Nesta tarde de quarta a coluna “Sabinadas”, do jornalista especializado Fred Sabino, fala sobre as recentes pancadarias envolvendo pilotos, mecânicos e chefes de equipe ocorridas recentemente na Nascar.

Excesso Americano

No último domingo, a Sprint Cup, divisão principal da Nascar, mais uma vez viu cenas de pugilato. Se na etapa anterior Joey Logano partiu para cima de Denny Hamlin depois da corrida, numa confusão que envolveu até os mecânicos, agora o piloto da Penske foi vítima da fúria do tricampeão Tony Stewart (acima), que, inconformado com uma fechada, partiu para a agressão nos boxes.

Na última volta da corrida em Fontana, na Califórnia, o próprio Logano se chocou de novo contra Hamlin na disputa pela vitória, que caiu no colo de Kyle Busch. Curiosamente, Kyle Busch é um piloto que sempre se notabilizou por ser o bad boy da categoria. Para piorar, Hamlin teve uma vértebra esmagada no acidente e ainda ouviu Logano dizendo que ‘teve o que mereceu’.

É claro que a rivalidade é bem-vinda em qualquer modalidade. Ainda mais no automobilismo, marcado nos últimos tempos por ordens de equipe esdrúxulas e reações um tanto infantis e/ou submissas demais dos pilotos.

É só analisarmos o que aconteceu no GP da Malásia de F-1, no qual Sebastian Vettel desobedeceu uma ordem da Red Bull para não pressionar Mark Webber, que se sentiu traído, e Ross Brawn, chefe da Mercedes, deu uma imbecil ordem para Nico Rosberg não atacar Lewis Hamilton. Neste último caso o alemão estava infinitamente mais veloz do que o inglês, que economizava gasolina.

Mas, no caso da Nascar, o destempero está ultrapassando a fronteira da competitividade e está se tornando algo perigoso. Afinal, se é óbvio que jogar duro faz parte, fechar acintosamente um adversário, ainda mais num circuito oval a velocidades acima dos 300 km/h, é um risco absurdo.

Na Fórmula 1, o bom-mocismo dos pilotos e o comportamento cada vez mais… digamos, corporativo das equipes está deslustrando um espetáculo que está bom e competitivo. Mas na Nascar o inverso vem passando dos limites.

Sempre vale lembrar que os esportes nos Estados Unidos primam pelo contato, como o futebol americano, o hóquei (no qual as brigas não são interrompidas pelos árbitros) e o basquete da NBA (cujo critério de faltas é distinto do visto no restante do mundo).

Ainda vale destacar que na Nascar os chamados ‘big ones’, ou seja, os acidentes envolvendo muitos carros, são parte do espetáculo. Um show que chega a milhões de lares americanos, com propagandas veiculadas com pilotos da categorias e centenas de produtos consumidos pelos fãs.

Não que a Nascar deva fugir da sua identidade. Não que a Nascar vire um convento de futuros padres. Não que a Nascar precise ser politicamente correta. Mas tudo tem um limite e espero que vidas não sejam perdidas.

Como acontece nas guerras, que o país conhece de cor e salteado há seculos.