Nesta segunda feira o advogado Walter Monteiro traça painel sobre a situação atual do Flamengo.

Flamengo, 2013 – Unidade na Luta

Há duas explicações para a saída de Mano Menezes do Flamengo. A primeira é que, como dizia o Barão de Itararé, há algo no ar além dos aviões de carreira, algum segredo obscuro que não veio à tona. A segunda é que Mano falou a verdade e simplesmente (ou melhor, covardemente) foi embora porque sentiu que não conseguiria dar jeito no time a ponto de afastar o risco de rebaixamento.

Torço para que seja a primeira opção. Porque, em sendo a segunda, nossa situação é crítica como nunca.

Um blogueiro que admiro muito e que escreve a coluna Alfarrábios do Melo fez uma retrospectiva sinistra sobre as nossas participações em campeonato brasileiro (que você pode conferir em http://goo.gl/Syxwtj ). Nas últimas 16 edições, lutamos seriamente contra o rebaixamento em 8 delas, incluindo a atual. Caramba, a nossa sina de fugir do rebaixamento é um campeonato de par ou ímpar: em metade dos anos estamos nessa vibe.

Há uma diferença marcante entre as turbulências anteriores e a atual. Antes o clube pressentia o risco e se mexia, com as armas que conseguia, para fugir do pior. Traziam-se jogadores, trocava-se de treinador, mobilizava-se a torcida. E o time sobrevivia, mesmo quando parecia impossível – 2005 eu e o Editor Chefe já tínhamos jogado a toalha.

Agora não está sendo bem assim. O clube pareceu alheio aos riscos iminentes. Nosso presidente deu uma entrevista semana passada assegurando que o Flamengo não cai, mas sem esboçar qualquer reação ou mesmo explicar o porquê dessa postura ‘wishful  thinking’.

Se antes estava na moda falar bem do clube e sua diretoria, agora parece que a maré virou e falar mal virou cult. Mas falar mal não adianta muito, nessa altura dos acontecimentos. Se o amigo aí não se ligou, a parada é muito séria e o time precisa reagir bem rapidamente.

O time é fraco, bem fraco. Até o momento que escrevo, o time não tem treinador definido, sendo comandado pelo simpático Jayme de Almeida, que, vai entender, com todo apoio do mundo, levou a campo praticamente a mesma escalação e o mesmo esquema tático que já não vinha dando certo com Mano Menezes. Portanto, no meio dessa crise toda, é preciso encontrar caminhos que nos tirem correndo desse buraco e permitam um planejamento mais ameno para 2014.

Não quero ensinar padres a rezarem missa, mas eu acho que só há um caminho possível para escapar do terremoto: a unidade de time e torcida, de mãos dadas para conquistar os pontinhos que faltam.

Pode parecer uma pieguice imensa falar em unidade, mas é fato que no ambiente rubro-negro o clima anda péssimo. E para dissipar essas nuvens negras, eu pensei em quatro iniciativas simples – ou não tão simples, mas indispensáveis:

1.     REFORÇAR A LIDERANÇA DO PRESIDENTE – Em um clube marcado pelas desavenças internas, é uma benção ter um presidente que praticamente não tem rejeição, uma pessoa querida e admirada por todos. A crítica que a ele se faz é que ele não teria muito poder. Tem quem atire laranjas para simbolizar essa fraqueza ou quem seja mais polido ao lembrar que ele só está lá para contornar um empecilho estatutário, portanto não é quem exerce o poder de verdade. Isso precisa mudar. Bandeira de Mello tem capacidade e apoio suficiente para agir com autonomia e impor sua liderança. Se ele o fizer, canalizará para si os ônus e os bônus das decisões. Se não o fizer, só lhe restarão os ônus. E como quase ninguém desgosta dele, terá mais facilidade de tomar medidas duras e colherá mais tolerância com equívocos que cometer;

2.     DISTENSIONAR A POLÍTICA – Todo rubro-negro sabe que a Gávea é um caldeirão de desavenças, mas 2013 tem sido especialmente ruim nesse item. A eleição parece não ter fim, vencedores e vencidos mantém o clima de disputa eleitoral em alto volume. Creio que muito se deve ao fato de que, pela primeira vez, a política foi instrumentalizada. Se antes a política interna gravitava em torno de alguns figurões e apoiadores do seu entorno, hoje há até simulacros de partidos políticos, organizados de forma permanente e estimulando embates diários até mesmo sobre questões minúsculas. Que coisa mais nonsense: somos todos Flamengo, não tem o menor cabimento tantas batalhas mirando uma eleição que só ocorrerá em 2015. Enquanto isso, o time se derrete bem na nossa frente;

3.     MOBILIZAR A TORCIDA – Não quero entrar no debate se a ideologia “cadê-a-vontade-de-ver-o-Mengão-forte” é correta ou não, mas não há mais espaço para segregar sócios e não sócios, os que contribuem e os que só reclamam, os cariocas e os Off-Rio, os apocalípticos e os integrados. É preciso que o clube reconheça publicamente que precisa do apoio da torcida como nunca precisou, porque se o time é fraco e o treinador é uma incógnita, a única vantagem competitiva que nos restou é a mística do Manto, embalado pela energia das arquibancadas;

4.     DEMITIR PELAIPE – Aos que perguntam de que adiantaria demitir o gerente de futebol quase no fim do ano, eu respondo com muita tranquilidade: adiantaria muito. Primeiro, porque simbolizaria o reconhecimento de que houve um erro em sua contratação e que esse erro está sendo reparado, quando muito para salvar a temporada que vem. Segundo, porque iria ao encontro do desejo da torcida, que com muita razão culpa Pelaipe por grande parte dos problemas que enfrentamos; atender a torcida nesse momento é um gesto de boa vontade, além de contribuir para a pacificação e a união. Terceiro, porque se há algum tipo de constrangimento de barrar determinado jogador por alegadas influências do gerente de futebol e seus parceiros, o treinador fica livre dessa dúvida.

Bom, fácil não é, ninguém disse que seria. Mas é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte.

Vamos lá, presidente Bandeira. Mata no peito e toca para o gol, porque caso contrário eu não queria estar na sua pele se o sopro da sorte, que já nos resgatou 7 vezes desde 1998, dessa vez não dê o ar de sua graça.

(Foto: Agência Estado)

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