Excepcionalmente nesta segunda feira, véspera de Natal, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloísio Villar, traz uma mensagem de Natal aos leitores.
E por falar em saudade
Para início de conversa. Se você está lendo essa coluna isso significa dois sinais. Um é que você tem nada pra fazer, já que hoje é véspera de Natal e está de frente a um computador. Que tal levantar e ajudar as pessoas?
A segunda é que o mundo não acabou sexta-feira. Que alívio… Ou não, caso você tenha detonado o cartão de crédito.
Como eu disse acima hoje é véspera de Natal. Dia do nascimento de Jesus Cristo – também de Joel Santana, mas esse não vamos levar em consideração.
Um dia que estamos com a sensibilidade mais à flor da pele. Reunimos a família, colocamos Simone para tocar, rabanada, pernil, peru na mesa, as crianças esperam por Papai Noel e aquele cunhado que você não gosta bebe demais, começa a falar besteiras e a noite feliz vira de guerra.
Mas principalmente: um dia de saudade.
Muita gente não gosta do mês de dezembro, principalmente depois do dia quinze. A programação da TV fica chata, o futebol de férias e muita gente torce o nariz para Natal e ano novo.
Muita gente do nada vira socialista. Culpam o pobre Papai Noel por mazelas como crianças pobres não receberem presentes e xingam as pessoas que em vez de enaltecer aquele que devia ser o homenageado da noite preferem correr para shopping center e demais lojas para compras desenfreadas.
Entretanto, a verdade não é essa. Vocês já viram alguma criança não gostar de Natal? E não é apenas porque recebem presentes, porque no dia do aniversário e no dia das crianças também recebem.
Elas gostam porque tem menos motivos para saudades que adultos.
Normalmente, quando cresce o ser humano sempre acha que quando era criança a vida era muito melhor. Ontem mesmo vi algumas coisas na internet relativas ao início de 1991, e por alguns segundos senti saudades. Depois pensei “está louco? Foi uma das piores fases da sua vida”. O ser humano tem lembranças: vive delas.
A gente quando envelhece vira refém de nossas lembranças.
E o adulto quando chega à fase de Natal, vê o anúncio do show de Roberto Carlos na TV, as árvores de Natal, as antigas canções natalinas e se lembra da sua infância. Lembra de Natais que passou, casas que morou, pessoas que estavam, a época que aquilo foi vivido. A coisa é muito mais abrangente que o Natal: envolve toda uma fase da vida.
Pior é quando existem perdas. O adulto geralmente já perdeu alguém querido. Seja pela distância que o tempo impõe ou mesmo pela morte e isso dói mais ainda. Você olhar para o sofá de casa, a cadeira na mesa, ouvir as risadas, a hora do brinde e sentir que está faltando uma pessoa.
Eu passo por isso tudo que descrevi acima. Tive Natais maravilhosos aqui em casa quando criança, a mesma casa que vivo até hoje – e a única pessoa que restou daquele tempo sou eu.       
Meus tios casaram-se e seguiram suas vidas, minha avó foi morar em outra cidade, minha bisavó e minha mãe morreram. Minha bisavó pouco depois do melhor Natal de minha vida. Ainda criança com a casa cheia onde eu e outras crianças quebramos o sofá de tanto pular nele e eu descobri que o Papai Noel era o motorista da minha escola.
A vida passa, a gente cresce. A casa ficou vazia e nenhuma dessas pessoas estará aqui hoje. Sim, seria motivo suficiente pra me deprimir passar a data sem essas pessoas e sem outras que conheci ao longo da vida e queria muito, mas muito mesmo que estivessem aqui. Mas a vida nos distanciou de forma definitiva. Só que não adianta chorar. Sorrir, é preciso sorrir.
Outras pessoas chegaram. Uma nova família foi criada e pessoas importantes para mim, tanto quanto aquelas que ficaram no passado e mais.
Agora tem a Bia. No auge da sua maturidade de três anos de idade que todos os dias vai à janela ver se o Papai Noel deixou o seu presente. Posso garantir uma coisa a você que não é pai ou mãe ainda. Mais gostoso que correr para abrir um presente de Natal é ver nosso filho correr para abrir.
Ok, você se esforça, gasta às vezes uma grana que não pode e quem leva o mérito é Papai Noel, mas é gostoso demais. A renovação da vida, a nossa perpetuação.
Escolhi esse nome para a coluna porque me remete a duas situações. A música de Vinicius de Moraes e ao título do enredo da Caprichosos de Pilares em 1985. A música e o enredo ficaram no passado remoto: na minha infância onde minha avó e minha mãe ouviam a música e eu na frente da TV assistindo aos desfiles com a curiosidade de um garoto.   
Saudade não tem que ser uma coisa necessariamente ruim. Mesmo de um ente querido que morreu. Pode ser um orgulho também, uma alegria por ter vivido todos aqueles momentos.
A saudade pode ser uma celebração.
Então na hora do brinde, seja com champanhe, cerveja, vinho, sidra ou mesmo guaraná erga o copo ao céu e celebre também com aquela pessoa que não está mais aqui.
Desarme-se contra o Natal. Lembre-se que ele não tem culpa de nossas tristezas e fracassos e principalmente, lembre-se do aniversariante do dia. Jesus Cristo é tão bacana que quando nasce ganhamos presente e, na data de sua ressurreição, chocolate.
Agindo assim será atingido pelo espírito de Natal. Sim ele existe e quando olhar no espelho verá aquela criança perdida e feliz que você deixou em algum lugar do passado.
A coluna acabou, desligue o computador e vá celebrar com aqueles que ama.
Feliz Natal!!