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Semana passada, em meio a uma forte gripe, comentei no Twitter que havia chegado a fatura anual do Corecon (Conselho Regional de Economia), órgão que regula a atividade do economista no estado do Rio de Janeiro. E este comentário deu ensejo a uma série de questões.

Antes de mais nada, acho um despautério pagar R$370 anuais apenas para poder ter o direito de trabalhar. A empresa onde laboro exige a apresentação do recibo anual demonstrando que estou quite com esta obrigação pecuniária; com isso tenho de manter meu cadastro atualizado por estar em função de economista.

A atividade do economista tem muitos pontos de intersecção com outras, tais como administradores, engenheiros de produção ou contadores. Aqueles que não enveredam pelo mercado financeiro como um todo acabam normalmente trabalhando em área de orçamento e gestão por um lado; ou com análises econômicas, de mercados ou tendências por outro.

Eu mesmo venho oscilando entre estes dois grandes grupos no curso da minha carreira profissional na Petrobras e na BR Distribuidora.

Ou seja, “fiscalizar” o exercício da profissão de economista me parece meio “nonsense”, haja visto que há uma gama enorme de atuação. Além disso, à exceção de quem trabalha estritamente com macro e microeconomia (a minoria) ou na academia, a atividade de um economista pode ser feita – com menos apuro, é verdade – por profissionais como administradores, contadores ou engenheiros de produção.

Lembro que o Corecon não exige uma prova ou a obrigatoriedade do registro para que se exerça a profissão. A exigência de registro ocorre muito mais por parte das empresas.

Quase que imediatamente naquela ocasião advogados responderam-me dizendo que a OAB cobra entre R$ 675 e R$ 1 mil pelo registro anual, e que eu deveria ficar “satisfeito” em pagar “apenas” R$370. Só que a advocacia é uma profissão que tem um componente de “liberalidade”, especificidade e conta própria muito maior, então me parece razoável que haja algum tipo de fiscalização. Um economista não pode exercer função de advogado, porque não tem o conhecimento para tal.

Na prática, estes órgãos fiscalizadores como um todo não cumprem as funções a que estariam atribuídos. Isso vale também para as agências reguladoras de serviços como a Aneel e (um pouco menos) a Anatel. Especialmente a primeira vem se notabilizando pela defesa dos interesses das empresas a quem deveria fiscalizar.

Voltando aos conselhos profissionais, ainda há que se avaliar o corporativismo de órgãos como o de engenheiros ou de médicos. Para o Cremerj (Medicina), a sensação que eu tenho é de que nunca há erros médicos, pois todos os casos que vão a julgamento terminam com o mesmo resultado: absolvição.

Se em profissões mais especializadas estes conselhos já não exercem seu papel de uma forma geral, o que pensar de um órgão que regulamenta uma profissão eminentemente social/humana e que não tem muito poder de coibir o exercício ilegal da profissão? Apenas arrancar alguns cobres daqueles que necessitam dos registros.

Lembro aos leitores que sequer programa de descontos ou benefícios estar associado ao Corecon me proporciona. Pelo menos na última vez em que consultei o site da identidade o único benefício oferecido era um convênio com uma instituição de ensino para cursos – e nada mais. Convenhamos, muito pouco.

Também na referida conversa mencionei que na prática a única vantagem que tinha era a de usar como identidade a carteira do órgão, o que me permitiu estampar a expressão “não doador de órgãos e tecidos” na mesma. Ainda esta vantagem irá acabar com a adoção próxima da carteira de identidade unificada para os próximos anos.

Voltando ao assunto, recebi vários tweets me perguntando por que sou não doador de órgãos. Deve-se, basicamente, a dois motivos.

O primeiro não irei explanar de forma detalhada aqui: é o religioso. Cada religião tem sua crença e não é meu papel aqui ficar influenciando o leitor: é questão de Fé, de doutrina e assim como tenho a minha, respeito as demais religiões e suas doutrinas, ainda como àqueles que não professam qualquer tipo de Fé.

A segunda é a seguinte: do jeito que é o nosso país, para “apressarem” uma morte cerebral após um acidente (toc toc toc) ou coisa do gênero a fim de haver a retirada dos órgãos não vai custar. Não serei eu a decidir eventualmente se máquinas devem ou não ser retiradas, não serei eu a tomar parte em decisões que envolvem o prolongamento da minha vida e neste mundo onde o dinheiro impera não seria nada inusual um profissional médico declarar minha morte cerebral apenas para retirar os órgãos e repassá-los.

Além do mais, venhamos e convenhamos: com raras exceções, os pacientes que recebem órgãos tais como coração ou fígado acabam tendo suas sobrevidas muito pouco acrescentadas com um órgão novo.

Retomando, a verdade é que estes órgãos profissionais, pelo menos a maioria deles, cumprem um papel muito aquém do que seria o esperado originalmente. Na prática a maioria deles funciona como órgãos burocratizantes e aspiradores de recursos financeiros dos profissionais sem qualquer espécie de retorno que não seja o de “permitir” que se trabalhe. E que fique claro: só pago porque sou obrigado.

Em tempo: nunca vi ninguém do Corecon defender a nossa classe do vilipêndio praticado por alguns jornalistas ou das barbaridades perpetradas na imprensa por uma parcela de jornalistas metidos a economistas – e que só falam bobagem. Não preciso citar nomes: o leitor sabe a quem me refiro.