no campo com justiça também.

Depois, aconteceu o que todos sabemos em relação aos assuntos extracampo, com as punições do STJD à Portuguesa e ao Flamengo pela suposta escalação irregular de jogadores e o Tricolor, a exemplo do que aconteceu em 1997 e 2000, foi recolocado na divisão principal.

Sem entrar no mérito da questão, o Fluminense precisará trabalhar com muita força não só na reconstrução do elenco como em recuperar a imagem do próprio clube, tido hoje por mídia e torcedores como vilão na história. A coisa é tão séria e desproporcional, que torcedores foram agredidos e o jogador Rafael Sobis, hostilizado no Galeão.

Certo é que ganhar e perder faz parte do futebol e é irreal pensar que os clubes cariocas vão vencer sempre. Mas será que os dirigentes cariocas vão aprender com mais um ano de tantos equívocos? Será que só as forças das torcidas apaixonadas, das camisas e do Maracanã conseguem manter os clubes num nível aceitável? Difícil, viu….

Enquanto os clubes cariocas tentam se arrumar, desejo a todos os leitores um Feliz Natal!

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