Neste domingo, mais uma coluna “Orun Ayé”, assinada pelo compositor Aloísio Villar (à direita na foto). Hoje Villar nos conta um pouco de sua trajetória até chegar aqui.
Um Pouco de Mim

Escrevendo a coluna de semana passada lembrei que na verdade vocês me conhecem pouco. Falei muito de minhas experiências de samba, vocês sabem um pouco da minha vida de compositor, sambista, mas sabem pouco de mim.

Nasci em 9 de agosto de 1976 em um hospital na Tijuca e fui criado na Ilha do Governador, em uma casa que tirando o meu tio Junior que mal parava aqui por viver na casa das namoradas só tinha mulheres. Minha avó Lieida a matriarca da família, minha mãe Regina, minhas tias Raquel e Rosanne e minha bisavó com  qual convivi pouco, mas foi maravilhoso. Fui o primeiro neto, o primeiro sobrinho, o primeiro bisneto, o primeiro filho e com isso muito mimado e querido.

Fui o primeiro filho e acabei sendo o único. Sou filho único. Na verdade tive uma irmã de um casamento do meu pai com outra mulher que morreu com dois anos de idade por desidratação. É uma história muito mal contada que nem eu conheço direito e nunca tive liberdade pra falar sobre com ele, tanto que só soube de sua existência depois que morreu.

Enfim, filho único e como todo filho único sonhava em ter irmãos. Pedi muito à minha mãe, enchi muito o saco dela, mas esse irmão nunca veio. Sempre achei uma pena porque teria amenizado problemas na minha vida ter com quem dividir minhas dores, como no caso da morte de minha mãe. Mas não tive esse irmão e isso me ajudou em outra coisa: desenvolver minha imaginação. Era um menino tímido que não gostava de brincar na rua e vivia trancado em casa, então precisava de minha imaginação pra brincar.

Tinha um boneco do Falcon e um tempo depois do Super Homem e com eles criava histórias. Acho que isso ajudou muito para o que sou hoje.  

Outra coisa que me ajudou muito na minha formação foi o lado cultural de minha família. Minha avó Lieida é uma pessoa muito culta, que me levava a cinema, teatros, comprava livros para mim e eu adorava. Tenho um gosto musical diferente também. Eu acordava todas as manhãs com minha avó ouvindo Julio Iglesias, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Agnaldo Timóteo… Eu odiava e reclamava muito, mas hoje quando ouço algo desses artistas me comovo e tenho imenso carinho por eles. Hoje digo que minha avó me deu formação cultural e minha mãe me apresentou o amor.

Voltando ao assunto da imaginação eu era grande fã do seriado “Armação Ilimitada” que passou nos anos 80 na Rede Globo e no começo de 1986 resolvi criar histórias em quadrinho da série. Eram histórias pueris, inocentes, criadas por uma criança de nove anos, mas até que eu gostava e tinham qualidade pra uma criança daquela idade. Escrevi essas revistinhas até 1988 e posso dizer que ali tudo começou. Vinte e cinco anos atrás. 

Em 1989 comecei a escrever pequenos roteiros com cinquenta, sessenta folhas escritas a mão. A galera do colégio gostava e sempre pediam pra ler, minhas redações faziam sucesso também, mas eu ainda não tinha visto isso como vocação. Também gostava de escrever músicas, mas a primeira música que escrevi e lembro até hoje vem de 1991, quando me apaixonei por uma menina do colégio que sou amigo até hoje. Mas a música é muito ruim e ninguém nunca, nem ela, ouvirá. Apesar dela saber que a primeira música que fiz na vida foi para ela e se honrar disso.

Mudei-me pro Mato Grosso em 1992 e fiquei lá até 1995. Nesse período escrevi alguns desses roteiros e algumas músicas. Infelizmente tanto os roteiros quanto as revistinhas da Armação Ilimitada se perderam na viagem de volta ao Rio, assim como fotografias. Tenho poucas fotos de quando era criança. Esse caso as vezes até ajuda, pois me livra dessa vergonha de me verem criança.

Aos poucos abandonei os roteiros e me dediquei à música. Escrevia rock e sonhava em ter uma banda, mas nunca aconteceu nada até que em 1997 houve a história que já contei muitas vezes aqui sobre ver na coluna de um jornal diário a entrega do enredo “Fatumbi, a Ilha de Todos os Santos” da União da Ilha pro carnaval 1998. Vi no samba uma oportunidade de exercer minha escrita, mostrar para os outros o que eu escrevia e isso vai fazer quinze anos ano que vem. Considero marco inicial da minha vida como escritor a data de 19 de julho de 1997 quando pela primeira vez fui a uma quadra de escola de samba apresentar um samba concorrente.

Primeira vez que algo que escrevi foi a público. Apesar que em 1996 escrevi um artigo que o jornal Ilha Notícias gostou e publicou. Deu orgulho ler o jornal no domingo e ver minha coluna. Nunca abandonei de vez os textos, o meu lado contador de histórias. Escrevi um livro em 1998, outro em 2001, os quais salvei em disquetes que se deterioraram com o tempo. Então nesse ano de 2011 resolvi refazer esse de 2001 e ficou muito melhor.

Fiz esse, terminei mais um e estou escrevendo um terceiro em um ano altamente produtivo como compositor, onde ganhei três sambas de enredo, inclusive na União da Ilha, exerci meu lado escritor com três livros e virei pela primeira vez colunista de um blog.

Esse, o Ouro de Tolo.

Mas não posso negar que o lado escritor que me deu mais dividendos e orgulho até hoje foi o samba. Eu era conhecido pela família de minha mãe e amigos da família por Aloisinho, já que tenho o mesmo nome do meu avô, o ‘coronel’ Villar e meu tio Junior e pela família de meu pai e amigos dele era chamado de Chininha, devido ao apelido de meu pai: China.

Graças ao samba deixei de ser Aloisinho, Chininha e virei Aloisio Villar. Esse é o nome com o qual assino meus sambas. O mesmo nome de meu avô e meu tio, escolhendo o sobrenome materno para nome artístico. Sempre gostei do nome Villar.

E foi assim que as pessoas me acompanharam desde 1997. Acompanharam meu crescimento como pessoa e compositor, minhas vitórias, derrotas e empates – já que virou moda no samba.

Costumo dizer que o Aloisio Villar é o meu melhor personagem criado até hoje, porque como eu disse aqui antes eu sempre fui péssimo nos esportes, o último sempre a ser escolhido, sempre fui tímido de sentar na última cadeira e não ser muito de papo, não brincava muito na rua e quando ia me zoavam, não tinha jeito nenhum com mulheres.

Todos os meus projetos, todas as idéias que tive, como abrir um fliperama, um bar com minha mãe, mesmo montar um clubinho com as crianças da rua ou me filiar no PDT pra ser candidato a vereador deram errado. O meu primeiro e único projeto que deu certo foi o de compositor de samba-enredo, o Aloisio Villar.

Porque eu olho pra trás hoje e sinto orgulho de tudo que construí no samba, de tudo que ele me deu e me proporcionou. Virei adulto dentro do samba, conheci alguns dos meus melhores amigos dentro do samba. No samba deixei de ser tão tímido e já não fui tão rejeitado por mulheres. O samba me mudou.

Além das vitórias, que não eram tão comuns em minha vida na infância e adolescência. Fiz 86 sambas de enredo pra escolas de samba até hoje com 54 finais e 27 vitórias e consegui vencer nas escolas que sonhava. Somando sambas para bloco e sambas de terreiro foram mais 25 disputas: 22 finais e 9 vitórias.

Ganhei os maiores prêmios do carnaval: o Estandarte de Ouro e o S@mbaNet. Não posso usar agora de falsa humildade e falar que essa carreira não está dando certo. A falsa humildade é pior que a arrogância porque ela é usada para enganar os outros e não reconhecer que tenho um rumo vitorioso é tratar com desdém tudo que consegui até hoje.

Que é pouco, quero muito mais.

Não me considero um cara marrento, mascarado, metido. Acho que trato bem a todos e sei reconhecer quando se saem melhor que eu, o que não é raro de ocorrer. Sei de minhas limitações como ser humano e como escritor e por isso sei das minhas qualidades também. Conhecer suas qualidades e defeitos é um bom passo pra alcançar um objetivo. E meus objetivos são ambiciosos como escritor e na vida. Quero transformar aquele garoto tímido e solitário que escrevia revistas em quadrinhos em um cara vitorioso e feliz.

Até porque qual a graça dessa vida se não é tentar ser feliz?

Bem, esse sou eu, espero não ter desapontado. Sou passional, sou visceral, quando amo eu amo mesmo, quando estou triste sofro. Choro quando estou feliz, quando estou triste, sou aquele que posso ser seu melhor amigo, seu melhor amor e te surpreender em um gesto de carinho como posso falhar com aqueles que mais amo.

Irônico, sarcástico, debochado, explosivo que sabe ofender e ferir como ninguém com palavras, amoroso, carinhoso, romântico. , mal humorado, bem humorado… mil pessoas em uma só, uma metamorfose ambulante.

Prazer, meu nome é aloisinho, chininha… Aloisio Villar.

Orun Ayé!