Neste domingo, o colunista Aloisio Villar nos dá uma visão da disputa de samba da União da Ilha para o carnaval 2014. Na foto, Bruna Bruno, rainha de bateria da agremiação.

Os 5 da União

Quando essa coluna for ao ar não serão mais cinco e sim quatro, mas no momento que escrevo os cinco semifinalistas estão definidos, em uma disputa nada definida. Costumamos dizer que apesar do resultado vazar durante a final e antes do anúncio sabermos o samba campeão, na Ilha tudo pode acontecer, tudo pode mudar a qualquer momento.

Digo que em questões de apresentações nada mais será alterado. Não teremos nenhuma apresentação até o fim que surpreenda negativamente ou positivamente. Todos que frequentam a agremiação já conhecem as obras de cor e salteado. Agora a disputa está nas mãos da “política”. Quem tem mais força política hoje na escola? Quem tem mais padrinhos ou maior poder de convencimento?

Por aí passa agora o resultado do samba campeão de 2014.

O que? Você não sabia que um concurso de samba se decide politicamente? Acha que é apenas no samba? Com certeza não é meu leitor, não é leitor do Migão e nem acompanha muito concurso de samba-enredo. Se em um bloco de esquina você tem que ter política para vencer imagine em uma grande escola como a União da Ilha?

Os cinco que chegaram são os mais fortes politicamente da agremiação; colocaria como uma força política na escola também a parceria do Júnior, que venceu em 2013, mas por ter força política eles não estão nessa reta final. Contra-senso né? Logo explico.

São os cinco também que mais se destacaram e tiveram melhor rendimento durante o concurso. Outros poderiam estar nessa relação e ter desempenho parecido, mas cortes logo no início impediram a comparação.

De corte prematuro achei o da parceria de Lobo Jr, achei que poderiam ter ido mais à frente. A parceria de Raphael Ilha também poderia ter caminhado um pouco mais. Disputa diferente esse ano em que duas parcerias, sabendo que não teriam chances de vitória, pediram para ser eliminadas. A parceria de Ronald, que é uma frequentadora de finais na Ilha e a já citada parceria de Junior.

A queda dos campeões do ano passado foi a grande surpresa desse concurso, ainda mais que nem entre os dez chegaram. Mas se valeram dessa forma política e de serem bem quistos na escola. Não teria porque manter no concurso gente que sempre foi fiel à agremiação, sempre se dedicou a ela em uma situação que gastariam dinheiro a toa. Essa força política impediu que isso ocorresse, quem não tem continuaria tendo que gastar, investir – mesmo apenas fazendo número.

Vamos aos cinco.

A primeira parceria que cito é a de Mingau. Uma surpresa o compositor ter posto samba na Ilha, mesmo sendo oriundo dela. Mingau fez sucesso e estabeleceu seu nome na Grande Rio, ganhando inúmeros sambas na agremiação de Caxias, inclusive de 2013. Vem respaldado por ser grande amigo do vice presidente Djalma Falcão e um bom samba, que mostra bem o universo infantil.

O samba faz uma boa campanha, bem interpretado, mas vem sendo bem prejudicado nos sorteios sendo sempre o último a se apresentar. Por isso é o que tem a menor torcida – e torcida na Ilha é fundamental. Acho que esse primeiro ano da parceria serve mais para um “reconhecimento de área”. Estabelecer posição a fim de brigar seriamente por vitória ano que vem. É bom para a escola ter parceria tão competente e vitoriosa acrescentando a agremiação.

Outra parceria novata é a de Carlos Caetano e cia. Carlos Caetano é um conhecido compositor de meio de ano (termo usado para definir sambas que não são de carnaval) tendo vários pagodes gravados por grupos famosos. Começou chamando atenção pela qualidade do samba vindo de uma parceria até então desconhecida. Depois chamou atenção a torcida gigantesca, a maior hoje do concurso. Quase toda a sua torcida vem de fora da Ilha, gente que vem em ônibus, mas conquistaram uma parte dos componentes; pequena, mas conquistaram.

Como eu disse tem um bom samba, mas tem coisas que me incomodam como o verso “Levanta pra cair de novo”, não consigo imaginar uma escola de samba cantando isso na avenida, certamente seria muito zoada. Se vencesse acho que o verso seria trocado.

Mas vejo a situação da parceria como a mesma de Mingau. Ano de reconhecer território. Carlos Caetano já é um dos grandes vencedores do concurso e virou sonho de consumo de boa parte das parcerias da Ilha.

Walkir e cia vem batalhando desde 2005 para vencer na Ilha. De lá para cá só não fizeram final em 2005 e 2012, e acredito que faça de novo. Compuseram para 2014 o melhor samba da parceria até hoje, com um refrão de meio poderoso. Era uma de minhas apostas de vitória antes do concurso começar.

Mas no todo o concurso feito pela parceria foi aquém do bom samba. Começaram fortes com Luizinho Andanças e Davi do Pandeiro comandando o palco. Mas sábado é um dia complicado para ter cantor de grupo especial defendendo samba. O cara se compromete em várias escolas e acaba te deixando na mão.

Luizinho só cantou na estreia e Davi não dominou o samba então durante semanas ficou uma indefinição no palco que prejudicou a parceria. Indefinição que só foi resolvida quando fizeram o óbvio e certo. Deram moral ao ótimo Nando Pessoa, cria da Ilha e cantor fiel da parceria, lhe efetivando como primeiro. O samba voltou a crescer, mas enfrentou problemas com torcida diminuta, assim como a de Mingau.

Fez uma grande apresentação no sábado anterior ao que escrevo a coluna e não descarto uma vitória sua. Mas vejo hoje a chance pequena, como uma terceira via.

A parceria de Marquinhus do Banjo é a que domina o cenário insulano desde a entrada do presidente Ney. Ganharam quatro sambas de forma consecutiva sempre mostrando boas obras mostrando o casamento perfeito entre Marquinhus do Banjo e Gugu das Candongas.

Para esse ano tiveram o reforço de Roger Linhares e no começo do concurso achei que o casamento não dera certo, achei e muita gente também achou que a presença de Roger travava Marquinhus, que sempre teve como ponto alto sua espontaneidade e carisma.

A disputa não começou boa para eles. Além desse problema no palco a parceria passou por problemas financeiros graves. Por metade do concurso foi a única parceria a não colocar torcida e chegaram a cogitar tomar a mesma atitude de Júnior e Ronald. Mas como eu sempre digo, se tem adversários chatos são Marquinhus e Gugu. Quando pensamos que eles estão mortos levantam do caixão e dão uma banda no coveiro.

Reagiram, arrumaram ajuda, dinheiro e cresceram muito no concurso. Marquinhus se soltou e voltou a ser o grande cantor e showman de sempre dominando o palco, mas dando liberdade aos outros cantores de também brilharem. Destaco aí o bom cantor Nino que veste a camisa com muita garra e se entrega totalmente. Sua garra contagia.

É hoje o samba que mais cresce no concurso, tiveram uma ideia genial de colocar uma bandinha antes e depois de suas apresentações tocando o refrão do samba e conduzindo a torcida, mas pesa contra eles a primeira metade do concurso. Vejo hoje como a segunda opção, mas não duvido se no fim vencerem. Nunca posso duvidar de Marquinhus do Banjo e Gugu das Candongas. Parceria muito forte politicamente e que tem gente influente para defender.

Por fim os favoritos, Carlinhos Fuzil e cia. Eles já fizeram um belo samba ano passado e para muitos deviam ter vencido. Esse ano, para mim, fizeram um samba ainda melhor.

Desde o começo tornaram-se favoritos, fazendo grandes apresentações. Devido a esse problema que já falei dos cantores sábado tiveram a ideia de contratar dois dos maiores cantores de nosso carnaval. Tinga e Wander Pires. Assim quando um não pudesse ir o outro ia. A estratégia deu certo porque apenas duas vezes a parceria não contou com nenhum dos dois cantores.

O samba é muito bonito melodicamente e tem uma letra poética. Muita gente torce o nariz para o refrão do meio, eu particularmente gosto mesmo achando o refrão do meio de Walkir o melhor do concurso. Mas o samba tem muitos grandes momentos, que já são marcantes na disputa e ficarão na memória por um bom tempo mesmo que não vença.

O samba conquistou a comunidade, é o preferido de quem desfila e frequenta sempre a agremiação e essas pessoas fazem questão de demonstrar isso. Não sei se estão trazendo torcida de fora; se estão é muito pouco. Caso seja escolhido acredito que seja um dos mais bonitos do carnaval 2014.

Mas duas coisas pesam contra. A dúvida de muita gente se esse estilo de samba casa com o estilo da União da Ilha e o fato do diretor de carnaval Márcio André ter vencido como compositor em outra escola do mesmo grupo, Império da Tijuca. Como eu falei antes a disputa agora é política, na política isso conta e todo mundo sabe que Márcio tem ligações afetivas com essa parceria.

O que eu acho? Acho que como previ antes mesmo de entregarem as sinopses e eu disse aqui e nas redes sociais o samba fica entre as parcerias de Carlinhos Fuzil e Marquinhus do Banjo. Vejo favoritismo grande para Fuzil, mas não ficaria surpreso com vitória de Marquinhus.

Se fosse colocar em porcentagem hoje daria 65% pra Fuzil, 30% pra Marquinhus e 5% para Walkir.

A sorte está lançada. Dia 19 saberemos quem será o dono dessa festa.