Após o post com os sambas do Grupo Especial – cujo CD oficial já se encontra à venda nas lojas – chegou a hora de fazermos pequena análise sobre os sambas do Grupo de Acesso A, a “Segundona” do samba. O CD será lançado na quadra da São Clemente no próximo dia 11, mas aqui já temos uma premiére. Infelizmente, nas versões que disponibilizo neste post não temos os sambas de exaltação que abrem as faixas de cada escola – uma boa idéia.

De modo geral, ao contrário do Grupo Especial temos uma safra fraquíssima, onde o solitário samba do Império Serrano sobra no meio das demais composições. Acho que é o ano mais fraco de sambas deste grupo nos últimos anos. E nem se pode colocar a culpa nos enredos, porque em um ano onde as homenagens a personalidades dão o tom – são seis homenagens em nove escolas – havia totais condições de se ter bons sambas.

Antes de passar à análise individual, queria lamentar o enxugamento que este grupo está sofrendo, no bojo de mudanças promovidas pela Riotur. São apenas nove agremiações e espera-se chegar a oito em 2014. É pouco.

Por outro lado, o desfile do dia 18 de fevereiro terá transmissão em rede nacional pelo SBT. Os direitos pertencem à Rede Globo de Televisão, que os repassou a co-irmã. Especula-se que haverá a volta do apresentador Fernando Vanucci a apresentação deste desfile.

Vamos a cada um dos sambas, de acordo com a ordem de desfile:



1 – Paraíso do Tuiuti

Campeão do Acesso B em 2011, a escola de São Cristóvão abre os desfiles este ano homenageando a cantora Clara Nunes, que se viva fosse faria 70 anos em 2012. O enredo ganhou um samba (acima) que na safra não é ruim, mas pode ser considerado uma composição abaixo do que poderia se esperar. Uma vez mais se faz presente a rima “Tuiuti / Sapucaí” no refrão final.

É uma samba até longo (35 versos), mas paradoxalmente de versos curtos.



2 – Acadêmicos da Rocinha

Embora não seja assinado, é de um dos maiores “escritórios” de composição de sambas carioca, cujo líder está em outra agremiação deste grupo. O enredo sobre as praças ganhou um samba de letra absolutamente comum e melodia batida. A “cabeça” do samba destina-se a louvar a escola em seus quatro primeiros versos.

Nada muito diferente do padrão deste “escritório”. Mais do mesmo.

3 – Estácio de Sá

A escola já partiu de um enredo insólito – a modelo e ex-Rainha de bateria Luma de Oliveira – que ganhou uma leitura bastante ampla para preencher os cinco setores de desfile e, consequentemente, um samba que fala de quase tudo – e quase nada da homenageada. Em uma safra fraca, é um dos piores.

Chamo a atenção para o refrão do meio. Além de ter uma letra que resvala no ‘trash’, a melodia é muito semelhante a do mesmo refrão do meio do samba da Beija Flor para 2012.

A meu juízo é um dos piores da história da escola. Mas é caso clássico onde os compositores não tiveram muito o que fazer.



4 – Inocentes de Belford Roxo

Assinado pelo campeoníssimo Cláudio Russo, é composição de mediana para boa mas que acaba se destacando em um ano de pouca concorrência. Se utiliza da batida expressão “sou guerreiro, brasileiro” logo no primeiro verso, mas em compensação tem uma passagem melódica de que gosto muito:

“Sinto uma brisa no ar,
O berrante a tocar e o sol a se por
E na cidade do amor
O teu branco me torna um real sonhador”

Curioso é que o enredo é daqueles que normalmente não se tem muito o que se falar – a cidade de Corumbá, no Mato Grosso.


 5 – Império da Tijuca

A agremiação do morro da Formiga, que tem um interessante enredo sobre “Utopias” assinado por uma das grandes revelações do carnaval atual – o carnavalesco Severo Luzardo – tem um samba com uma estrutura um pouco diferente da consagrada habitualmente, com uma segunda parte muito curta – apenas quatro versos. O tempo todo o samba chama o componente ao orgulho de ser da Formiga, ao “orgulho de ser tijucano”, ao “orgulho de ser Império da Tijuca”.

Peca, entretanto, pela melodia sem variações ao longo do samba. Classificaria como de fraco para mediano.



6 – Unidos do Viradouro

Fruto de uma fusão – onde uma das parcerias vencedoras teria gasto incríveis R$ 55 mil na disputa, em um grupo onde a renda de direitos autorais para serem divididos chega, se tanto, a R$ 30 mil – segue quase que ipsis litteris o modelo “10+4+10+4”, a citação do nome da escola no refrão (“Sou Viradouro”) e a dexrição da sinopse. Nelson Rodrigues merecia um samba melhor – e menos chato.

Muito abaixo do lindo samba de 2011.


7 – Acadêmicos de Santa Cruz

Em uma safra ruim, talvez seja o pior samba junto com o da Estácio. O enredo não ajuda muito, pois é uma homenagem a um radialista (Antonio Carlos) que não tem qualquer afinidade com o mundo do samba e cuja sinopse precisou recorrer à história do rádio para se completar os cinco setores de desfile. A composição, assinada uma vez mais por Fernando de Lima, é reflexo disso.

Destaque para o refrão do meio absolutamente trash, com um trocadilho de gosto bastante duvidoso entre um signo do Zodíaco e um sinônimo de “corno”:

“Fofocas da Juju, Pudica sugeriu
A simpatia pro marido que traiu
Se eu era escorpião, fui “touro” sem querer
Zora Yonara isso não pôde prever”

8 – Império Serrano

O grande samba do ano neste grupo – e, a meu juízo, atrás apenas do samba da Portela neste 2012. Arlindo Cruz teve grandes sacadas, relacionando os sambas de Dona Ivone Lara, a homenageada, à composição. E com um refrão que concomitantemente lembra os sambas de enredo antigos e as músicas da própria homenageada:

“Lara ia laia
Lara laia
Lara laia
Dona Ivone!”

Sobra e sobra longe neste grupo.


9 – Acadêmicos do Cubango

Encerrando os desfiles, a escola – que se envolveu em um imbroglio de razoáveis proporções tentando provar que houve manipulação do resultado de 2011, sem sucesso em termos de provas – tem um samba correto para o enredo sobre o Barão de Mauá, a sexta e última homenagem nesta noite.

A composição tem um verso que a meu ver é de amargar – “na arte de comerciar”. Mas como um todo é um samba correto, que não deve comprometer no desfile.

Minha opinião em termos de ordem seria a seguinte:

1 – Império Serrano
2 – Inocentes
3 – Paraíso do Tuiuti
4 – Império da Tijuca
5 – Cubango
6 – Rocinha
7 – Viradouro
8 – Santa Cruz
9 – Estácio de Sá