Nesta terça feira, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, fala sobre as mudanças tecnológicas e sua influência sobre a televisão. Aproveitando, devo dizer que troquei de celular para o Galaxy S4, com tecnologia 4G recentemente. Digo aos leitores que é uma mudança de paradigma considerável – a rede 4G, onde tem cobertura, é muito, muito rápida.

Vamos à coluna.

As Sutis Mudanças da Tecnologia

O Migão já contou aqui a discussão que tive com ele sobre a assinatura do Game Pass da NFL. Eu achei surreal o cara pagar mais de R$ 400,00 para ver uns jogos pela Internet, mais ainda sabedor de que vários deles passam ao vivo na TV por assinatura, em paralelo ao seu discurso de que cobrar R$ 90,00 por um ingresso do Maracanã seria um absurdo.

Ora, como é que o cara pode achar justo pagar uns R$ 10,00 para assistir pela Internet cada uma das 16 partidas do time que ele diz “torcer” e achar caro pagar R$ 90,00 para ver o Mengão embalado pela força da torcida no seu templo sagrado?

Mas eu rapidamente mudei de opinião e isso não teve nada a ver com os argumentos que ele expôs aqui – eu só me dei conta que estava raciocinando sob os parâmetros errados.

Tem dois meses que eu comprei uma Smart TV. Vou me sentir meio tolo perto dos leitores mais aficionados em tecnologia, mas o fato é que, ao menos para mim, foi só com esse novo brinquedo que entendi a dimensão exata do risco que o broadcasting corre (evito o uso de expressões em inglês, mas nesse caso não vejo jeito, porque “radiodifusão” não dá a ideia correta da transmissão pela televisão). Todo mundo me dizendo que a televisão como conhecemos iria acabar e eu não entendia como as pessoas iriam abrir mão da TV em favor do celular ou do notebook.

O burro aqui não sabia que desde que inventaram a Smart TV, que é um receptor tanto do broadcasting quanto do conteúdo espalhado pela Internet via conexão WI-FI, a experiência de assistir televisão ou acessar um vídeo que está na rede é rigorosamente a mesma em termos da qualidade visual – em alguns casos, como o do Game Pass da NFL onde o Migão pagou uma fortuna, até melhor, porque a pessoa decide a que horas vai ver a partida e qual jogo quer assistir, sem depender da boa vontade de quem transmite.

Com a Smart TV vem a inevitável assinatura do Netflix, o serviço mais difundido de “aluguel” de filmes (não é “aluguel”, porque a mensalidade dá acesso irrestrito ao catálogo inteiro). O DVD, em si, já era uma revolução na nossa vida doméstica, mas nada se compara ao Netflix. A experiência de ter que ir à locadora escolher o filme e depois devolvê-lo já não existe mais. Mas isso nem é a melhor parte.

Uma das coisas chatas do DVD era quando você tinha que parar de ver o filme e recomeçar depois, sem saber onde parou. O aplicativo do Netflix posiciona os últimos filmes que você assistiu na cena exata que você parou de ver. Detalhe: mesmo que você tenha começado a ver o filme no tablet e resolva continuar a ver em casa na TV.

Eu estava pensando nessas coisas enquanto dirigia e o rádio do carro começou a tocar uma música muito conhecida, que eu sempre quis ter para usar em apresentações em Power Point, mas não tinha ideia de onde procurar. Aí peguei o Smartphone e acionei o Shazam. Em 10 segundos descobri que era a versão de um cara chamado Israel Kamakawiwo’ole para a música Somewhere Over The Rainbow, do musical Mágico de Oz (vídeo ao final do post).

O leitor aí conhece o Shazam? É provável que sim, mas deve haver coroas como eu e o Editor Chefe que ainda o desconhecem – afinal, tem menos de 6 meses que eu me viciei no aplicativo. O Shazam é capaz de identificar em segundos qualquer música que esteja tocando no ambiente. Isso, por si só, já é algo mágico.

Só que agora o meu Shazam está acoplado a um serviço de streaming. Se alguém ainda não sabe o que é streaming, eu também explico. É a transmissão de músicas em MP3 pela Internet. Então quando o Shazam identifica uma música que eu gostei, ele pergunta imediatamente se eu quero baixar para o meu celular. Se eu disser que sim, em instantes aquela música estará na minha lista de reprodução, para eu ouvir quando quiser. E onde eu quiser, graças ao aplicativo Media Share, que integra meu celular ao meu tablet, a minha TV, ao meu notebook…

Para alguém que na adolescência esperava meses para um LP ser lançado no Brasil é uma experiência singular: ouço a música/o Shazam identifica/o streaming faz o download/o Media Share exporta para onde eu quiser/a música está sempre comigo, o tempo inteiro.

Tem também o Dropbox, esse eu já uso há mais tempo, mas vale o registro. Um dos maiores temores da vida moderna é perder as coisas que estão em formato digital, principalmente nossas fotos. Pois o Dropbox está aí para quebrar o nosso galho. Eu tiro uma foto no celular, automaticamente ela é enviada para os servidores do Dropbox e lá ficam para sempre, guardadinhas. Mas o bom não é isso.

O bom é que com o Dropbox instalado em todos os meus computadores, em casa, no trabalho e nos celulares, tenho acesso local e imediato a tudo. Eu começo a escrever algo no escritório e retomo em casa, sem fazer absolutamente nada, como salvar no pen-drive, mandar por e-mail, fazer download, acesso remoto ou coisas do gênero: o Dropbox faz tudo por mim, de forma instantânea e de graça (até o espantoso limite de 60 GB).

E ainda dá para trabalhar em equipes. Eu, o Jorge Farah e o Affonso Romero (que também escrevem aqui) ano passado escrevemos um documento de mais de 80 páginas a 6 mãos, sem nunca termos nos visto uma única vez e trabalhando no texto de forma simultânea, apenas salvando-o no Dropbox.

Nem tudo é de graça. O Netflix custa R$ 20,00 por mês, o streaming custa R$ 10,00, o Game Pass da NFL custa de R$ 200,00 a R$ 400,00 por ano. Mas tudo é muito barato quando comparado aos seus similares não virtuais: o aluguel de um único DVD custa R$ 12,00 por 48 horas, um CD custa uns R$ 30,00, a mensalidade de uma TV por assinatura custa mais de R$ 100,00 mensais.

E a facilidade/qualidade dos serviços on line em geral supera as de seus concorrentes físicos. Desde que, claro, haja conexão de boa qualidade, o que ainda é um drama no Brasil, mas cada vez menor.

O mais chocante: essas coisas todas têm, digamos, uns 3 anos, no máximo. O próprio IPhone, estopim do avanço tecnológico, foi lançado em 2008. A tecnologia impõe mudanças muito velozes e ao mesmo tempo muito sutis em nossas vidas, sem que a gente consiga prestar atenção direito ou sequer dar o real valor a essas mudanças. Como será nossa vida daqui a 5 anos, em 2018?

Por isso, eu me rendo: ao contrário do que eu imaginava, a TV, como conhecemos hoje, está mesmo com os dias contados. Finalmente os meus desejos da juventude se realizarão: o povo não é bobo, desliga a Rede Globo.