Na coluna Orun Ayé de hoje, o compositor Aloísio Villar fala um pouco do novo sucesso das telenovelas brasileiras, “Avenida Brasil” – além de ‘cavar’ o samba de sua autoria na União da Ilha.
O País Das Novelas
Sábado dia 21 de julho de 2012, 21 horas.
Normalmente em um horário desses as ruas “bombam” com gente saindo de casa para se divertir. Mas não nesse dia: as ruas estavam desertas.
Quem estava na rua procurava por uma televisão. Em bares, restaurantes e mesmo na rua todos prestavam atenção no que se passava na telinha.
Uma final de campeonato claro…
… Não, não era. Era uma novela.
Todos, homens e mulheres, velhos e crianças se acotovelavam na frente da televisão e se espantavam em redes sociais com a cena em que a personagem Nina da atriz Debora Falabella era enterrada viva por Adriana Esteves, exuberante no papel da vilã Carminha.
A novela se chama Avenida Brasil, escrita por João Emanuel Carneiro, um sucesso de crítica e público.
Mas por que isso ocorre?
João Emanuel Carneiro, ou JEC como é conhecido nas redes sociais, é um escritor moderno. Começou no cinema sendo roteirista de filmes como “Orfeu” e o consagrado “Central do Brasil”. Fez novelas interessantes como “Da cor do pecado” e “Cobras e lagartos” para o horário das 19 horas e então galgado ao horário nobre.
No novo horário escreveu a novela “A favorita” com uma situação diferente do que se espera delas. Até quase metade da novela não se sabia quem era a mocinha e a vilã entre os personagens de Patrícia Pillar e Cláudia Raia.
A novela foi um grande sucesso: o maior dos últimos anos do horário, assim como suas duas das 19 horas se destacaram entre as maiores audiências do horário dos últimos dez anos.
Até que veio Avenida Brasil.
Avenida Brasil tem algumas situações por traz dela. A primeira que a novela é um gênero que parecia cansado. A falta de renovação nos autores e na linguagem fez com que se tornasse repetitiva. Os grandes novelistas como Gilberto Braga, Gloria Perez, Manoel Carlos, Benedito Ruy Barbosa, Silvio de Abreu parecem acomodados, cansados. Já estão consagrados e já ganharam dinheiro suficiente pra viver muito bem.
A última novela foi “Fina Estampa” de Aguinaldo Silva, outro grande nome do gênero. Ele fez uma novela popular, com bons índices de audiência, mas fraca, algumas vezes risível e que não conseguiu agradar.
Aí na reta final dos embates entre as personagens Griselda e Teresa Cristina (respectivamente Lilia Cabral e Christiane Torloni) que algumas vezes lembravam as brigas de dona Florinda e seu Madruga do seriado Chaves começaram as chamadas de Avenida Brasil.
As chamadas já impressionavam. A história de vingança de uma moça que criança foi abandonada em um lixão já despertava a curiosidade do público pela temática diferente. Assim ansiosamente o telespectador esperou o fim de Fina Estampa – que terminou como filme pastelão – esperando a tal novela do lixão.
E João Emanuel Carneiro, considerado por alguns o ‘Paulo Barros’ das novelas, deu uma de Joãosinho Trinta e transformou o lixo em luxo.
Por que essa novela é um sucesso?
Primeiro porque o autor da história consegue colocar nas telas o maior acontecimento nacional da atualidade. Dias Gomes em “Roque Santeiro” mostrou a religião utilizada em fraude e questões políticas. “Vale Tudo”, questões sociais, a falta de limite ético, a corrupção e “Avenida Brasil” mostra a classe C indo ao paraíso: pessoas que subiram na vida vindas da pobreza.
Fora isso, direção irrepreensível, ótima fotografia e atuações espetaculares como de Adriana Esteves, Débora Falabella, José de Abreu, Vera Holtz e Marcelo Novaes entre outros. O autor conseguiu criar uma trama em que a vilã é carismática, a mocinha não é tão mocinha assim e o embate entre as duas já entrou pra história das telenovelas. Carminha e Nina nunca serão esquecidas.
Muita gente torce o nariz para as novelas, tratam como subcultura e alienação. Eu não concordo. Dou minhas rabiscadas e penso que escrever uma novela é mais difícil que escrever um filme ou um livro.
Um livro você escreve com umas duzentas, trezentas páginas, um filme com cento e cinquenta, uma peça de teatro com umas sessenta. Uma novela são cinquenta páginas por dia.
Contando que uma novela tenha mais de duzentos capítulos pode chegar a dez mil páginas!! Imagine você ter que manter uma história com qualidade por dez mil páginas!!
A desvantagem da novela em relação a outras formas de entretenimento é que ela perece. Um livro de Machado de Assis é lido até hoje, como peça de Shakespeare é encenada, “E o vento levou” assistido e Noel Rosa ouvido.
Mas novela quando sai do ar acaba. No máximo depois passa no “vale a pena ver de novo” e agora no “Canal Viva”. Há que ser uma novela boa demais pra sobreviver na lembrança das pessoas e essa parece que vai ficar.
Como algumas ficaram provando que o Brasil é o país das novelas.
Desde “O direito de nascer”, passando por “Beto Rockfeller”, “Irmãos Coragem”, “O bem amado”, “Gabriela”, “Saramandaia”, “O astro”, “Pecado capital”, “Dancing Days”, “Guerra dos Sexos”, “Roque Santeiro”, “Que rei sou eu?”, “Tieta”, “Vale Tudo”, “Barriga de aluguel”,  “Mulheres de areia”, “Renascer”, “A viagem”, “O rei do gado”, “Pantanal”, “Kananga do Japão”, “Xica da Silva”, “A próxima Vítima”, “Terra Nostra” e “A favorita” entre outras..
Agora, “Avenida Brasil”. O brasileiro ama novelas, seus atores, histórias e personagens, não é a toa que será o enredo da São Clemente para o carnaval 2013.
Como disse Carminha e Nina já estão na história da cultura do Brasil assim como algumas falas suas. Isso ocorre mesmo com intelectuais torcendo o nariz achando muitas vezes que novela é coisa para empregada doméstica vendo no quartinho dos fundos. Só que como a própria novela passa, o quartinho dos fundos cresceu e agora assiste novela em tv LCD.
E saiu desses quartinhos ganhando salas, bares e restaurantes como ficou provado sábado. Então caro intelectual que ouvir um “me serve vadia” e não entender: tente descobrir porque falaram.
Porque ignorância não é ter gosto popular, é não entender e nem tentar descobrir o que ocorre a sua volta.
Oi oi oi.
União da Ilha 2013
Como vocês leitores já estão cansados de saber sou compositor de samba-enredo… oh novidade. Ontem começou a disputa na Tom Maior, escola de samba paulistana onde estou concorrendo junto com o Pedro Migão e outros parceiros.
Ontem também começou a disputa na União da Ilha do Governador onde tento o bicampeonato. O Migão postou anteontem letra e áudio do samba, mas claro, faço minha “cavada” e peço para irem até sua postagem ouvir nossa humilde obra.
Foi uma confecção tranquila de samba, com uma parceria muito competente, organizada e me sinto num momento feliz. Já conhecia Vinicius de Moraes. tanto que escrevi uma coluna sobre ele. Mas agora conheço muito mais e posso dizer que estou apaixonado pelo “poetinha”. Que história fantástica, recomendo que todos conheçam mais sobre a vida de um dos maiores brasileiros da história.
A benção, saravá, até um dia. Orun Ayé!