Após uma semana ausente outra vez por motivos logísticos – tenho escrito e editado a maioria dos posts de um computador que não tem acesso ao Youtube – nossa faixa musical retorna um pouco diferente nesta semana.
Já escrevi aqui em outra ocasião que pouco tenho visto TV ultimamente. Além dos meus afazeres diários ando com pouquíssimo tempo e especialmente paciência para sentar diante de uma TV e conferir a programação.
Isso significa que às vezes perdemos boas atrações disponíveis. Uma delas é o “Samba na Gamboa”, apresentado pelo cantor Diogo Nogueira na TV Brasil, às terças feiras.
Pesquisando no YouTube achei este programa sobre a Portela, exibido dia 6 de março, duas semanas antes do carnaval. Com as presenças de Monarco e do compositor Noca da Portela – este em foto comigo ao final deste post, a edição deslumbra algumas histórias sobre a escola e sobre seus sambas, além de mostrar sambas de enredo e de exaltação.
Há algumas revelações surpreendentes.
A primeira é de Monarco, ao afirmar que Antonio Caetano, quando desenhou a águia, na verdade originalmente havia pensado em um condor. Monarco também altera a versão corrente de que o Delegado Dulcídio Gonçalves havia determinado a troca do nome da escola de “Vai Como Pode” para “Portela” a fim de renovar a licença necessária naquela época. Na versão do compositor o delegado sugeriu o nome aos dirigentes e foram estes que optaram pela troca.
Monarco também demonstra toda sua mágoa com a decisão da escola de entregar o samba de 74 aos consagrados compositores Jair Amorim e Evaldo Gouvêa, que não eram da escola – sequer autores de sambas de enredo eram.
Ao citar o grande Paulo da Portela Monarco se utiliza de uma expressão que a mim pessoalmente me soa mal, de que ele “civilizou” o samba. Compreendo o contexto em que tal expressão é utilizada, mas particularmente não gosto.
Para os leitores leigos, a decisão de preterir os compositores da Portela e dar o samba à dupla abriu uma crise sem precedentes na azul e branca, com o afastamento de figuras como o próprio Monarco, Paulinho da Viola, Zé Ketti e Candeia.
Noca da Portela conta um pouco de sua história e de como era a “prova” para passar a fazer parte da ala de compositores da Portela. Ele teve de fazer um samba em seis horas e apresentar a Candeia, então presidente da ala, a fim de ser avaliado e aceito. Noca conta que elaborou duas composições “por via das dúvidas”.
Igual aos dias de hoje, onde basta a vontade de gastar alguns milhares de reais para passar a fazer parte de uma ala de compositores de uma escola de samba carioca – não é um fenômeno restrito à azul e branca. Talento é acessório.
Me impressionou também a marra do veterano compositor, que em dado momento se queixa de que fez seis sambas vencedores para a Portela e nunca foi campeão, ao contrário de Paulinho da Viola “que fez um apenas e conquistou o título”. O compositor depois se corrige e diz que “tem de respeitar” Paulinho…
Aliás, fazendo um parêntese, fiquei muito contente de ter ouvido na quadra da escola na última quarta feira o samba de 1985, de autoria do compositor. Fecha o parêntese.
Chamou-me a atenção, também, o fato de que todos os compositores citados como “da nova geração” da Portela serem mais velhos que eu – a maioria na casa dos 50 anos de idade. A exceção é Ciraninho, mas lembremos que originalmente ele é oriundo da União da Ilha. São citados nomes como Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo e Serginho Procópio, além dele.
Monarco também conta a história da fundação da Velha Guarda Show da Portela, entre 1970 e 71. Aliás, recomendo aos leitores a audição do cd “Portela, Passado de Glória”, fruto deste trabalho inicial e que tinha como objetivo básico registrar sambas antihgos que estavam se perdendo.
Entre depoimentos e sambas, o programa tem 52 minutos. Vale muito a pena para se conhecer um pouco da cultura brasileira e da história da Portela em especial. E se deleitar com os sambas da Majestade.
Bom final de semana.